À parte da indispensável competência académica, de que matéria, digamos assim, é feito um bom médico?

O seu desempenho depende em parte da informação que o paciente partilha e do cumprimento rigoroso das indicações prescritas pelo médico e não é razoável exigir que todos os profi ssionais deste universo, com personalidades, histórias e hábitos de vida distintos, sejam intrinsecamente afáveis, ouvintes pacientes, pontuais ou infalíveis.

Contudo, é legítimo esperar que se guiem por um conjunto de normas comportamentais que garantem um serviço de qualidade. O Código Deontológico da Ordem dos Médicos define-as claramente e a sua prática, sublinha o documento, «deve servir de orientação nos diferentes aspetos da relação humana que se estabelece no decurso do exercício profissional». Leia a síntese que preparámos e assinale, ponto por ponto, se o médico que o acompanha é o profissional que a sua saúde merece.

Perfil de um médico competente

Estes são os fatores que deve ter em linha de conta para definir o padrão do que é um bom profissional:

- Esclarece-o de forma clara

É dever do médico prestar o esclarecimento sobre o diagnóstico, a terapêutica e o prognóstico da doença previamente «com palavras adequadas, em termos compreensíveis, adaptados a cada doente, realçando o que tem importância ou o que, sendo menos importante, preocupa o doente». Deve «ter em conta o estado emocional do doente, a sua capacidade de compreensão e o seu nível cultural».

- É delicado e prudente

O diagnóstico e o prognóstico devem ser «sempre revelados ao doente, em respeito pela sua dignidade e autonomia. A revelação exige prudência e delicadeza, devendo ser efetuada em toda a extensão e no ritmo requerido pelo doente, ponderados os eventuais danos que esta lhe possa causar. A revelação não pode ser imposta ao doente, pelo que não deve ser feita se este não a desejar».

- Compreende que queira estar acompanhado

«O médico respeitará o desejo do doente de fazer-se acompanhar por alguém da sua confiança, exceto quando tal possa interferir com o normal desenvolvimento do ato médico».

- Só prescreve o que é realmente necessário

«O médico tem liberdade de escolha de meios de diagnóstico e terapêutica, devendo, porém, abster-se de prescrever desnecessariamente exames ou tratamentos onerosos ou de realizar atos médicos supérfluos».

- Fá-lo sentir-se à vontade e respeita-o

O médico deve respeitar «as opções religiosas, filosóficas ou ideológicas e os interesses legítimos do doente».

«A idade, o sexo, as convicções do doente, bem como a natureza da doença (…) devem ser tidos em consideração no exame clínico e tratamentos». O assédio sexual é considerado «uma falta particularmente grave».

- Aceita que queira mudar de médico ou ouvir uma segunda opinião

«O médico assistente deve respeitar o direito do doente a mudar de médico, devendo mesmo antecipar-se, por dignidade profissional, à menor suspeita de que tal vontade exista». Deve também «aceitar e pode sugerir que o doente procure outra opinião médica, particularmente se a decisão envolver grandes riscos ou graves consequências».

- Respeita o segredo médico

Esta é uma «condição essencial» e «abrange todos os factos que tenham chegado ao conhecimento do médico no exercício da sua profissão ou por causa dela (…)». «O diagnóstico e prognóstico só podem ser dados a conhecer a terceiros, nomeadamente familiares, com o consentimento expresso do doente», exceto se o doente for menor, «cognitivamente incompetente» ou, em casos particulares, como o facto de ter um comportamento que envolve riscos para a vida de outra pessoa.

- É cuidadoso com o seu processo clínico

O médico «deve registar cuidadosamente os resultados que considere relevantes das observações clínicas dos doentes a seu cargo, conservando-os ao abrigo de qualquer indiscrição, de acordo com as normas do segredo médico». Terá direito a conhecer a informação registada no seu processo clínico e os exames complementares de diagnóstico e terapêutica também deverão ser-lhe facultados caso o solicite, nomeadamente sob a forma de cópias.

- Atualiza os seus conhecimentos

«O médico deve cuidar da permanente atualização da sua cultura científica e da sua preparação técnica, sendo dever ético fundamental o exercício profissional diligente e tecnicamente adequado às regras da arte médica».


Gabinete do doente online

A Ordem dos Médicos criou um serviço denominado Gabinete do Doente para dar voz aos doentes que se sintam lesados por eventuais infrações à deontologia e ao exercício da profissão médica «praticados voluntariamente ou por negligência, por qualquer médico».

As 4 características que as receitas médicas devem ter:

1. Devem ser claras, redigidas de forma legível em língua portuguesa, datadas e validadas com assinatura manuscrita idêntica à registada na Ordem dos Médicos.

2. Devem ser acompanhadas de instruções claras sobre a dose, o horário de administração e a finalidade dos fármacos prescritos.

3. Devem conter informação que permita o contacto imediato do médico, em caso de dúvida.

4. As receitas médicas devem apresentar sempre o nome e o número da cédula profissional do médico. Esta é uma condição fundamental para identificar o profissional que o atendeu. Confirme sempre se estes dados constam da que o seu médico que passou.


O seu médico é mesmo... médico?

Pode confirmar online a inscrição do profissional que o acompanha na lista disponível no site da Ordem dos Médicos. Figurar nesta lista é uma condição legal indispensável para o exercício da medicina em Portugal.

Texto: Nazaré Tocha