A acusação é recorrente. "A culpa é do tempo", ouve-se muitas vezes na rua. Esta frase é lhe certamente familiar, mas não pense que se trata de uma sabedoria das pessoas mais idosas. As alergias sazonais existem de facto e manifestam-se em alturas específicas do ano. "As patologias relacionadas com a polinização das plantas marcam o começo da primavera", explica João Fonseca, imunoalergologista.

"Os primeiros pólenes a aumentar são de algumas árvores que podem polinizar ainda no final do inverno", prossegue. "As gramíneas começam um pouco mais tarde, enquanto algumas ervas podem continuar a polinizar ao longo de todo o verão", esclarece ainda o especialista. O aumento do nível do mar e das emissões de dióxido de carbono estão na origem do agravamento dos sintomas.

Os primeiros sinais de alarme

Os sintomas de alergia têm tanto de visível como de incomodativo para que se procure ajuda, no entanto, nem sempre são devidamente valorizados. "Esteja atenta ao aparecimento de sintomas nasais [comichão, espirros, pingo e obstrução nasal] e oculares [comichão, olhos vermelhos e lacrimejo], sobretudo se estes aparecerem após atividades ao ar livre, onde a exposição aos pólenes é mais frequente", salienta.

Raramente, podem ainda surgir reações na pele, incluindo comichão. "Também o aparecimento e/ou agravamento de sintomas brônquicos [falta de ar, tosse e/ou um aperto no peito] nesta altura do ano deve fazer suspeitar da existência de asma agravada pela exposição aos pólenes", acrescenta ainda o imunoalergologista. Muitos destes sintomas podem tornar-se crónicos e, como consequência, agravar a doença.

Os números que preocupam

Nos últimos anos, a Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), realizou vários estudos visando conhecer a realidade portuguesa em relação à rinite alérgica nos diferentes grupos etários. No estudo "Arpa Kids", por exemplo, foram avaliadas 5.018 crianças entre os três e os cinco anos. "21,5% apresentava rinite e 10,8% sofria de rinoconjuntivite", revela o especialista.

Os números que têm vindo a ser apresentados, que estão longe de ser dos mais otimistas, preocupam os responsáveis. "Além da elevada incidência, os dados apontam para o subdiagnóstico e subtratamento, pois apenas em 35,8% das crianças com sintomas tinham sido diagnosticadas por um médico e só 36,5% tinha feito alguma medicação no último ano", explicou ainda, na altura, João Fonseca.

Quando procurar ajuda

A partir do momento em que os sintomas afetem o dia a dia, alterando a qualidade do sono, a atividade normal na escola no caso das crianças ou no trabalho e mesmo na vida social no caso dos adultos, não hesite em procurar ajuda. "A recusa em aceitar como normal o incómodo que estes sintomas provocam é o primeiro grande passo para a resolução do problema", afirma, em jeito de aviso, João Fonseca.

"O médico de família será também a pessoa indicada para orientar o doente para uma consulta especializada com o imunoalergologista, para uma avaliação mais aprofundada, sobretudo nos casos mais graves ou que não se resolvem com o tratamento inicial", sublinha o especialista. Atualmente, a terapêutica para as doenças alérgicas é muito eficaz e praticamente desprovida de efeitos laterais.

Os especialistas não têm, por isso, qualquer dúvida de que pode ser proporcionada uma grande melhoria da qualidade de vida em todos os grupos etários, da idade pré-escolar até aos mais idosos, como também confirmaram alguns dos últimos estudos, nacionais e internacionais, levados a cabo em diferentes países. Alguns deles apontam, todavia, o dedo às alterações climáticas, que agravam o problema.

4 passos para combater as alergias

Segundo João Fonseca, imunoalergologista, estas são alguns dos principais comportamentos preventivos que pode adotar:

1. Evite o contacto com o alergénio

É o passo óbvio para prevenir sintomas e, embora seja difícil de seguir no caso das alergias respiratórias, não deve ser esquecido. Evite as zonas e horas do dia com maior concentração de pólenes, por exemplo.

2. Não mantenha as janelas sempre fechadas

Desengane-se se pensa que ficar em casa sem abrir as janelas é opção para combater as alergias. Opte por arejar a casa logo pela manhã, quando a quantidade de pólenes na atmosfera é menor.

3. Use óculos de sol

Se sofre de conjuntivite, esta medida é eficaz para evitar o contacto directo de pólenes na atmosfera. A maioria dos doentes com conjuntivite alérgica necessitará de fazer um tratamento específico que lhe permitirá fazer uma vida normal durante esta época do ano.

4. Ambientes a evitar

Cheiros intensos, ar frio e ambientes secos ou com fumo desencadeiam respostas de forma inespecífica em pessoas mais suscetíveis ou com alergias não controladas, provocando mal-estar. São fatores irritantes que contribuem para o aparecimento de sintomas.

Texto: Cláudia Pinto com João Fonseca (imunoalergologista)