Consideremos como exemplo, a doença pulmonar obstrutiva crónica ou DPOC. É uma doença muito frequente, afetando cerca de 210 milhões de pessoas em todo o mundo. Em Portugal estima-se que cerca de 800 mil pessoas (14% de toda a população a partir dos 40 anos de idade) tem DPOC.

Esta doença é maioritariamente causada pelos efeitos nocivos do tabaco, afeta os brônquios e os pulmões e tem como sintoma mais relevante a dificuldade em respirar (ou dispneia).

Quando não é tratada, evolui para uma grande incapacidade que limita os doentes na realização de tarefas simples do quotidiano como subir escadas, tomar banho, fazer a cama ou caminhar. É uma doença com elevada mortalidade e com custos económicos significativos para os doentes e para a sociedade, resultantes do agravamento progressivo da doença, das hospitalizações e de reinternamentos frequentes.

Intervenção dirigida aos doentes respiratórios crónicos

A reabilitação respiratória (RR) é uma intervenção dirigida aos doentes respiratórios crónicos com o objetivo de melhorar o seu estado de saúde, reduzindo os sintomas e recuperando a sua capacidade de participar nas atividades diárias, permitindo em muitos casos a sua reintegração social e/ou profissional.

Os programas de RR incluem técnicas que facilitam a respiração e a eliminação da expetoração com aprendizagem de tosse eficaz e promovem, com um treino adequado a cada caso, o aumento da capacidade para a realização de exercícios físicos que assim facilitam as atividades diárias.

Estão envolvidos nos programas de RR, médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, fisiologistas do exercício, nutricionistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, entre outros. De acordo com as necessidades ou limitações específicas de cada doente, são integradas nos programas de RR, as intervenções específicas de cada um destes profissionais.

Pouco reconhecida

Apesar dos seus benefícios já largamente comprovados cientificamente, a reabilitação respiratória é ainda pouco reconhecida por muitos profissionais e desconhecida pelos doentes que dela poderiam beneficiar. A capacidade de oferta desta intervenção a nível dos hospitais em Portugal é ainda reduzida. No caso dos doentes com DPOC, estima-se que apenas cerca de 1 a 2% dos doentes com DPOC estão a beneficiar da RR. Existe assim um longo caminho a percorrer.

A organização dos serviços de Pneumologia deve contemplar a criação ou o alargamento das Unidades de Reabilitação Respiratória para todos os casos de maior gravidade, por exemplo, logo a seguir aos internamentos ou às cirurgias do pulmão.

Também os Cuidados de Saúde Primários podem melhorar o panorama da RR em Portugal, com a sua proximidade aos doentes e suas famílias em todas as fases de gravidade da doença, ao mesmo tempo que fazem a ligação com os serviços da comunidade e com o domicílio.

Com a manutenção de atividade física regular (exemplo: caminhadas diárias de 20-30 minutos), deixando de fumar e cumprindo a terapêutica prescrita pelo médico e os exercícios aprendidos no programa de RR, os doentes melhoram a sua qualidade de vida e aumentam a esperança de vida.

Por Fátima Rodrigues, Médica Pneumologista no Centro Hospitalar Lisboa Norte - Hospital Pulido Valente