Após um evento cardíaco, o doente fica fragilizado, inseguro, por vezes deprimido, com diminuição da sua capacidade de esforço, desconhecendo o que pode voltar a fazer e o que deve alterar. O doente não tem consciência de que é parte ativa na modificação da evolução da sua doença.

O que é afinal a reabilitação cardíaca?

Trata-se de uma intervenção multidisciplinar que pretende melhorar o doente cardíaco após um evento agudo, nas vertentes física, psíquica e socioprofissional.

Os benefícios da reabilitação cardíaca estão bem demonstrados e passam pela melhoria da capacidade funcional, qualidade de vida, depressão, redução de novos enfartes e, em muitos casos, pela redução de mortalidade. Também comprovado, é o efeito positivo na redução de custos de saúde e de reinternamentos.

Os programas de reabilitação cardíaca existem em vários hospitais públicos, alguns hospitais privados e clínicas.

Estes envolvem sessões de exercício individualizado, especificamente dirigido ao doente cardíaco, com treino aeróbio e de força, de intensidade crescente e frequência bi ou trissemanal.

Além destas, incluem programas para controlo de fatores de risco cardiovascular (tabagismo, sedentarismo, obesidade, diabetes, hipertensão, dislipidemia), apoio à adesão terapêutica, modificação de estilo de vida, com consultas específicas de dietética, psicologia, cessação tabágica e ainda sessões informativas, na qual participam os doentes e seus familiares próximos.

Para atingir os seus objetivos, a reabilitação conta com uma equipa multidisciplinar, constituída por diferentes profissionais de saúde: cardiologista, fisiatra, fisiologista de exercício, fisioterapeuta, técnico, enfermeiro, psicólogo e assistente social.

Prática pouco utilizada em Portugal

Sabemos, através de inquéritos realizados pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia, que a reabilitação cardíaca em Portugal é subutilizada.

As principais causas de subutilização são a escassez de centros de reabilitação e sua deficiente distribuição geográfica, a baixa referenciação médica, a falta de conhecimento e motivação dos doentes e o fator económico.

Relativamente ao enfarte do miocárdio, há 4 anos apenas 3% dos doentes faziam reabilitação, tendo o numero aumentado para cerca de 8% em 2014. Apesar da melhoria, este número é ainda insatisfatório afastando-se largamente dos números europeus.

Se teve um evento cardíaco, consulte o seu cardiologista que o poderá orientar para um programa de reabilitação. Em caso de dúvida, consulte o portal da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.

Por Ana Abreu, Médica Cardiologista e Coordenadora do Grupo de Estudos de Fisiopatologia do Esforço e Reabilitação Cardíaca da Sociedade Portuguesa de Cardiologia