São uma das soluções para aliviar os sintomas da menopausa, mas o seu papel continua a ser discutido pela ciência. Saiba o que já foi comprovado.

Quando os ovários deixam de produzir a hormona estrogénio, a fertilidade termina e surge a menopausa. Este processo fisiológico pode estar associado a sintomas incómodos, pelo que a mulher pode optar por iniciar uma terapêutica.

Os fitoestrogénios ou estrogénios vegetais são uma potencial alternativa à considerada a opção mais eficaz, mas o seu uso e aplicações não são consensuais entre a comunidade médica. A Sociedade Portuguesa de Menopausa (SPM) fez um ponto de situação sobre o conhecimento científico nesta área e publicou as conclusões no «Guia Clínico da SPM – Uso de Fitoestrogénios na Ginecologia».

Em que casos estão indicados?

«Os fitoestrogénios são uma alternativa à terapêutica hormonal de substituição essencialmente em dois aspetos. Para as mulheres que não podem fazer terapêutica hormonal de substituição e para as que não querem fazê-la», sintetiza Mário de Sousa, presidente do Conselho Científico da SPM. Os ginecologistas são aconselhados a indicar a toma de fitoestrogénios a mulheres com:

- Sintomatologia vasomotora (os conhecidos afrontamentos) leve a moderada - Contraindicações para a terapêutica hormonal de substituição (adenocarcinomas do útero e da mama, sangramento vaginal não esclarecido, acidentes tromboembólicos agudos, doenças graves do fígado e nódulos da mama de causa não esclarecida) - Recusa de tratamento hormonal - Medo do risco de cancro associado à terapêutica hormonal de substituição - Crença na naturopatia

Quem não deve optar por esta solução?

Segundo o guia, «um pequeno número de mulheres pode apresentar contraindicações ao uso de fitoestrogénios». É o caso das que têm, tiveram ou estão em risco de ter cancro da mama, nas quais «existe controvérsia sobre a possibilidade de usar isoflavonas», pelo que é «necessário que sejam informadas sobre os benefícios reais e os possíveis riscos».

No entanto, «aquelas que consomem soja através da dieta podem continuar a sua ingestão, não estando descrito nenhum efeito prejudicial». As contraindicações incluem, ainda, casos de risco elevado de desenvolver doença tromboembólica venosa, tratamento com tamoxifeno e hipersensibilidade a qualquer componente fitoterápico.

Quais os benefícios e riscos?

Além do alívio dos afrontamentos leves a moderados, estão descritos benefícios «na prevenção da osteoporose e em termos cardiovasculares», afirma Mário de Sousa. No entanto, nem todos os produtos asseguram estes benefícios. «Há muitos tipos de fitoestrogénios no mercado, quer quanto à dosagem, quer quanto à extração dos vários componentes da soja. Nem todos estão devidamente estandardizados ou na dose correta», sublinha.

Por isso, os riscos são uma incógnita. «Não há estudos, quer em número, quer em termos de desenho e de duração, para termos esse tipo de informação. É difícil fazer estudos uniformes quanto ao produto selecionado», esclarece o ginecologista.

Quais as doses recomendadas?

O guia indica doses de referência com base nos resultados de alguns estudos sobre diferentes sintomas (variam entre 10 mg e mais de 80 mg por dia), mas salvaguarda que não existe unanimidade. Reconhece-se que a regularidade do consumo é essencial para obter os efeitos desejados, sendo para isso importante ingerir alimentos ricos em fitoestrogénios desde a infância.

Quanto à prevenção de doenças crónicas específicas, considera-se prematuro recomendar quantidades determinadas. Em todo o caso, a toma deste tipo de fármacos deverá ser sempre feita sob aconselhamento médico.

O que são os fitoestrogénios?

Consistem num grupo de substâncias com origem em várias espécies vegetais que se caracterizam por apresentarem alguma atividade estrogénica. Do ponto de vista estrutural, são muito parecidos com os estrogénios naturais e com os sintéticos. Dividem-se em três famílias. Uma delas são os isoflavonóides, que inclui as isoflavonas.

Podem ser encontrados em cereais, legumes e hortaliças (como o trevo-roxo, a couve-galega,
couve-flor e couve-roxa), sendo a soja uma das fontes mais abundantes. Existem também em medicamentos naturais de venda livre, em diferentes formulações, dosagens e associações.

Terapêutica hormonal de substituição

Recomendada no caso de mulheres que têm sintomas de menopausa (afrontamentos, secura vagina, entre outros), não têm contraindicações e não fazem esta terapêutica há mais de cinco a dez anos (período a partir do qual aumenta o risco de cancro da mama), segundo indicação médica.

Texto: Rita Miguel com Mário de Sousa (ginecologista e presidente do Conselho Científico da Sociedade Portuguesa de Menopausa)