Embora seja muitas vezes menosprezado, o maior órgão do nosso organismo, a pele, funciona como um escudo protetor contra as invasões de agentes externos. É, assim, uma importante peça no nosso sistema imunitário, denunciando alterações no organismo que podem ter na sua origem doenças variadas. Um estudo realizado em Portugal num passado recente garante que cerca de 75% dos portugueses não cuida corretamente da pele.

José Campos Lopes, dermatologista, explica que «manifestações cutâneas razoavelmente banais podem traduzir situações internas com alguma gravidade e outras que são extremamente visíveis não ter nada de grave na sua origem». Sintoma a sintoma, aprenda a interpretar alguns sinais de alarme que a sua pele emite. A informação é um fator importante porque, segundo a mesma investigação, cerca de 64% dos portugueses não consegue identificar problemas de pele.

Borbulhas e pontos negros podem ser sinal de:

- Acne

É uma doença de predisposição genética cujas manifestações dependem de alterações hormonais que desregulam a produção de gordura, alteram as bactérias existentes no folículo e que, por sua vez, levam à inflamação.

Para além da acne vulgar existe a acne cosmética (utilização de cosméticos inadequados para o tipo de pele), a acne por intoxicação (em desastres ecológicos com o lançamento de dioxinas para a atmosfera) e a acne estival (na sequência da exposição solar e protetores solares desadequados).

- Quistos ou tumor nos ovários

A causa mais comum para o aparecimento de acne na mulher adulta prende-se, segundo o dermatologista, com a «produção irregular de hormonas sexuais podendo estar associada a quistos ou tumor nos ovários, sobretudo se estiver associado a outras manifestações, resultantes do aumento de hormonas sexuais masculinas, como o aumento de pilosidade e/ou queda de cabelo».

Consulte o dermatologista se a acne persistir ou aparecer depois dos 20 anos e/ou se verificar o aumento do número de borbulhas, infeção das mesmas e também notar mais pelos no corpo e queda de cabelo.

Será que todos os sinais são normais?

Mudanças nos sinais não são uma questão meramente estética, podem mesmo denunciar cancro da pele. Caso detete as que se seguem, marque uma consulta de dermatologia:

- Sinais assimétricos, com bordo irregular, cor não uniforme, com mais de seis milímetros de diâmetro

- Aparecimento de um sinal negro, ainda que plano

- Sinal que provoca comichão, apresenta vermelhidão ou uma ferida

- Alteração do tamanho e/ou alteração da cor (negra, castanha ou rosada)

- Sinal que sangra facilmente

Veja na página seguinte: O que a descamação, a comichão e a aspereza podem indiciar

Descamação, comichão e aspereza podem ser sinal de:

- Maus hábitos

A pele seca, sem origem patológica, distingue-se por ser opaca, fina, sensível, áspera, sem brilho e pouco elástica. Pode ser provocada por banhos frequentes (que eliminam a gordura superficial e protetora da pele) e ambientes com pouca humidade. Os cremes hidratantes ajudam a reter a humidade na pele, já os sabonetes fortes (detergentes comuns, ao contrário dos syndet (sem detergente) que lavam sem remover as gorduras) bem como os perfumes presentes em hidratantes irritam-na e podem secá-la ainda mais.

- Eczema

É um conjunto de doenças com inflamação crónica da pele. «Nestes casos, há um défice de substâncias (como a filagrina) indispensáveis para que a pele tenha a função barreira intacta. Quando isso acontece, os agentes externos vão agredila mais, provocando e propagando o eczema», explica o dermatologista. Procure um especialista se detetar o aparecimento de lesões vermelhas e crostas na pele (especialmente nos braços, cotovelos e joelhos) e se sentir comichão nessas lesões.

- Ictiose

Em casos mais extremos, a pele muito seca é uma expressão desta doença hereditária que se caracteriza por ter escamas. Existem soluções com ácido láctico que podem ajudar a removê-las. São aplicadas na pele e protegidas com uma ligadura oclusiva. Os cremes com vitamina a ácida também ajudam a eliminar o excesso de escamas.

- Alterações na circulação

Segundo José Campos Lopes, a pele seca pode acompanhar problemas na circulação venosa (varizes) que levam a que a pele fique mais «seca, fina e atrófica».

- Hipotiroidismo

Esta doença provocada pela produção insuficiente de hormonas tiroideias pode, segundo a Mayo Clinic, reduzir a atividade das glândulas sudoríferas e sebáceas, promovendo a desidratação cutânea.

Consulte o dermatologista se a pele seca for acompanhada por comichão e descamação, se problema se mantiver durante meses e se tornar desconfortável e/ou se sofre de insuficiência geral venosa (varizes). Se tem feridas na pele provocadas pelo ato de coçar e/ou se a secura é acompanhada por vemelhidão, são motivos que também justificam uma visita ao especialista.

Veja na página seguinte: A queda de cabelo é sinal de saúde debilitada?

A queda de cabelo é sinal de saúde debilitada?

É normal perdermos até 100 cabelos por dia. Quando este valor é ultrapassado deve procurar um dermatologista pois pode estar em causa um problema de saúde:

- Doenças infecciosas (febre tifoide e/ou pneumonias bacterianas)
- Doenças autoimunes (como o lúpus)
- Presença de parasitas no organismo
- Stress físico e psíquico
- Doenças dermatológicas (alopécia areata e tinhas do couro cabeludo)

A queda de cabelo pode estar também relacionada com uma situação de anemia ou com psiconeuroses (como a tricotilomania, tique de puxar os cabelos) ou ainda com perturbações endócrinas (doenças da tiroide).

Unhas doentes

Denunciam-se por serem secas, quebradiças, sem brilho e mais endurecidas. Mas há outras características que indicam que está na hora de ir ao médico:

- Unhas com ranhuras e assimetrias

Problemas circulatórios podem manifestar-se através de alterações das unhas. Nestes casos, as unhas nascem com ranhuras e assimétricas, tornando-se frágeis e vulneráveis ao aparecimento de fungos.

- Estrias nas unhas

Entre outros problemas que estão na base nas unhas danificadas, a anemia é uma delas. Provoca má formação das unhas,
estrias ou marcas.

- Pequenos furos nas unhas

O pitting (semelhante a pequenas alfinetadas) está associado a várias doenças da pele entre elas a psoríase e o líquen plano (doença inflamatória de causa desconhecida). «Esses sinais só regridem quando se trava a doença que os causaram», alerta José Campos Lopes.

- Cor escura

«É, até que se prove o contrário, sintoma de uma micose ou resultado de um traumatismo que pode condicionar o crescimento da unha», salienta o dermatologista que desmente mitos em torno do tema, como é o caso da manifestação de doenças do fígado através do aparecimento de manchas nas unhas. Sabe-se ainda que nos microtraumatismos repetidos a pessoa pode não sentir dor e a unha revelar uma cor diferente.

Texto: Cláudia Vale da Silva e Nazaré Tocha com José Campos Lopes (dermatologista)