A vertigem é um tipo específico de tonturas: é expressa pelo doente como uma ilusão de movimento, uma sensação de deslocação dos objetos circundantes em relação ao indivíduo ou vice-versa.

Mais frequentemente são rotatórias (ao doente parece-lhe andar tudo à sua volta a elevada velocidade, como se andasse num carrossel), embora também possam manifestar-se como não rotatórias, sendo relatadas como se o indivíduo fosse empurrado para um dos lados ou ainda como a sensação de descida ou de subida, como ocorre na coberta de um navio, ou ainda como a queda num poço.

De onde vem o equilíbrio?

O equilíbrio é a função que nos permite mexer a cabeça para olhar para os objetos que nos rodeiam mantendo-os imóveis e “nítidos” no nosso campo de visão, permanecer em pé “estáveis” e deslocarmo-nos sem cair. Resulta da organização harmoniosa das informações:

- Vestibular, que são sensores da posição e da velocidade do movimento da cabeça, localizados no ouvido interno;
- Visual, que detecta a configuração do meio ambiente, com a forma e a distância dos objetos circundantes;
- Proprioceptiva, que são sensores da sensibilidade que se encontram nos ossos, articulações e músculos e na planta dos pés, que fornecem a posição e o movimento realizado pelos membros e a forma/orientação da superfície de apoio, bem como são responsáveis pela estratégias de equilíbrio para manter a estabilidade do corpo e da cabeça na posição de pé e evitar quedas).

Independentemente da sua proveniência, estas informações sensoriais recolhidas pelos vários sistemas são integradas em estruturas do sistema nervoso central e vão exercer a sua ação, visando estabilizar a visão, sobretudo quando realizamos movimento com a cabeça e também estabilizar a postura, por ação dos músculos anti-gravitacionais (musculatura cervical, lombar e dos membros inferiores), que se opõem à ação da gravidade e assim evitar quedas.

Em cada atividade do nosso dia-a-dia, estes processos estão a ocorrer permanentemente, e as diferentes informações sensoriais são descodificadas, comparadas (entre si e com experiências anteriores) e hierarquizadas ao nível do Sistema Nervoso Central, de forma a ser processada a ordem motora, que é posteriormente enviada aos músculos anti-gravitacionais para manter o controlo de equilíbrio nessa situação particular.

Assim, todas as lesões dos recetores periféricos do ouvido interno, das vias que transmitem a informação sensorial até aos órgãos do sistema nervoso central, destes últimos que as “tratam” ou dos músculos que executam os ajustamentos posturais, originam:

- vertigem rotatória ou não rotatória;
- instabilidade visual (sensação de visão “turva”);
- e/ou instabilidade postural (sensação de movimento do corpo quando o indivíduo está parado) ou desequilíbrio que aparece quando são realizados movimentos com a cabeça, na marcha (com se estivesse embriagado, com tendência a desviar para um dos lados, …), no escuro, em locais com muito movimento, etc.

De salientar ainda as situações de conflitos sensoriais em que, mesmo na ausência de uma lesão em qualquer uma das estruturas referidas, pode ocorrer uma incorreta hierarquização das várias informações sensoriais ao nível do Sistema Nervoso Central, com privilégio de um tipo de informação sensorial em detrimento de outra, o que leva o indivíduo a experienciar uma incorreta orientação espacial. Exemplo disso é quando ocorre o deslocamento de um outro veículo quando estamos parados nas filas de trânsito e nos parece que é o nosso veículo que está a andar.

A justificação desta ilusão de movimento ou conflito sensorial prende-se com o facto da informação visual prevalecer, com “menosprezo” da informação vestibular.

O doente com patologia vestibular apresenta queixas de vertigem e/ou desequilíbrio que são desencadeadas pelos movimentos da cabeça e, assim, manifesta insegurança e ansiedade, com tendência para a imobilidade e isolamento social. Evita atividades e/ou posições que lhe desencadeiem os sintomas, o que limita a sua vida diária e implica consequências sócio-económicas.

A Reeducação Vestibular é um método de tratamento do desequilíbrio e vertigem de causa vestibular, realizado por equipas multidisciplinares, constituídas por médicos otorrinolaringologistas e fisioterapeutas, e que consiste em exercícios adaptados a cada uma dessas causas, personalizados e dirigidos aos défices e dificuldades de cada doente no seu dia-a-dia, com protocolos adaptados a cada tipo e fase da patologia.

De salientar que a motivação, a mobilização e a persistência na realização dos exercícios por parte do doente tem absolutamente um papel decisivo para uma melhor recuperação.

Por Leonel Luís, Médico Otorrinolaringologista na Clínica Europa