SAPO: Chegou ao fim o LIVECHAT com a Dra. Tânia Furtado, nutricionista no Hospital Lusíadas Lisboa. Esperamos que todas as suas dúvidas tenham sido esclarecidas. Obrigado por ter estado desse lado.

SAPO: Os portugueses, em geral, têm uma boa alimentação?
Dra. Tânia Furtado: Tendo em conta o último relatório da Direção-geral da Saúde (DGS), podemos considerar que os portugueses têm uma alimentação pouco saudável, uma vez que os hábitos alimentares inadequados são o fator de risco que mais rouba anos de vida saudável aos portugueses.

SAPO: Mas afinal quanta carne vermelha podemos comer por semana?
Dra. Tânia Furtado: Não existem recomendações específicas para a população portuguesa relativamente ao consumo de carne vermelha. Mas se nos basearmos em recomendações internacionais, as guidelines australianas, por exemplo, dizem-nos que devemos consumir no máximo 450 gramas de carne vermelha por semana (ou seja 3 refeições de 150 gramas de carne vermelha por semana).

Comment From Ana C.: Fala-se das carnes vermelhas, mas não se fala das carnes brancas que são o tipo de carne que têm aumentado o seu consumo drasticamente nos últimos anos, principalmente para as carnes mais baratas e criadas em ambiente nada favorável e cheio de antibióticos, alimentados a soja transgénica. O que sugere nesse caso? Não percebo porque não diz que não nos devemos tornar vegetarianos, se também se fala que o peixe está contaminado e os lacticínios nos fazem mais mal do que bem!?
Dra. Tânia Furtado: Sem dúvida que o ideal seria a produção própria/artesanal quer de carne, quer de vegetais ou fruta, como antigamente. Assim saberíamos exatamente o que estávamos a comer. Não sendo possível, recomendo bom senso e moderação. Acima de tudo, devemos ter uma alimentação diversificada, seguindo as indicações da roda dos alimentos. Não concordo que devamos exluir o peixe, nem os laticíneos da nossa alimentação, porque eles são fundamentais.

Comment From Sergio: O simples grelhado no carvão é um risco. Qualquer alimento, mesmo um vegetal, que seja cozinhado sobre fogo direto será também potencialmente cancerígeno, certo? Não nos "salvaremos" simplesmente por nos tornarmos vegetarianos...
Dra. Tânia Furtado: Concordo. Sabe-se hoje em dia que os grelhados no carvão têm potencial carcinogénico, pelo que devem ser evitados.

Comment From Vera: salsichas/fiambre de peru também é carne processada?
Dra. Tânia Furtado: Sim, é.

Comment From Anónimo: Pelo que entendi o cancro está diretamente ligado aos produtos adicionados às carnes processadas, certo? Então porque não proíbem esses produtos?
Dra. Tânia Furtado: O comunicado da OMS remete-nos para o tipo de processamento da carne e não tanto para os ingredientes das mesmas. Cabe agora à indústria alimentar rever os processos de fabrico deste tipo de produtos de modo a que os possamos consumir sem serem prejudiciais para a saúde.

Comment From pes96: Porque é que as carnes processadas provocam cancro colorretal?
Dra. Tânia Furtado: O mecanismo pelo qual as carnes processadas aumentam o risco de cancro colorretal não é claro e ainda está a ser estudado. O que o comunicado da OMS nos diz é que existe uma associação estatística entre o consumo de carne processada e o desenvolvimento de cancro, mas não presta esclarecimentos acerca do modo como esse fenómeno acontece.

Comment From Mauro: Boa tarde. Até que ponto poderá realmente ser prejudicial o facto de comer diariamente fiambre, chouriços, presunto, bacon...?
Dra. Tânia Furtado: De acordo com o comunicado da OMS, consumir diariamente 50 gramas de carne processada aumenta o risco de cancro colorretal em 18%. Deste modo, não recomendo o seu consumo diário, mas sim esporádico.

Comment From Tiago Fidalgo: Seria radical abolirmos a carne da nossa alimentação tendo em conta que o peixe nos fornece as vitaminas e minerais necessários?
Dra. Tânia Furtado: Se tomarmos essa opção com base neste comunicado da OMS, considero essa decisão radical. Não concordo que seja necessário deixarmos de comer carne. Devemos apenas reduzir o consumo de carne vermelha, como aliás tem vindo a ser recomendado nos últimos anos, e preferir a carne branca e o peixe.

Comment From Sergio: Se compararmos com o nosso passado poderemos dizer que a incidência dos cancros, destes tipos em causa, aumentou ou diminuiu? É que o fumeiro e a salga são os processos mais tradicionais, e antigos, e sempre foram usados pelos nossos avós e pais, até com maior consumo do que atualmente, o que nos fará pensar que "antigamente" a incidência dos problemas de cancro que agora nos alarma fosse maior do que é na atualidade... é claro que será de certeza diferente a forma como estes processos são atualmente tratados e muitos "pózinhos" são adicionados.
Dra. Tânia Furtado: É verdade que antigamente se utilizavam também este tipo de processos, mas também é um facto que existia um subdiagnóstico de doenças como o cancro. Por outro lado, não era tão estudado o impacto deste tipo de processamentos na saúde.

Comment From Pedro: No caso de um enchido/presunto que seja confeccionado de forma artesanal (para consumo interno), existe o mesmo risco?
Dra. Tânia Furtado: Sim, porque também sofre fumagem e sabemos hoje que a adição de fumo à carne é prejudicial para a saúde.

Comment From Vera: Os hambúrgueres feitos no talho com carne picada na hora fazem parte desta lista?
Dra. Tânia Furtado: Não, não fazem. Se a carne usada for picada na hora, à partida não sofrerá mais nenhum tipo de processamento nem lhe serão adicionados outros compostos. São, por isso, preferíveis aos hambúrgueres congelados, que sofrem outro tipo de transformação.

Comment From Filipe: Acha exagerada a comparação deste tipo de carne ao tabaco no que respeita a fatores de risco para o desenvolvimento de cancro?
Dra. Tânia Furtado: De acordo com a classificação do IARC - a Agência Internacional para a Pesquisa de Cancro - a carne processada está agora englobada no mesmo grupo de fatores de risco (Grupo 1) que o tabaco e o amianto. Contudo, esta classificação diz respeito à evidência de que são carcinogénicos para humanos. Ou seja, existe evidência suficiente de que a carne processada é carcinogénica assim como existe evidência de que o tabaco é carcinogénico, embora em níveis diferentes. O IARC não nos fornece informação acerca do nível de perigosidade de cada um, pelo que não poderemos dizer que têm exatamente o mesmo impacto na saúde.

Comment From Ana T.: Acha que está na altura de nos tornarmos todos vegetarianos?
Dra. Tânia Furtado: Parece-me um pouco radical tornarmo-nos todos vegetarianos, até porque a carne assim como o peixe têm uma enorme riqueza nutricional, sendo das principais fontes proteicas da nossa alimentação, assim como de vitamina B12 e ferro. Relembro que o comunicado da OMS não nos indica que devamos exluir o consumo de carne mas sim reduzir a ingestão de carnes vermelhas, como a carne de porco, vaca, borrego e cabrito.

Comment From pes96: Devemos também evitar o fiambre não fumado?
Dra. Tânia Furtado: Até surgirem recomendações mais específicas, sugiro que se evite todo o tipo de carnes processadas incluindo o fiambre. Contudo, na minha opinião enquanto nutricionista, o fiambre fumado é mais prejudicial à saúde por ser processado através de fumagem.

Comment From Cunha: Posso ou não comer carne processada?
Dra. Tânia Furtado: Boa tarde, Cunha. Podemos comer carne processada, mas com moderação, evitando-a ao máximo. Comece por tentar reduzir o consumo e opte por ingeri-la em ocasiões especiais, não fazendo dela um componente habitual da sua dieta, mas sim uma exceção.

SAPO: Começamos por perguntar: O que é carne processada? Que alimentos devemos então evitar?
Dra. Tânia Furtado: São todo o tipo de carnes, vermelhas ou não, que sofram um processo de transformação industrial com o objetivo de aumentar a durabilidade do produto e/ou intensificar o sabor. Alguns exemplos de processamento das carnes são a fumagem, salmoura, entre outros. Por isso, devemos evitar ao máximo produtos como salsichas, enchidos, o fiambre fumado, bacon, presunto, hambúrgueres e carne enlatada.

SAPO: Sejam bem-vindos ao LIVECHAT com a Dra. Tânia Furtado, nutricionista do Hospital Lusíadas Lisboa.
Na segunda-feira, a Organização Mundial de Saúde alertou a população mundial para os riscos do consumo de carnes processadas - como o bacon, as salsichas e o presunto. Segundo um mega estudo que englobou mais de 800 análises, este tipo de alimentos provocam cancro e são tão perigosos como o tabaco.