Etapa fundamental em diversos procedimentos médicos, a anestesia serve para eliminar a dor e outras sensações desagradáveis, mas para muitos ainda permanece rodeada de mistério.

Filipa Lança Rodrigues, médica anestesista, explica por que não há razões para medos.

Conheça os segredos da anestesia, aprenda quais as situações que exigem cuidados acrescidos e por que o médico deve ser sempre informado de tudo. Para que não restem dúvidas vamos abordar o tema por partes, ou seja, os três tipos diferentes de anestesia: geral, regional e local.

ANESTESIA GERAL

Na anestesia geral, o paciente está inconsciente e não tem qualquer sensação. «É como se fosse um coma profundo. Conseguimos colocar a pessoa num estado de total inconsciência, sem dor e com relaxamento muscular no corpo todo», explica Filipa Lança Rodrigues.

O que é

Engloba vários medicamentos que, combinados, diminuem a actividade do organismo. «Dividem-se em três tipos: os indutores de anestesia, os opióides, que tiram a dor, e os que originam o relaxamento muscular», esclarece. A duração será a necessária para a cirurgia, pois a anestesia é contínua até ao final da intervenção.

Quando se aplica

Pode ser utilizada em todo o tipo de procedimentos cirúrgicos.

Efeitos secundários

Praticamente não existem, actualmente. As náuseas, vómitos e alterações de comportamento fazem parte da primeira linha de investigação da anestesia.

Casos contra-indicados

Não existem. «Há situações em que são necessários cuidados específicos, mas nunca dizemos que uma pessoa é contra-indicada para se submeter a uma anestesia», afirma a especialista.

Riscos

Existem cada vez menos riscos graças aos avanços da tecnologia, da Medicina e à introdução de novos fármacos, equipamentos e melhor formação médica.

ANESTESIA REGIONAL

Na anestesia regional, a pessoa está acordada ou ligeiramente adormecida, mas facilmente despertável ao chamamento. É efectuada através da injecção de um fármaco numa determinada área nervosa, insensibilizando essa região.

«Normalmente, dá-se também um sedativo ligeiro para combater a ansiedade, pois o paciente será submetido a uma cirurgia e pode sentir-se nervoso», explica a especialista.

O que é

Tratam-se de anestésicos locais que bloqueiam a transmissão das sensações nervosas, por isso não existe dor. «O membro fica encortiçado, não sente que lhe estão a mexer», assegura a anestesista.

Pode ainda ser complementada com opióides. Dura entre duas a três horas, «mas, se a cirurgia for mais longa, deixa-se um cateter e vamos complementando», explica.

Quando se aplica

Ideal para cirurgias em extremidades do corpo como pernas, braços, parte inferior da barriga ou membros superiores. É ministrada junto dos nervos que se quer bloquear. Uma das situações mais conhecidas é a epidural.

Efeitos secundários

Podem existir lesões no nervo, mas são muito raras e transitórias.

Casos contra-indicados

As pessoas que já tenham tido um AVC, um enfarte do miocárdio ou que tomem medicamentos para o sangue não coagular não devem ser submetidas a uma anestesia regional. E também quando o doente não quer. «Existe ainda o receio de poder sentir ou ouvir alguma coisa e o paciente tem sempre primazia na escolha», afirma a especialista.

Riscos

São mínimos e muito controlados.

A epidural

Trata-se de uma anestesia regional, em que a paciente está acordada. «As mães gostam de estar conscientes, querem ouvir o primeiro choro e ver o corte do cordão umbilical», afirma Filipa Lança Rodrigues.

Nas mulheres grávidas que tomam medicamentos para a tensão arterial não se pode efectuar uma cesariana de urgência, mas em casos programados, o médico introduz substitutos dessa medicação alguns dias antes do bebé nascer.

ANESTESIA LOCAL

A anestesia local efectua-se numa determinada área do corpo, de dimensão reduzida, e com o paciente acordado. É um procedimento muito simples e normalmente efectuado pelo próprio cirurgião.

O que é

Trata-se de um anestésico local ministrado apenas nas extremidades nervosas e, por isso, só anestesia uma zona em concreto. Não há perda de movimento nem relaxamento muscular. Dura pouco tempo e se for necessário prolongar a intervenção, o cirurgião terá de reforçar o medicamento.

Quando se aplica

Esta anestesia é indicada para suturar uma pequena ferida da mão ou no braço ou para tratar um dente.

Efeitos secundários

«Pode sempre haver uma reacção alérgica, mas é uma situação extremamente rara», assegura Filipa Lança Rodrigues.

Casos contra-indicados

Não existem.

Riscos

Algumas reacções alérgicas facilmente controladas.

Filipa Lança Rodrigues esclarece...

É possível acordar durante a anestesia?

As situações de despertar ou sentir dores durante a cirurgia são muito raras. Existem monitorizações que «permitem saber o nível de inconsciência e o grau da anestesia a que o paciente está submetido», garante Filipa Lança Rodrigues.

Para além disso, a anestesia é dada de uma forma contínua ao longo da cirurgia. «Só interrompemos os medicamentos quando a cirurgia está a acabar», acrescenta.

Há um número limite de anestesias que se pode fazer durante a vida?

Não. A anestesista dá o exemplo dos doentes queimados «que, para fazer os pensos, são submetidos a anestesias gerais quase diárias».

É importante realizar uma consulta pré-anestésica?

Nos dias que antecedem a cirurgia deve ter uma consulta com um médico anestesista, fundamental para determinar o potencial de risco. O anestesista deve ser informado de possíveis alergias, medicação que toma ou complicações em cirurgias anteriores. «Face a uma situação concreta e de acordo com os fármacos à disposição e as técnicas existentes, vamos escolher o que garante maior segurança», explica a anestesista.

Texto: Raquel Amaral com Filipa Lança Rodrigues (médica anestesista)