Antes de qualquer cirurgia, é necessário ir a uma consulta de anestesiologia. A mesma «deve decorrer com menos de um mês de antecedência em relação ao momento em que o doente irá ser anestesiado», afirma o Dr. Lucindo Ormonde, presidente da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia (SPA). Além desta norma, é conveniente que o doente realize uma visita pré anestésica para ser “novamente revalidado, para possiveis alterações de ultima hora, e consolidação das medidas tomadas na consulta”.

Estas consultas são demasiado importantes para a segurança de todo o processo cirúrgico. Por isso, não menospreze a consulta de anestesia. “Nenhum outro médico tem preparação suficiente para avaliar o doente do ponto de vista anestésico. Muitas vezes, o facto de se ser aparentemente saudável, subestima situações clinicas despistáveis importantes e que um especialista que não anestesiologista, não está treinado para se aperceber”, reforça o presidente da SPA.

É nesta consulta que se obtém aquilo a que se chama “consentimento informado do doente após este estar convenientemente informado sobre os diversos aspectos relacionados com o acto anestésico a que vai ser sujeito”.

Podem ser solicitados alguns exames, ainda que, segundo Lucindo Ormonde, num homem saudável com menos de trinta anos de idade, muitas vezes, basta uma consulta bem efectuada para despiste do risco. “Existe um abuso de exames desnecessário e muitas vezes uma falta de exames e atitudes terapêuticas essenciais. Ainda há muito a fazer nesta área de desperdício clinico e Financeiro”, adianta.

Mitos, para que vos quero?

Muitos doentes deixam conduzir-se por “receios infundados, provocados muitas vezes por má informação ou leituras pré-históricas. Toda a intervenção médica tem os seus riscos e a anestesia não foge à regra”, adianta Lucindo Ormonde. A evolução na área da anestesiologia tem sido muito grande, o que permite a dmininuição substancial dos riscos, desde que as regras de segurança sejam respeitadas. Lucindo Ormonde aconselha a que mantenha a confiança “no que o seu anestesiologista lhe diz”. Se a curiosidade imperar, “consulte somente sites de sociedades científicas credíveis e não de aventureiros da informação”, acrescenta.

Para o Dr. Hugo Vilela, anestesiologista do Hospital de Santa Maria, “existe frequentemente uma informação deturpada da realidade, muitas vezes vinculada através de contactos próximos ou de meios de comunicação social”.

“No período peri-operatório existe um risco aumentado de complicações várias, todavia, a incidência é proporcional ao tipo de cirurgia e à patologia do doente em causa. Numa cirurgia electiva de baixo risco, num indivíduo sem antecedentes médicos relevantes, o risco de complicações, mesmo ligeiras, é extremamente baixo”, salienta o especialista.

Muitas pessoas têm também o receio de ficarem paralisadas depois da administração de uma anestesia epidural ou de outras técnicas loco-regionais. “A probabilidade é mínima, negligenciável, e depende, em última análise, da ocorrência de determinado tipo de complicações, potencialmente reversíveis e que acontecem normalmente em indivíduos considerados de risco”, defende.

O dia da cirurgia

É o dia da cirurgia em que a maioria dos doentes se encontra impaciente. Existem motivos mais do que suficientes para que a cirurgia decorra dentro da normalidade. Em vez de se deixar levar por pensamentos negativos, deve ter consciência de que “o anestesiologista é o médico especialista responsável pela segurança do doente no período intra-operatório. Cabe ao anestesiologista a responsabilidade de garantir as condições necessárias para a realização, sem intercorrências, da intervenção cirúrgica e, simultaneamente, o conforto do doente, a estabilidade dos parâmetros vitais e a homeostasia dos diversos orgãos e sistemas”.

A segurança do doente passa também, obrigatoriamente, por “medidas específicas no período intra-operatório, definidas e programadas logo na avaliação pré-anestésica e adaptadas ao tipo de cirurgia em causa e às características individuais de cada um”.

Desengane-se se pensa que o anestesiologista só estará presente antes da cirurgia propriamente dita. Este especialista manter-se-á durante todo o período cirúrgico cuidando de si. “A monitorização intra-operatória é realizada através de diversos métodos clínicos, instrumentais e laboratoriais, de acordo com o tipo de cirurgia e a patologia associada do doente”, indica Hugo Vilela. Hoje em dia, o ambiente intra-operatório é absolutamente controlado, o que tem contribuido, segundo os especialistas para a diminuição de complicações decorrentes da anestesia e da cirurgia.

Os desafios do pós-operatório

É o momento mais esperado pelo doente e pelos familiares. “Na situação do pós-operatório, faz sentido separar dois momentos: o pós-operatório imediato e o tardio”, indica o Dr. Rui Araújo, Chefe de Serviço de Anestesiologia do Centro Hospitalar do Porto EPE. O pós-operatório imediato decorre habitualmente nas unidades de cuidados pós anestésicos, adjacentes ou integrados no bloco operatório, onde estão reunidas as condições logísticas e os recursos humanos adequados ás necessidades dos doentes”. Os anestesiologistas são os protagonistas principais desta unidade, quer na sua gestão, quer no apoio clínico.

Após uma cirurgia, existem algumas reacções consideradas naturais, como as náuseas e os vómitos. “As prioridades clínicas no pós-operatório imediato giram em torno da recuperação consolidada das várias funções vitais, alteradas pela agressão anestésico cirúrgica e por uma atenção especial ao controlo da dor e condições de conforto”, salienta Rui Araújo.

No pós-operatório tardio, em ambiente de enfermaria geral, o cirurgião e o anestesiologista trabalham em parceria, definido a estratégia analgésica. Além de todas as importantes funções já referidas, para Rui Araújo, “faz parte das responsabilidades dos anestesiologistas, promover junto do público acções que propiciem uma compreensão acrescida da verdadeira amplitude do seu papel, desmontando fantasias geradoras de ansiedade e promovendo uma percepção realista e amplificadora do prestígio que esta actividade justificadamente merece”.

Texto: Cláudia Pinto

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