Escolher um par de óculos pode parecer a tarefa mais simples, mas está longe de o ser.

Não basta perceber qual o modelo que melhor se adequada à fisionomia do nosso rosto ou estilo e deixar a escolha das lentes nas mãos de quem nos atende.

Segundo Luís Gouveia Andrade, médico oftalmologista, antes de mais, «os óculos devem ser adquiridos em casas especializadas».

«Prefiro as lentes orgânicas e evito as de vidro, mais pesadas e associadas ao risco de se estilhaçarem em caso de acidente. O uso de um tratamento anti-reflexo é importante para minimizar os reflexos incómodos dos candeeiros, da televisão e dos computadores», acrescenta.

E os conselhos do especialista não ficam por aqui. «Para as lentes progressivas, não se deve escolher uma lente demasiado pequena de modo a garantir que as diferentes zonas de visão estão bem definidas. Na armação, é importante verificar bem o encaixe por trás das orelhas e os suportes nasais. Um bom par de óculos deve ser leve e confortável, estar bem estabilizado no rosto e, claro, reflectir a nossa personalidade», aconselha.

Se escolher um par de óculos envolve tantos cuidados, agora imagine o que é necessário para que os seus olhos se mantenham saudáveis ao longo da vida. Não se preocupe, Luís Gouveia Andrade diz-lhe o que deve fazer.

A partir de que idade é que as crianças devem ir a uma consulta de oftalmologia?

Sempre que existir suspeita ou evidência de doença (lacrimejo, conjuntivite, prurido e/ou má visão), a consulta deve ser imediata. Na ausência de queixas, a primeira consulta deverá ocorrer perto dos três anos, idade em que eventuais defeitos visuais (miopia, hipermetropia, astigmatismo) podem ser detetados e corrigidos a tempo e com resultados excelentes.

A que sinais de alarme devem os pais estar atentos?

A criança que entorta os olhos, que se aproxima muito da televisão, que refere dores de cabeça, que semicerra os olhos para conseguir ver, que esfrega muito os olhos merece especial atenção. Na presença de pais com má visão, dada a forte carga genética da miopia, do astigmatismo e da hipermetropia, o grau de atenção deve ser superior.

Que erros se cometem na infância e adolescência e que podem vir a afetar a visão na idade adulta?

Existem muitos mitos e preconceitos que nunca se demonstrou terem uma base real. Ler com pouca luz, o uso excessivo de computador, nada disto está comprovado como podendo precipitar ou agravar uma miopia pré-existente. O componente genético é, de facto, o fundamental e, por isso, o erro não está nos comportamentos visuais mas na ausência de procura de apoio médico quando a dificuldade surge.

Uma alimentação correcta e diversificada, a prática de desporto e tudo aquilo que contribua para a nossa boa condição física e psíquica trará também benefícios para os nossos olhos, mas o facto é que eles foram feitos para serem usados e não são passíveis de desgaste.

Quais são os principais problemas de visão que surgem na idade adulta?

Persistem os problemas de visão de natureza hereditária (miopia, hipermetropia e astigmatismo) e surgem outros, como a vista cansada (presbiopia), que afeta a visão ao perto e que se instala gradualmente a partir dos 40 anos.

O glaucoma é uma doença importante, grave e silenciosa que se associa à idade e que, por não originar queixas facilmente detetáveis, pode evoluir até um grau em que o tratamento já não é eficaz.

As cataratas também são mais frequentes à medida que a idade progride e determinam uma perda progressiva de visão. A degenerescência macular senil ocorre em idades mais avançadas, afeta a retina (camada onde as imagens são processadas) e, em particular, a sua zona central, diminuindo muito a visão ea qualidade de vida. A diabetes, cada vez mais comum dada a sua associação à obesidade, é uma causa importante de doença ocular (retinopatia diabética).

É possível defender os nossos olhos destas patologias?

O uso de óculos escuros, uma alimentação equilibrada e a visita regular a um médico oftalmologista são os mecanismos principais para proteger os nossos olhos. Existe tratamento para todas as doenças referidas, mas o seu grau de eficácia depende muito do momento do diagnóstico e quanto mais precoce menos danos ocorrerão e melhor visão será obtida.

Com que frequência se deve ir a uma consulta de oftalmologia?

Recomendo sempre uma consulta anual de rotina para garantir o diagnóstico precoce de muitas das doenças referidas. Mantenho esta regra para todos os doentes, mesmo para os que não usam óculos, uma vez que prefiro detetar cedo um problema do que tentar resolvê-lo quando ele já está bem instalado. Caso exista alguma doença já identificada, o controlo terá de ser mais regular, dependendo do problema existente.

Que sintomas justificam a procura de um médico oftalmologista?

Todos os que fujam à normalidade. A lista não teria fim, pelo que destaco os mais comuns e mais importantes, nomeadamente visão enevoada, visão dupla, visão distorcida, dores de cabeça, olhos vermelhos, dor ocular, secreção mucosa ou purulenta, moscas volantes, flashes luminosos, perda súbita de visão, lacrimejo, secura, prurido, sensação de corpo estranho e traumatismo.

Até que ponto é que o estilo de vida pode interferir na saúde dos nossos olhos?

Como referi, uma alimentação variada e o desporto beneficiam a globalidade do nosso organismo. Os nossos olhos trabalham constantemente e consomem níveis elevados de calorias. Por outro lado, o tabaco, a exposição ao sol ou a ambientes muito agressivos podem comprometer a saúde dos nossos olhos.

E que patologias podem afetar a qualidade da visão?

A diabetes é uma das causas mais importantes de cegueira, ao provocar a retinopatia diabética, acelerar o desenvolvimento de catarata e de glaucoma. A hipertensão arterial altera o fluxo sanguíneo dos nossos olhos e, por isso, pode afectar a nossa visão. As doenças do sangue, os tumores, diversas formas de alergia, de doença neurológica e de doença reumática associam-se a alterações oculares.

Texto: Nazaré Tocha