Tinham passado três meses depois da morte repentina do irmão mais novo, Manuel, quando, muito fragilizada emocionalmente, a actriz Rita Salema, de 43 anos, teve uma queda de cabelo repentina e brutal.

Durante um ano tentou de tudo para inverter a situação mas ficou reduzida a apenas uns fios de cabelo. Até que um novo tratamento lhe devolveu o cabelo e a auto-estima, entretanto, perdida.

A queda de cabelo ou alopecia é a redução parcial ou total de pêlos ou cabelos numa determinada zona da pele. Pode ter as mais variadas causas e diferentes resoluções, conforme explica a própria Rita Salema, vítima deste problema: «Stress, desgosto, pós-operatório, gravidez, às vezes até algum medicamento, podem ser algumas das causas. E depois, tudo isto se transforma numa bola de neve porque dificilmente associamos as coisas. No meu caso, a queda aconteceu três meses depois da morte do meu irmão Manuel. Foi na altura em que acabei de gravar a série Morangos Com Açúcar [2005]. É estranho, mas não consigo lembrar-me do ano da morte do Manuel. Não quero. Para mim foi ontem. Já tive que saber a data por variadas razões e não consigo decorá-la. O Manuel morreu com um ataque de epilepsia. É assustador dizer isto porque, hoje, não se morre com um ataque de epilepsia», conta Rita Salema.

Para que aqueles que convivem com esta doença não se alarmem, Rita Salema faz questão de aprofundar o caso do irmão: «O Manuel tinha 26 anos e uma outra doença associada, que lhe foi diagnosticada muito mais tarde. Sofria de esquizofrenia e os medicamentos que ele tomava para controlar ambas as doenças não eram compatíveis. Ou seja, ele teve de retirar uma dose bastante razoável do medicamento contra a epilepsia, ficou descompensado e teve um ataque epiléptico fulminante», esclarece a actriz.

Segundo a actriz, «a raiz do cabelo demora cerca de três meses a morrer e depois de um choque emocional destes ou de outros que exemplifiquei, é que se sente a queda», explica.

Rita Salema recorda-se perfeitamente desse momento: «É muito assustador porque é muito repentino. Nessa altura estava no Algarve, estava a tomar banho e quando comecei a desembaraçar o cabelo vivi um filme de terror. Em três dias caiu-me quase todo! É quase como se tivéssemos feito uma quimioterapia».

«Fiquei sem forças e passaram-me uma série de coisas pela cabeça. Ainda por cima, não sou daquelas pessoas em que, a determinada altura do ano, me cai o cabelo. Sempre o tive fininho mas normal e, em três dias, a escova, tal como vemos nos filmes, ficou repleta de cabelos. Fiquei com fiozinhos de cabelo e nessa altura nem apareci, não gravei, não fiz nada», relembra a actriz.

Uma luta sem sucesso durante um ano

Verdadeiramente assustada e consciente da importância do cabelo na imagem de uma actriz e, sobretudo, na auto-estima de uma mulher, Rita Salema tentou de imediato lutar contra o problema. «Estive um ano a experimentar tudo, num desespero total», conta a actriz.

«O meu tio, que é dermatologista, foi o meu maior apoio. Explicou-me as razões e disse-me que tinha mesmo de acalmar. Mas antes de falar com ele, fui à farmácia e fiz o maior disparate que é gastar fortunas em loções, gotas, comprimidos, champôs… Só houve um que teve algum resultado mas causava-me enxaquecas brutais, insuportáveis, e começou a crescer-me imensa penugem na cara, nos braços. E, no dia que deixei de tomar, o cabelo voltou a cair todo. Ou seja, não fez nada.», recorda Rita Salema

«No meio disto, com a depressão causada pela morte do meu irmão e a queda de cabelo, tinha deixado de trabalhar. Na TVI foram incansáveis, chamaram-me para mais um projecto e até brincaram com a ideia de usar uma peruca. Mas, emocionalmente, estava de rastos», lembra a actriz.

«Olhava-me ao espelho e via-me como aquelas senhoras já muito velhinhas a quem se consegue ver o couro cabeludo através daqueles fios de cabelo muito fininhos. Não me sentia bem comigo, sentia-me horrível, nada feminina… O cabelo até pode ser rapado, mas por nós. E isso é completamente diferente. É uma opção e é completamente diferente dele cair contra a nossa vontade e não se ter nenhum controlo sobre isso», revela.

Uma luz ao fundo do túnel

Mas a repentina queda de cabelo não era a única causa da sua tristeza e apatia. «Obviamente que também estava deprimida com a morte do meu irmão, o que não ajudava nada. A minha opção foi ficar em casa e numa entrevista incentivaram-me a contar o porquê da minha ausência. E Deus é grande! Parece que quando se partilha acaba por se poder ajudar alguém e a nós mesmos. Quinze dias, um mês depois apareceu-me a Viviscal [suplemento alimentar natural especificamente desenvolvido para tratar a queda de cabelo]», rejubila.

No início, a actriz reconhece que não tinha quaisquer expectativas. «Pensei que era mais um produto e que mal não ia fazer. Normalmente, ter uma atitude positiva ajuda mas confesso que não estava com esse espírito e, por isso, só posso dizer que o medicamento é mesmo bom!», garante Rita Salema.

«Estava há um ano naquele estado e explicaram-me que, quanto mais cedo fosse feito o tratamento, melhor era. Já levava um ano de enorme fragilidade e má alimentação do couro cabeludo, por mais produtos que tivesse usado. Gosto muito de lençóis brancos e era horrível ver que ficavam cheios de cabelos. Arrancava o cabelo pela raiz e não sentia. Evitava pentear-me muitas vezes, evitava uma série de coisas porque o cabelo desaparecia», conta a actriz.

«Entretanto, comecei a usar a loção e os comprimidos. A loção teve um efeito fabuloso, em menos de duas semanas travou-me completamente a queda do cabelo. Como é que eu notei? Acordei e não tinha cabelos na cama». Aquele momento foi um ponto de viragem emocional: «Nunca mais me vou esquecer dessa sensação. Durante um ano, acordava, olhava para a almofada e via seis, sete, dez cabelos... E, de repente, não havia um único cabelo. Puxei o cabelo e senti-o! Fiquei numa felicidade enorme.».

«Tinham-me dito que poderia levar seis meses a fazer efeito mas, no meu caso, muito antes dos três meses já me estava a crescer o cabelo. Comecei a sentir uma comichão louca no couro cabeludo e, como tenho um colégio, até pensei que tinha apanhado piolhos. Fui ao meu cabeleireiro contar o que se passava e ele disse-me que tinha milhares de cabelos a nascerem ao longo do couro cabeludo todo. Foi a maior alegria que podia ter», recorda Rita Salema, entusiasmada.

No entanto, a actriz não esconde que as dúvidas e os receios permaneciam muito presentes: «Confesso, pensei sempre que quando parasse de tomar os comprimidos, o cabelo voltaria a cair todo. Esperei um tempo, já estava com um tamanho de cabelo confortável e parei para fazer a experiência. Até tremia e pensei que ia entrar num ciclo vicioso: ficar nervosa, cair o cabelo... Mas nada! Nunca mais me caiu o cabelo.»

«Hoje, faço muitas vezes umas doses extras até porque em televisão estou sujeita a muitas alterações de imagem e agressões ao cabelo, como o secador, o babyliss, a coloração... E a verdade é que nunca mais tive problemas», afirma, visivelmente feliz.

Um novo desgosto

Quando menos esperava e já depois de ter perdido o irmão mais novo e o pai, Rita Salema voltou a confrontar-se com a morte e a dor de uma perda repentina. Agora de João, outro irmão, vítima de um derrame cerebral. «Ele era o mais saudável de nós todos, era chef de cozinha e uma semana antes tinha feito exames e estava tudo ok».

«Nesse dia chegou a casa e disse apenas que se sentia cansado. A minha mãe encontrou-o, na manhã seguinte, deitado no chão. Ainda esteve uma semana em coma mas agradeço a Deus tê-lo levado porque teria ficado um vegetal. Tudo isto no espaço de um ano e tal, contando ainda com a morte do meu pai», conta, sem esconder a tristeza mas também a força de que é feita. «Fui buscar forças às pessoas que me rodeiam, tenho uma filha, uma mãe, outro irmão, precisamos uns dos outros e acredito piamente que eles estão bem. Sou católica, crente e acredito que a vida não acaba aqui!», afirma, sem medo.

Como seria de esperar, Rita Salema temeu que aquele desgosto voltasse a ter influências drásticas no seu cabelo. «Voltei logo a tomar o Viviscal para não correr sequer esse risco, até porque não podia deixar de trabalhar». Agora, o cabelo cresce muito mais depressa e, de 15 em 15 dias, se estiver a fazer uma novela e ele estiver pintado, tenho de fazer cor porque começam logo a notar-se as raízes. E quando parei de tomar, vi que, apesar da minha ansiedade, o cabelo não tinha caído. Senti-me muito feliz!», assume com um sorriso.

Hoje, olhando para trás, Rita Salema, tem a perfeita noção de que não era apenas a queda de cabelo que abalava a sua estrutura emocional. «A verdade é que estava debaixo de uma outra depressão provocada pela morte dos meus irmãos. Acho que se fosse só uma queda de cabelo, teria tido força para andar para a frente. Mas estava muito fragilizada e, apesar de achar que sou uma pessoa com muita força, naquele momento não conseguia mais», reconhece.

A importância do carinho e apoio dos outros

Proprietária e directora do colégio As Abobrinhas, na Parede, a actriz, que ali também dá aulas de Teatro aos mais pequenos, reconhece que foi também entre eles que encontrou forças para ultrapassar o estado apático e depressivo em que se encontrava depois de três perdas tão repentinas e trágicas.

«Tinha uma depressão mas não queria admiti-la, achei que não podia ter uma depressão, embora seja mais forte do que nós. Até desisti da medicação, mas não controlava as emoções. Por exemplo, ia à rua comprar laranjas ou maçãs e, caso houvesse alguma pequena contrariedade, largava tudo, enfiava-me no carro e vinha para casa chorar», conta Rita Salema.

«Não queria que isso acontecesse em frente às crianças e, por isso, estive uns bons meses sem aparecer. Um dia fui obrigada a lá ir, era a hora da sesta e pensei que não ia apanhar nenhum dos miúdos acordados. Errado, quando entrei, desataram todos a gritar “Tia Zica” e percebi que estava a perder aquilo. Aquelas crianças, as minhas abobrinhas, salvaram-me e também à minha mãe que, desde a morte do João, trabalha lá e diz que foi o melhor que lhe aconteceu na vida», conta com o sorriso franco que a torna numa das actrizes mais queridas do público português.

Os conselhos de Rita Salema

Manter a calma

«Não nos podemos assustar demasiado com a queda de cabelo e pensar que é irreversível. O meu testemunho até já foi útil a um menino de seis anos, a quem ninguém pôde ajudar. A ele caía-lhe o cabelo por peladas e a primeira vez que isso lhe aconteceu foi quando morreu um avô e depois quando nasceu uma irmã. E ninguém relacionou isso com o sistema emocional. Por detrás da queda de cabelo há sempre uma razão: um desgosto, cansaço, stress, até um antibiótico, que pode alterar o nosso equilíbrio hormonal. É preciso ter calma (eu até tomei um calmante natural)».

Procurar apoio

«É muito importante o apoio dos que nos rodeiam e entendo perfeitamente que as pessoas procurem a ajuda de psicólogos e psiquiatras. Tenho o privilégio de poder partilhar os meus desgostos com as pessoas certas. Não ia fazê-lo com a minha filha, nem com a minha mãe, que estavam a sofrer muitíssimo. Mas, felizmente, tenho à minha volta pessoas com quem posso contar, amigos do tamanho do mundo, a melhor família possível...»

Texto: Joana Martinho

A responsabilidade editorial e científica desta informação é da revista