«Ninguém quer o seu médico a chorar-lhe à cabeceira. Normalmente, temos sempre trabalho para fazer. Mas, há alturas em que tudo o que os nossos doentes precisam é de que sejamos nós próprios», refere Gabriel Weston. O discurso é direto, as palavras sinceras e as imagens tão nítidas como se estivéssemos ao seu lado no bloco operatório ou nos corredores atribulados das urgências. Formada em literatura, podia ter sido escritora, mas optou pelo bisturi para contar a sua história.

Aos 23 anos, resolveu enveredar pela medicina e, sete anos mais tarde, tornava-se finalmente médica. Membro do Royal College of Surgeons, esta especialista reúne, no livro «Confissões de uma cirurgiã», publicado em Portugal pela editora Lua de Papel, excertos da sua experiência e relata os medos, erros e vitórias que marcam o dia a dia de um cirurgião, bem como a marca que cada paciente pode deixar na sua vida.

Apesar de garantir, no início do livro, que muitos dos episódios podem não relatar situações tal e qual como se passaram sendo, sobretudo, «a mistura de coisas que aconteceram e coisas que poderiam ter acontecido», Gabriel Weston não deixa o leitor indiferente. Ao longo da obra, a autora relata cada caso em pormenor, não para propor estratégias milagrosas para nos afastar da cama de hospital, mas para nos transportar para a mente daqueles em cujas mãos pode vir a estar o nosso bem mais precioso, a vida.

Podemos ver o que se passa nos minutos que antecedem uma operação, sentir a adrenalina sob a bata de cada elemento da equipa médica e até presenciar as rivalidades que marcam o universo restrito da cirurgia. Com uma hierarquia rígida e uma série de estereótipos à mistura (na sua maioria pouco favoráveis ao sexo feminino) nada parece ser fácil para Gabriel Weston no início da sua carreira.

À medida que os capítulos avançam, acompanhamos os primeiros dias do seu internato até à altura em que se especializa em otorrinolaringologia e, mais tarde, descobre qual é a sua verdadeira casa. É um livro ousado, no qual a autora não tem qualquer receio de admitir aquilo que muitos médicos pensarão mas jamais diriam. Talvez por isso tenha recebido tão boas críticas no Reino Unido. Talvez por isso seja difícil de parar de ler antes da página 158.