Frequentemente existem perdas de urina associadas. Esta conjugação pode surgir em doentes com alguma doença do sistema nervoso central, mas igualmente pode aparecer em pessoas sem qualquer doença conhecida. Surge também associada a doenças do aparelho urinário como a hiperplasia da próstata ou outras doenças da bexiga.

Em qualquer caso, o envelhecimento dos mecanismos de controlo da bexiga e as alterações da produção de urina com a idade agravam ainda estes quadros. Efetivamente, nos casos sem doenças associadas, nota-se uma clara relação com a idade. Isto não quer dizer que não possa surgir durante a infância ou a adolescência.

Globalmente afeta ou pode afetar durante a vida quase 20% das pessoas, homens e mulheres, com maior prevalência no sexo feminino.

Cada um dos componentes pode produzir diversos graus de perturbação na qualidade vida. A perda de controlo na contenção da urina pode tornar algumas atividades impossíveis, quer profissionais, quer de lazer. Frequentemente as pessoas afetadas não aceitam trabalhos de atendimento ao público, ou que envolvam reuniões prolongadas. Podem deixar de ir ao teatro, cinema ou investir em viagens de turismo.

Micção à noite

O número de micções durante a noite pode perturbar o sono e, consequentemente, a vida do dia seguinte. Ambos os sintomas podem ter consequências desastrosas: uma vontade súbita e inadiável durante a noite obriga a um trajeto perigoso entre a cama e a casa de banho.

Apesar de já muitas vezes se retirarem os principais obstáculos, mesmo assim, sabemos ser fonte da maioria das fraturas na idade avançada. A perturbação do sono pode, igualmente, produzir acidentes, particularmente em doentes que trabalham, mais ainda, com máquinas ou automóveis. Estas perturbações são claramente mais importantes que a própria perda involuntária de urina. Efetivamente a incontinência urinária tem menor impacto na qualidade de vida do que a urgência e a necessidade imperiosa de esvaziar a bexiga.

A incontinência associada à bexiga hiperativa apresenta características diferentes das incontinências associadas aos esforços, como a tosse ou espirros. Pode surgir sem qualquer aviso, subitamente, não havendo forma de evitar as perdas. Para além disto, as perdas tendem a ser de maior volume, eventualmente ultrapassando a capacidade dos absorventes, tornando esta perda mais constrangedora socialmente. Chegam a ser verdadeiras micções involuntárias.

Com a adequada medicação, é possível estender o tempo que medeia entre o desejo de urinar e a necessidade premente em chegar à casa de banho.

Este tempo pode ser suficiente para algumas pessoas com boa mobilidade, mas é facilmente curto para os mais idosos em que, cada segundo de contenção, pode significar a diferença para a incontinência.

Por Luis Abranches Monteiro, Médico Urologista, Presidente da Associação Portuguesa de Neurourologia e Uroginecologia (APNUG)