A Ordem dos Médicos e a Ordem dos Farmacêuticos, em declaração conjunta, apelaram ao Ministério da Saúde para que, «em defesa da saúde pública, intervenha legislativamente e por todos os meios necessários para regular e impor regras mais restritivas no circuito e na publicidade dos alegadamente considerados como produtos dietéticos e suplementos alimentares».

Neste apelo, que teve maior eco no início de 2016, é dado um destaque especial à suplementação específica com cálcio e vitamina D. «Um exemplo recorrente», segundo os autores. Segundo o comunicado, «não há qualquer evidência científica consistente que os suplementos de cálcio diminuam as fraturas ósseas ou as quedas, podendo até ter um efeito contrário».

«E, mesmo se associados a vitamina D, originam apenas um escasso aumento na densidade mineral óssea e somente no primeiro ano de suplementação. (…) Esta suplementação pode estar associada a um risco aumentado de desenvolvimento de cálculos renais e existe alguma evidência da associação entre a toma de suplementos de cálcio e um risco aumentado de algumas patologias cardiovasculares», lê-se.

Dose adaptada

«A banalização da suplementação de cálcio (e frequentemente de vitamina D), feita sem critério, sem fundamentação médica e sem vigilância analítica poderá ser uma prática potencialmente perigosa e por isso a evitar», refere Augusto Faustino, médico reumatologista. «O cálcio deverá ser tomado em dose adaptada à idade (jovens e idosos necessitando de doses diárias mais elevadas)», defende.

À idade e «a determinadas situações fisiológicas (por exemplo a necessidade de suplementação na gravidez), a doenças (como complemento de todas as terapêuticas para a osteoporose) ou apenas como suplemento diário, em caso de não ingestão de produtos alimentares que em regra são a sua fonte habitual (em especial os laticínios)», acrescenta.

«A vitamina D só devera ser adicionada se for identificada a sua deficiência (por análise de sangue), ou em idosos e pessoas confinadas a espaços fechados, e sempre com controlo regular dos valores de cálcio no sangue e urina», explica ainda o especialista.

Os perigos apontados

Segundo a Ordem dos Farmacêuticos e a Ordem dos Médicos, o consumo desregrado e sem avaliação prévia é sinónimo de riscos para a saúde dos consumidores. Estes são alguns dos perigos apontados:

1. O consumidor pode sentir-se induzido a substituir o tratamento prescrito pelo médico ou a não recorrer ao aconselhamento por profissionais de saúde, o que poderá originar um aumento de sintomas e novos problemas de saúde.

2. Perante uma verdadeira doença, o uso indiscriminado e sem aconselhamento de suplementos pode fazer perder um tempo importante, que adie ou impeça o início do tratamento no momento adequado.

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O que fazer antes de tomar suplementos de cálcio:

- Seja cauteloso

Os consumidores devem desconfiar de produtos que ofereçam soluções milagrosas, refere o documento «Suplementos Alimentares – Uso seguro e publicidade adequada», emitido pela Ordem dos Médicos em conjunto com a Ordem dos Farmacêuticos.

- Aconselhe-se

O aconselhamento por profissionais habilitados contribui para uma utilização eficiente e racional dos suplementos dietéticos, zelando pela saúde pública, sublinha a Ordem dos Farmacêuticos e a Ordem dos Médicos.

Texto: Vanda Oliveira com Augusto Faustino (médico reumatologista da Clínica de Reumatologia de Lisboa e Instituto Português de Reumatologia)