Os problemas de saúde relacionados com o consumo de substâncias psico-activas são um motivo de consulta cada vez mais frequente em Medicina Geral e Familiar. 
Estes consumos, quer de substâncias legais (Tabaco e Álcool), cada vez mais de substâncias ilegais (Opiáceos, Cocaína e Canabinoides) e mais grave ainda por policonsumos, têm contribuído para o aumento da morbilidade e mortalidade por problemas associados por infecção por VIH e Hepatites. Estes consumidores exigem, cada vez mais, respostas mais diferenciadas dos cuidados de saúde locais, assim como a mobilização dos recursos das comunidades, no combate a esta epidemia.
Os Centros de Saúde (CS) e as Unidades de Saúde Familiares (USF) são serviços de saúde organizados para a prestação de Cuidados de Saúde Primários. Estes assumem na sua essência três aspectos fundamentais: acessibilidade, abrangência e sustentabilidade.
O Médico de Medicina Geral e Familiar (MGF) é responsável pelos utentes da sua lista, numa relação personalizada e continuada, independentemente da raça, sexo, idade, opção religiosa ou patologia. Decorrente desse relacionamento, tem um conhecimento privilegiado desses utentes assim como dos seus recursos sociais e familiares. Abordando e integrando todas as situações numa perspectiva Bio-Psico-Social.
Função do Médico de Medicina Geral e Familiar
Ao MGF compete estar preparado para dar a primeira resposta a todas as situações, quer pela acessibilidade, quer pela proximidade e conhecimento do indivíduo, da família e da comunidade.
Além da primeira resposta, poderá depois orientar os utentes através de uma rede de articulação / referenciação, para outros colegas ou serviços públicos ou privados, se não tiver recursos ou formação para resolver o problema em causa.
O MGF também deve, para lá da manutenção do tratamento psicofarmacológico, autónomo ou por administração direta, com o apoio da equipa de enfermagem, promover a mudança dos estilos de vida, dos comportamentos, fazer a integração social, familiar e no trabalho, com apoio dos Serviços Sociais, Autarquias e outras entidades empregadoras. Apoiar na promoção a criação e apoiar grupos de auto ajuda e de integração na comunidade. Ajudar a reorganizar dos seus tempos livres e a sua área relacional.
A abordagem das situações de dependência, além de conhecimentos exige também segurança e aptidões que terão de ser adquiridas com formação específica, para todos os profissionais dos CSP (Médicos, Enfermeiros, Psicólogos e Técnicos do Serviço Social).

Tratamento
O tratamento de manutenção opióide deve ser de longa duração (vários anos), enquanto for útil para o doente, com posologias suficientes e adaptadas a cada situação, acompanhadas de suporte psicossocial, uma boa relação terapêutica e tratamento das comorbildades.
Reconhecer que para além do sintoma de consumo ou de privação existe muitas vezes outra patologia ou sofrimento mental que é preciso ser tratada, até para prevenir a recaída. 
O tratamento das dependências não é só farmacoterapia as medidas complementares de natureza Psico-Social são também determinantes no êxito dos resultados e na prevenção das recaídas.
Na minha opinião as situações de toxicodependência devem pertencer, em primeiro lugar, em primeira linha, aos Cuidados de Saúde Primários. É ao Médico de Família e á sua equipa, o enfermeiro de família, os outros profissionais que trabalham no Centro de Saúde as pessoas que á partida deveriam ser os responsáveis pelos utentes toxicodependentes da sua comunidade.
O acesso à medicação deveria também ser mais equitativo, o acesso aos tratamentos mais seguros, com melhor tempo de indução e estabilização, com melhor perfil ao nível das interacções medicamentosas, deveriam ter a mesma comparticipação da Metadona, por serem menos tóxicos, mais fáceis de manusear e com menor risco de mau uso e desvio, como é o caso da associação Buprenorfina /Naloxona.
Por Adelino Dias, Assistente Graduado Sénior de Medicina Geral e Familiar do Centro de Saúde da Povoação, Açores