1995, ano em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) lança aquele que foi o primeiro relatório de saúde global. O relatório que tratou a pobreza como a “principal doença do mundo”, palavras de Hiroshi Nakajima, diretor-geral da organização, na altura, escritas na introdução do documento. Com uma mensagem mais otimista, o relatório de 2012 apela ao acesso igualitário da Saúde e reflete sobre quais as melhores políticas que poderão abrir caminho a um compromisso de cobertura universal de cuidados de saúde.

A tragédia humana global em 1995

No relatório de 1995, sob o tema ‘Tapar os buracos”, Hiroshi Nakajima, diretor-geral da OMS, redige um comovente texto de introdução aos ‘donos do mundo’ e a todas as pessoas e organizações, com um papel ativo e influente na sociedade. Neste texto, o diretor-geral apelou à sensibilidade dos demais para a tragédia humana global, que era haver milhões de pessoas, de países subdesenvolvidos, sem acesso aos direitos básicos de saúde.

Porquê? Porque a “pobreza é a principal razão para que as crianças não sejam vacinadas, não haja água potável nem condições sanitárias, e não haja acesso a medicação, é a causa da baixa esperança média de vida, da deficiência e da fome, de doenças mentais, stress, suicídio, desintegração familiar e adição de drogas”, escreve Nakajima.

De acordo com as estatísticas de 1993, a esperança média de vida em países subdesenvolvidos correspondia a 43 anos de idade, enquanto nos países desenvolvidos o número era 78. As expetativas da esperança média de vida para o ano 2000, vistas pelos especialistas, em 1995, diziam que, nos países desenvolvidos, a idade média subia para 79 anos e, nos países mais pobres, descia para 42.

Em 1995, a alta taxa de mortalidade nos países subdesenvolvidos era um flagelo humano que, para a OMS, tinha de ser prioritário na agenda política, social e económica de todos os países. “Para que se possa viver num mundo, em que todas as crianças cheguem a ser adultos e as mães possam ver as suas crianças a crescer, um mundo em que todos têm uma oportunidade de ter saúde”, diz Hiroshi Nakajima, no relatório, sublinhando que estas mudanças não poderiam depender apenas de uma organização.

Acesso à Saúde igual para todos em 2012

Em 2012, o relatório mundial de Saúde da OMS apresenta o tema “Financiamento dos sistemas de saúde, o caminho para a cobertura universal”. Longe do tom trágico do primeiro relatório da organização, lançado em 1995, a atual diretora-geral da OMS, Margaret Chan, traz ao mundo uma mensagem otimista, indicando que todos os países, em qualquer estádio de desenvolvimento, podem dar passos largos em direção à cobertura universal e manter os resultados atingidos.

No relatório de 2012, a OMS debate as necessidades que nascem da atual crise económica e a importância da eficiência das políticas de saúde dos países, antes destes cortarem impiedosamente nos apoios à Saúde. No seu texto introdutório do relatório, Margaret Chan declara que vivemos numa época em que “a população envelhece, as doenças crónicas aumentam e novos tratamentos, mais caros, tornam-se disponíveis.”

Segundo o relatório, 20 a 40 por cento dos gastos de saúde são desperdiçados por ineficiência política dos países. A OMS chega, assim, com uma voz firme e positiva, apresentando as falhas e retrocessos das políticas de saúde dos países, mas também apresentando soluções que se adaptam à realidade política, social e económica de cada nação.

“A densidade populacional de um país não determina a eficiência de uma cobertura global, mas sim as políticas empregues”, sendo uma das soluções a de “angariar fundos através da obrigação de pré-pagamentos, significando que os ricos subsidiavam os pobres, os saudáveis subsidiavam os doentes. Quanto mais pessoas efetuarem este pré-pagamento, mais fundos existem para distribuir por quem necessita”, afirma Chan.

Tal como em 1995, o relatório de 2012 também defende a proteção da saúde como bem essencial ao bem-estar do individuo, logo, para o desenvolvimento económico e social sustentável de um país. “Lutar pela cobertura universal é um objetivo admirável e viável – em toda a parte”, remata Margaret Chan.

Relatório Mundial de Saúde

O relatório mundial de saúde da OMS chega, em 1995, com o objetivo de mobilizar políticas internacionais na área da Saúde, através da divulgação de estatísticas e análises de especialistas sobre as condições de saúde de todos os países. Todos os anos, é lançado um relatório com o tema de saúde emergente do momento. Em 1995, a erradicação da pobreza foi o tema central do relatório da OMS, em 1996, apelou-se ao combate das doenças e à promoção do desenvolvimento, já em 2001, por exemplo, a saúde mental esteve em destaque, ano em que saiu o primeiro relatório da OMS traduzido em português.

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