A tiróide é uma glândula de secreção endócrina, isto é, uma glândula que produz hormonas libertadas para a circulação sanguínea, as hormonas tiroideias. De acordo com o site do GET, Grupo de Estudo da Tiróide, integrado na Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM), «as hormonas tiroideias são substâncias químicas que actuam como mensageiros em locais distantes do organismo», explica esta associação de especialistas nacionais.

«A glândula tiroideia localiza-se na base do pescoço imediatamente abaixo da chamada maçã-de-adão. Esta tem uma forma semelhante à de uma borboleta e é constituída por dois lobos, o direito e o esquerdo, que estão unidos por uma porção central denominada istmo. Cada lobo tem cerca de quatro centímetros de comprimento e entre um a dois centímetros de largura», sublinha a mesma fonte.

A função da tiróide é regulada pela hipófise «para que se adeqúe às necessidades do momento. As hormonas produzidas pela tiróide são designadas por T3 e T4», refere António Garrão, endocrinologista e director do serviço de Endocrinologia do Hospital da Luz.

Perturbações funcionais

A tiróide pode desenvolver perturbações funcionais e estruturais. As primeiras incluem «uma alteração do seu funcionamento. Esta alteração pode ser no sentido da tiróide funcionar menos que o necessário (hipotiroidismo) ou mais do que o pretendido (hipertiroidismo)», explica António Garrão.

O hipotiroidismo, na maior parte dos casos, é muito ligeiro e não dá queixas, só sendo diagnosticável através da realização de análises. «Mais raramente é mais profundo e os sinais de alerta são os seguintes: dificuldade em pensar, muito frio, pele seca, pálpebras e língua inchadas e obstipação», acrescenta este endocrinologista.

Além destas queixas, o aparecimento de nódulos na região cervical, a rouquidão e a dificuldade em deglutir ou respirar devem conduzir à procura de ajuda especializada. O hipotiroidismo trata-se através da administração da hormona tiroideia sob a forma de comprimidos. As crianças também podem ser afectadas pelo hipotiroidismo, verificando-se um atraso no crescimento.

Neste contexto, o endocrinologista salienta que «as formas de hipotiroidismo, se não forem precoce e correctamente tratadas, podem conduzir a atrasos do desenvolvimento psicomotor graves». A detecção desta forma de hipotiroidismo na infância é realizada através do conhecido «teste do pezinho».

O hipertiroidismo

Esta patologia atinge cerca de um por cento da população e caracteriza-se clinicamente por perda de peso, tremor, palpitações, suores, diarreia, ansiedade
e insónias. «Quando o hipertiroidismo é de causa auto-imune (doença de Graves) pode ocorrer deslocamento do globo ocular, uma situação designada de exoftalmia», esclarece o especialista.

O hipertiroidismo «pode tratar-se com medicamentos que bloqueiam o funcionamento da tiróide, designados por anti-tiroideus. Pode também tratar-se através da administração de iodo, por via oral, que destrói parte da tiróide», salienta António Garrão. A sua toma regular obriga a um período de restrições em termos de contactos sociais. Por outro lado, «a cirurgia pode ser uma boa alternativa em alguns casos específicos».

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Perturbações estruturais

As perturbações estruturais são as alterações que frequentemente provocam o aumento do volume da tiróide, situação esta que se designa por bócio.

«Este pode ser difuso, quando toda a glândula está uniformemente envolvida, ou nodular, quando, pelo contrário, existem um ou mais nódulos», descreve o endocrinologista.

«A presença de nódulos, sobretudo quando têm um diâmetro acima de um centímetro ou um centímetro e meio, torna aconselhável a realização de exames médicos (geralmente uma citologia aspirativa com agulha fina) que permitam identificar os nódulos que, sendo malignos, necessitam de uma atenção especial», acrescenta ainda este especialista. Não minimize o problema.

Alguns dados mostram que cerca de cinco por cento dos nódulos únicos da tiróide estão neste grupo. «De qualquer forma, a generalidade dos tumores malignos da tiróide tem um excelente prognóstico se forem correctamente tratados, com taxas de cura que se situam na ordem dos 95 por cento», assegura o especialista. Tanto as alterações funcionais como as estruturais são mais frequentes no sexo feminino e aumentam a prevalência com o avançar da idade. A razão não está ainda bem definida, mas parece estar associada à acção das hormonas femininas.

Cancro da tiróide

Ao contrário de outros tipos de cancro mais «agressivos» e, de acordo com a Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, «o cancro da tiróide pode ter um bom prognóstico, pois o tratamento geralmente é eficaz e a cirurgia é curativa na maioria dos casos.» Tudo começa com um nódulo da tiróide que ocasionalmente se pode apresentar «sob a forma de um gânglio linfático cervical aumentado, rouquidão por compressão do nervo da voz, dificuldade em deglutir ou respirar devido à obstrução do esófago ou da laringe», descrevem os especialistas do GET no seu site.

Existem dois tipos de cancro: papilar e folicular. O primeiro compreende entre 70 a 80 por cento dos cancros da tiróide e o último atinge dez a 15 por cento, podendo surgir em idades mais avançadas. O tratamento mais indicado, para os especialistas, é a cirurgia. Segundo a obra «Cancro da tiróide – Manual para doentes», da autoria do Grupo de Estudo da Tiróide, «para as formas mais agressivas de cancro folicular e papilar, a abordagem inicial é a remoção de toda a glândula da tiróide designada por tiroidectomia total».

Como os prognósticos relativamente a este tipo de cancro geralmente são bons, não existem propriamente regras absolutas no que respeita ao tratamento cirúrgico. «Em alguns casos mais agressivos pode ser necessário que o doente se submeta a radioterapia externa já que a quimioterapia, geralmente, não é eficaz», refere ainda este livro.

Tiróide e gravidez

A Semana Internacional da Tiróide, celebrada em Maio, teve como tema «A Mulher Grávida e a Criança». De acordo com a SPEDM, um dos principais actores de risco para o aparecimento de alterações da função da tiróide é o défice de iodo. «Em Portugal, as grávidas e as crianças têm níveis de ingestão de iodo baixos em algumas zonas do país e preocupantes no desenvolvimento intelectual das crianças no futuro.

Mas o que é ainda mais preocupante é o facto de muitas mulheres desconhecerem os efeitos negativos que a doença da tiróide tem na sua gravidez, podendo afectar negativamente o desenvolvimento físico e mental da criança», afirmou Jácome de Castro, membro do GET da SPEDM, por ocasião da Semana Internacional da Tiróide.

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Esclarecer as dúvidas

A tiróide aumenta de volume durante a gestação, normalmente «entre os dez e os 30 por cento.

A gravidez está associada a alterações, quase sempre normais e reversíveis, quer do doseamento de hormonas tiroideias, quer das dimensões da glândula», conforme é referido no site do Grupo de Estudo da Tiróide.

Assim, «as mulheres que engravidam podem não notar os sintomas clássicos da doença porque muitos deles aparecem também na gravidez normal.

Por exemplo, uma grávida pode sentir calor, cansaço, nervosismo ou mesmo apresentar tremor das mãos. Uma observação do seu médico e o doseamento hormonal nessa altura permitem informá-la do que se está a passar», alerta o GET. Uma vez que se tem de ter em conta a segurança do bebé, apenas algumas terapêuticas estarão indicadas.

As causas

Podem estar vários factores na origem do hipotiroidismo e hipertiroidismo:

Hipotiroidismo

1. A tiroidite auto-imune, designada por tiroidite linfocítica crónica ou de Hashimoto. Neste caso, o próprio sistema imunitário destrói a tiróide fazendo com que deixe de ser possível a produção de quantidades adequadas de hormonas desta glândula.

2. A ablação (extracção) cirúrgica da tiróide ou tiroidectomia.

3. A ablação da tiróide por exposição a radiações.

4. A toma de determinados fármacos.

Hipertiroidismo

1. O sistema imunitário do próprio indivíduo pode produzir anticorpos que vão estimular a tiróide. Esta forma é designada por doença de Graves e pode ser acompanhada por protusão do globo ocular.

2. O bócio nodular, quando um dos nódulos começa a produzir hormonas em excesso, de forma desregulada, desobedecendo às ordens da hipófise. Neste caso, falamos de um bócio nodular tóxico.

3. A toma de determinados fármacos.

GLOSSÁRIO DA TIRÓIDE

Decifre os termos mais comuns:

Doença de Graves
É um tipo de hipertiroidismo provocado pela produção de anticorpos estimuladores da função tiroideia.

Hipertiroidismo
Excesso de produção de hormonas da tiróide.

Hipotiroidismo
Doença resultante da falta de hormonas da tiróide.

T3 e T4
Hormonas produzidas pela tiróide. A T3 também é chamada triiodotironina e a T4 tiroxina.

Tiroidite de Hashimoto
Doença crónica da tiróide que pode provocar hipotiroidismo.

TSH
Hormona estimuladora da tiróide que é produzida pela hipófise (iniciais de thyroid stimulating hormone). O mesmo que tirotropina ou tireotropina.

Texto: Cláudia Pinto com António Garrão (endocrinologista)