Estudos recentes sugerem uma forte relação entre a síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS) e as doenças cardiovasculares, sendo estas complicações da SAOS não tratada. 
O risco de mortalidade por doenças cardiovasculares nestes doentes, quando não tratados, é muito elevado, mesmo nas situações em que outros fatores de risco para as doenças cardiovasculares estão controlados, como por exemplo, o tabagismo, as dislipidémias, o colesterol elevado, a pressão arterial alta e a obesidade.
A SAOS consiste numa doença respiratória caracterizada por colapsos intermitentes e repetidos das vias aéreas superiores, durante o sono, que resulta numa respiração irregular e micro-despertares frequentes durante a noite, em que na maior parte das vezes os doentes não estão conscientes destes despertares. 
Os eventos obstrutivos provocam pausas respiratórias (apneias) durante o sono, com uma duração superior a 10 segundos e que se podem repetir mais de 5 vezes por hora. Essas pausas originam uma diminuição acentuada do oxigénio e também o aumento do dióxido de carbono no sangue.
Os eventos obstrutivos e a consequente diminuição do oxigénio no sangue estão relacionados com vários mecanismos fisiopatológicos que podem estar na génese das doenças cardiovasculares, nomeadamente: a ativação aumentada do sistema nervoso simpático, a variação acentuada da frequência cardíaca, a libertação de substâncias vasoconstritoras, os processos inflamatórios, o stress oxidativo, as alterações da função endotelial, a resistência à insulina, as alterações da coagulação e as variações da pressão dentro da cavidade torácica.
Estes são os mecanismos que podem explicar as principais doenças cardiovasculares mais frequentes nos doentes com SAOS: hipertensão arterial (HTA), doença arterial coronária (DAC), acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência cardíaca e arritmias cardíacas.
Estudos epidemiológicos sugerem que a prevalência de SAOS em doentes hipertensos varia de 22% a 62% e que a prevalência da hipertensão arterial em doentes com SAOS é de 40% a 90%. As apneias obstrutivas durante o sono provocam alterações na pressão arterial, muitas vezes com aumentos acima dos 30 mmHg da pressão arterial média. 
Relativamente à doença arterial coronária, um estudo prospectivo realizado em 2011 no Hospital Distrital de Faro e publicado na Revista Portuguesa de Pneumologia, em doentes que tinham sofrido uma síndrome coronária aguda (SCA) revelou uma prevalência de SAOS de 43,1%. De destacar que em 48% destes doentes, a sintomatologia do SCA iniciou-se no período entre as 22:00 e as 06:00 (período nocturno), sugerindo uma relação entre os eventos obstrutivos da SAOS e o SCA. 
Também na doença cerebrovascular tem sido demonstrado que o acidente vascular cerebral (AVC) e o acidente isquémico transitório são mais comuns nos doentes com SAOS, comparativamente com a população em geral. A SAOS relaciona-se com a HTA que, por sua vez, também apresenta uma forte relação com o AVC.
As arritmias cardíacas, principalmente as nocturnas, são frequentes em doentes com SAOS, estando directamente relacionadas com o número de apneias e com a gravidade da descida da saturação de oxigénio no sangue. Durante os estudos do sono é possível observar uma variação da frequência cardíaca, com uma bradicardia (ritmo lento) durante os eventos obstrutivos e uma taquicardia (ritmo rápido) durante os microdespertares. As arritmias mais comuns em doentes com SAOS são: sístoles prematuras ventriculares, taquicardia ventricular não sustida, pausas sinusais e bloqueios aurículo-ventriculares de 2º grau. 
O tratamento eficaz da SAOS permite reduzir ou mesmo eliminar o risco destas doenças cardiovasculares.

Por João Tiago Pereira, Cardiopneumologista