«Não há um padrão de funcionamento intestinal igual para toda a gente», indica a Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, embora em geral a frequência seja inferior a três vezes por dia e superior a três vezes por semana.

Esforço excessivo, manobras digitais, menos de duas ou nenhumas evacuações por semana ou alterações recentes no funcionamento intestinal correspondem geralmente a prisão de ventre.

Estes sintomas estão associados a mal-estar, desconforto abdominal, emissão de fezes duras e fragmentadas. As fezes são a parte dos alimentos não assimilada e quanto mais tempo permanecem no intestino mais diminuem de volume e endurecem, resultando em obstipação. Alguns medicamentos, doenças metabólicas ou neurológicas ou patologias do intestino ou do ânus podem estar na sua origem. Mas também pode apenas dever-se ao funcionamento lento ou pouco eficaz do intestino.

Conheça as estratégias que a homeopatia, a acupuntura e a naturopatia propõem para melhorar este problema:

Homeopatia

As fórmulas homeopáticas atuam no organismo pelo princípio da semelhança. «O medicamento que provocaria obstipação numa pessoa saudável será indicado no caso de quem tem sintomas de obstipação. Vai estimular o seu sistema de cura. Funciona como duas forças/informações semelhantes que se anulam», explica Rui Pinto, homeopata. Os medicamentos homeopáticos são resultado de um processo de fabrico especifico (realizado em laboratórios que têm como responsáveis farmacêuticos) e são apresentados em grânulos e frascos de gotas.

A farmacopeia homeopática conta entre três a cinco mil remédios, existindo muitas opções para a obstipação. «Bryonia alba tem indicação para mucosas secas, sede e fezes volumosas; natrum muriaticum e silicea têm indicação para fezes fragmentadas; e collinsonnia tem indicação para hemorroidas», exemplifica o homeopata. «Normalmente são diluições 5 CH (escala centesimal de Hahnemann) e a posologia mais comum são dez gotas, diluídas num copo de água, três vezes ao dia ou três grânulos, três vezes ao dia», descreve.

Desconhece-se exatamente o modo como atuam, sendo esta «a grande crítica feita à homeopatia. A evidência da homeopatia são os resultados», diz Rui Pinto. O tratamento, realizado em média durante três meses, «deve ser feito sob supervisão de um profissional qualificado e implica corrigir hábitos alimentares, nomeadamente ao nível do reforço da hidratação», acrescenta. Cada medicamento custa, em média, quatro euros, sendo o custo médio do tratamento cerca de 20 euros.

Acupuntura

«Os efeitos terapêuticos da acupuntura são obtidos quando, através da inserção de agulhas sólidas e extremamente finas nos tecidos (normalmente a pele os músculos), o seu médico consegue modular o funcionamento do sistema nervoso, do sistema endócrino, do sistema imunitário e das glândulas exócrinas», explica o site da Sociedade Portuguesa Médica de Acupuntura.

Segundo a mesma fonte, a estimulação das terminações nervosas «vai desencadear uma série de processos neurológicos a nível da medula espinal e do cérebro».

Esses órgãos são responsáveis pela ação terapêutica da acupuntura. «A acupuntura pode ser usada nos casos em que a obstipação não decorre de doença, da ação de medicamentos ou de interações medicamentosas», indica Hugo Pinto, médico de Medicina Desportiva. Devem ser realizados exames laboratoriais e imagiológicos para se apurarem as causas da obstipação.

«Após chegarmos à conclusão de que podemos utilizar a acupuntura para atuar no tubo digestivo e tratar ou melhorar a obstipação», conta Hugo Pinto, «vamos estimular os segmentosneurológicos correspondentes através de eletroacupuntura», esclarece. Trata-se de uma «abordagem contemporânea ou neurofuncional, baseada na anatomia, neuroanatomia e fisiologia, para estimular os segmentos neurológicos correspondentes ao tubo digestivo e tratar a obstipação», refere.

«O efeito é tanto melhor quanto mais precisa for a avaliação dos segmentos neurológicos afetados e da electroestimulação necessária para as agulhas terem um efeito efi caz e duradouro. O tratamento é feito em consultório, uma vez por semana e dura entre uma a duas horas, sendo necessárias quatro a oito sessões, dependendo do diagnóstico», esclarece Hugo Pinto. Cada sessão custa entre 40 e 90 euros.

Naturopatia

Estas são as opções indicadas para «casos de obstipação associados ao funcionamento lento ou ineficaz do intestino ou ao mau
funcionamento da vesícula biliar», indica João Beles, naturopata:

- Ágar-ágar
Esta
alga comestível contém mucilagens (fibras) que facilitam o trânsito
intestinal. Pode ser usada em gelatinas, pudins ou sopas e consumida uma
vez por dia.

- Ameixas
Contêm fibras
(principalmente pectina) e sorbitol, um açúcar natural que aumenta a
retenção de água no intestino, suavizando o trânsito intestinal.

- Aloé vera
A sua casca, o látex, contém derivados hidroxiantracénicos (aloínas, aloinósidos, aloeresinas), utilizados como laxativo pela indução de movimentos peristálticos. Pode ser tomado sob forma de xarope, meia a uma colher de sopa ao almoço e ao jantar.

- Sementes de linhaça
São um laxante suave mas eficaz. Pode-se juntar uma colher de sopa aos cereais integrais do pequeno-almoço ou deixar
macerar uma colher de sopa de sementes num copo de água, durante a noite, e beber a maceração de manhã, em jejum.

- Alcachofra
Contém uma fibra laxativa e também trata a obstipaçãorelacionada com o mau funcionamento da vesícula biliar.

- Figos
Podem consumir-se em SOS, dois a cinco no final da refeição, frescos ou secos: espalmam-se dois, cortam-se em forma de estrela, colocam-se metades de amêndoas peladas no interior e levam-se a tostar no forno.

Lembre-se ainda que ingerir alimentos ricos em fibra, fazer exercício e beber água é essencial para combater a prisão de ventre. Se sofre de doenças do intestino (como colite ou diverticulite) ou do anûs, não pode recorrer à naturopatia para tratar a obstipação.

Sinais de alarme

Os casos em que deve procurar aconselhamento especializado:

- Para avaliar se a medicação que toma agrava a obstipação.
- Se tiver perdas de sangue ou anemia.
- Se perder peso.
- Se as queixas forem recentes ou se se agravarem.

Texto: Leonor Macedo com Rui Pinto (homeopata e professor no Instituto de Medicina Tradicional de Lisboa), Hugo Pinto (médico de medicina desportiva com competência em acupuntura) e João Beles (naturopata e professor no Instituto de Medicina Tradicional de Lisboa)