As mudanças hormonais, metabólicas e psicológicas que surgem à medida que o tempo passa afectam, muitas vezes, as relações sexuais. Algumas destas disfunções são tratáveis com medicamentos e terapias mas, noutros casos, basta mudar alguns hábitos e atitudes (com ajuda especializada).

Em todo o caso, e seja qual for a origem do problema, o primeiro passo está em detectar e assumir que algo não está bem.

Como a idade afecta as mulheres

A menopausa representa o fim do período reprodutor da mulher. A sua chegada traduz-se num «período crítico da sexualidade que envolve múltiplos factores que actuam, simultaneamente, de forma positiva ou negativa, favorecendo mudanças profundas ao nível da saúde emocional e fisiológica», refere Erika Morbeck,a sexologista.

E exemplifica: «Na menopausa, 50 a 70 por cento das mulheres sofrem sintomas de depressão, perturbação do sono, variação do humor, ansiedade, incontinência urinária, entre outros; 64 por cento possuem comorbilidade com patologias orgânicas (diabetes, hipertensão...); mais de 60 por cento têm excesso de peso, o que contribui para baixar a auto-estima, que também é afectada pelo medo de envelhecer, a consciência da proximidade da morte, a sensação de inutilidade, a independência dos filhos, poucas ou pobres relações afectivas...»

As mudanças de foro sexual são, portanto, o reflexo de todo este contexto que, para além das alterações hormonais, comporta igualmente um conjunto de alterações que afectam a (tão essencial) auto-estima, a par, por vezes, de problemas conjugais.

Mas estas alterações não são necessariamente más. Como refere o urologista Vaz Santos, «o resultado final será uma sexualidade diferente mas não menos gratificante». Pelo que, para que possa ser realmente satisfatória, é importante que a mulher esteja atenta às mudanças e aos problemas que podem surgir.

Disfunções sexuais

Por vezes, o sexo vai sendo deixado para segundo, terceiro, ou quarto plano por variadíssimas razões. Muitas delas fisiológicas mas outras tantas que perturbam o estado psicológico da mulher.

O urologista Vaz Santos enumera as disfunções sexuais que surgem mais frequentemente na mulher menopáusica:

- Redução do desejo sexual e da excitabilidade central devido à baixa do estradiol e, consequentemente, da testosterona livre. É o chamado desejo sexual hipoactivo.

- Diminuição da «elasticidade» da vagina, associada à diminuição da sensibilidade, permeabilidade e humidificação. É a chamada perturbação da excitação.

- Dispareunia (dor na relação sexual) e vaginismo (contracção involuntária dos músculos pélvicos que impede a penetração).

- Anorgasmia (dificuldade ou impossibilidade frequente em atingir o orgasmo). Entre estas, Erika Morbeck explica que «a dificuldade sexual mais comum é a perturbação da excitação, que corresponde à dificuldade em lubrificar. Consequentemente, há um aumento das relações sexuais dolorosas que pode contribuir para a falta de desejo. Nesta fase, a mulher começa a ter dificuldades em atingir o orgasmo».

Soluções e prevenção

Existem soluções diferentes para cada um destes problemas. Segundo Erika Morbeck, a melhor forma de tratá-los é fazendo uma «consulta periódica com o ginecologista e fazer reposição hormonal (caso lhe seja indicado)».

Também é importante fazer terapia psicológica (caso o estado de saúde física ou mental cause angústia à mulher ou ao casal) e, «em caso de incontinência urinária, será útil fazer fisioterapia para reabilitação do pavimento pélvico».

Importante ainda é tentar «manter uma vida sexual activa em casal e/ou através da masturbação», conclui. E deixa um conselho adicional: «caso tente mudanças na sua vida sexual, convém sempre procurar ajuda especializada, pois a tentativa frustrada de mudança pode agravar o quadro da disfunção».

Vaz Santos, por seu lado, recomenda a monitorização atenta da saúde ginecológica, desde «o controlo do pH da vagina, da sua flora saprófita e da eventual existência de processos inflamatórios e/ou infecciosos», associada à manutenção de hábitos de vida saudáveis. Dessa forma, «a mulher terá a capacidade de manter o desejo mais tempo ao longo da vida», assegura.

Não existe ainda à venda medicação específica para a falta de desejo. No entanto, nos EUA, já foi pedido o licenciamento para o uso de flibanserina, pelo que, segundo o especialista, a sua chegada a Portugal deve estar para breve.

Como a idade afecta os homens

Embora a andropausa não tenha uma marca temporal bem definida, é desencadeada, tal como na mulher, pela diminuição da produção de certas hormonas, em particular, a testosterona, que determina a libido masculina.

Por outro lado, como refere Erika Morbeck, «as mudanças na fase da andropausa têm consequências, por vezes, devastadoras ao nível da qualidade de vida em geral e sexual, fazendo com que os homens tenham pensamentos automáticos negativos».

Este tipo de pensamento converte-se num ciclo vicioso em que o stress e ansiedade acabam por tomar conta do pensamento, baixando a auto-estima, a confiança, o equilíbrio e, consequentemente, desestabilizando as funções
fisiológicas. Mas não é caso para desanimar.

Segundo Vaz Santos, «o desejo, o estímulo propiciatório que conduz à excitabilidade cerebral e local, vai-se modificando em função dos diferentes perfis hormonais», ou seja, vai-se adaptando às mudanças hormonais que surgem com a idade.

Disfunções sexuais

O urologista Vaz Santos aponta as disfunções que surgem mais frequentemente com a idade:

- Perda da rigidez da erecção e, portanto, da capacidade de penetração. É a chamada disfunção eréctil (vulgarmente conhecida como impotência).

- Surgimento de ejaculação precoce que, por vezes, já esteve presente em idade jovem ou como resposta a uma disfunção eréctil.

- Ejaculação retrógrada nos homens operados à próstata por doença benigna.

- Anejaculação (ausência de ejaculação) nos homens operados por prostatectomia radical devido a cancro ou doença neurológica.

Em termos orgânicos, Vaz Santos aponta duas grandes causas para as disfunções sexuais masculinas:

1. O hipogonadismo secundário (diminuição da produção de testosterona), relacionado com múltiplos factores, como os níveis elevados de colesterol e triglicéridos, o tabagismo, o alcoolismo ou a falência orgânica (dos testículos por exemplo)

2. A iatrogenia (efeitos adversos) resultante do tratamento médico de outras afecções (por exemplo, medicamentos que interferem na testosterona, diminuindo a libido, e cirurgias que alteram a anatomia, determinando, por vezes, problemas de erecção ou de ejaculação).

Para além disso, algumas disfunções sexuais podem ter, muitas vezes, uma base psicológica associada à baixa auto-estima e à falta de confiança.

Soluções e prevenção

De acordo com Vaz Santos, «todos os tratamentos que melhoram a sexualidade são terapêuticas para a disfunção eréctil». Essencialmente, são usados fármacos (sildenafil, tadalafil e vardenafil) que relaxam as fibras musculares dos corpos cavernosos e permitem a erecção ao libertarem NO2 (óxido nítrico).

«Estes medicamentos também são úteis no tratamento e prevenção da disfunção do endotélio vascular ou (camada celular interna dos vasos sanguíneos) e, portanto, tratam as fases iniciais de arteriosclerose», explica o urologista.

Simultaneamente, deve-se tratar e, sobretudo, prevenir, as patologias que podem estar na origem das disfunções sexuais, como a diabetes, as dislipidémias (colesterol e triglicéridos), o tabagismo, a obesidade, etc. Neste contexto, a promoção de estilos de vida saudável com a prática regular de exercício físico desempenha um papel fundamental. E, lembre-se que o seu médico pode sempre ajudar.

O urologista Vaz Santos relembra que é muito importante manter um «controlo médico ou bioquímico do estado funcional do corpo humano», avaliando os factores de risco de doenças determinantes para uma vida autónoma mesmo em idade avançada.

É possível manter uma vida sexual satisfatória nesta fase da vida? Os especialistas respondem que sim, na medida em que se promova uma mente sã num corpo saudável e uma boa comunicação. «A qualidade da comunicação entre o casal pode potencializar a percepção subjectiva de prazer».

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Texto: Ana Catarina Alberto com Erika Morbeck (sexologista na Pelviclinic) e Vaz Santos (urologista na Pelviclinic)