«É tão simples como isto: os nossos cérebros estão a mudar. Os pensamentos da mulher, a sua capacidade de concentração e a quantidade de combustível que flui para os centros intuitivos dos lobos temporais do cérebro estão todos ligados aos circuitos que estão a ser reestruturados e são por eles afectados. Depois de trabalhar com milhares de mulheres que passaram por este processo, além de eu própria o ter experimentado, posso afirmar com grande certeza que a menopausa é uma fase de evolução empolgante, e que, quando participada conscientemente, encerra uma imensa promessa de transformação e cura para os nossos corpos, mentes e espíritos.»

Christiane Northrup, autora destas linhas, não é só mais uma das celebridades que se sentou no sofá de Oprah Winfrey. É ginecologista-obstetra, professora assistente de Ginecologia-Obstetrícia no College of Medicine na Universidade de Vermont e autora do livro «A Sabedoria da Menopausa».

Uma obra preenchida por casos reais, a sua experiência pessoal, as conclusões de vários estudos científicos, estratégias para a saúde e bem-estar e, acima de tudo, transmissora de uma mensagem extremamente positiva: a de que a menopausa não é o fim mas um princípio.

Quais são as ideias erradas que ainda subsistem em relação à menopausa?

O primeiro mito é que esta etapa é o fim da sexualidade e beleza femininas. É exactamente durante a menopausa que muitas mulheres descobrem a melhor fase da sua vida sexual porque finalmente conseguem ter tempo e energia para cultivar uma relação amorosa quer consigo mesmas quer com o parceiro. O desejo sexual não tem obrigatoriamente de se desvanecer. Aliás é possível potenciá-lo mesmo sem o recurso a hormonas.

De que forma?

Antes de mais, a mulher tem de dar atenção à sua vida sexual. Encontrar tempo para ela. Compreender que o desejo feminino é o que realmente excita um homem e que a libido assenta no facto de pensarmos em sexo, sentirmo-nos sensuais, compreender que a sexualidade e espiritualidade estão interligadas.

Muitas mulheres que estão na meia-idade têm de aprender a lidar com a raiva que sentem nesta fase. Basicamente, o que a mulher tem de fazer é optar entre cultivar a raiva ou sentir prazer.

As duas são incompatíveis. Ela terá de reinventar-se. Algumas mulheres necessitam de passar algum tempo a sós, para recarregar baterias e para que o desejo desperte.

Isto não acontece, obviamente, de um dia para o outro, mas com a passagem do tempo e alguma interiorização a mulher pode voltar a sentir-se fonte de desejo.

Que estratégias podem ajudar uma mulher a estimular o prazer sexual?

É aconselhável que a mulher redescubra o seu corpo, encontre o prazer a sós para que possa saber aquilo que a satisfaz e ensinar o seu parceiro a dar-lhe prazer.

Ela precisa de se lembrar que o clitóris possui 8000 terminações nervosas e que foi concebido apenas para o prazer. Existe um óptimo livro, assinado por dois médicos, Steve e Vera Bodanski, intitulado «The Illustrated Guide to Massive Sexual Orgasm», em que se podem encontrar instruções claras sobre a forma como podemos aumentar a nossa realização a nível sexual.

Acredito que o facto de darmos atenção à nossa sexualidade ajuda-nos a tornarmo-nos mais atraentes aos olhos do nosso parceiro. Paralelamente, é importante que a mulher pratique exercício físico para se manter em forma.

Para além da sexualidade, há outros mitos em relação à menopausa?

Por exemplo, a ideia de que a menopausa arrasta uma série de problemas físicos como o cancro da mama, osteoporose e doenças cardiovasculares. Ainda que a incidência destas patologias seja, de facto, maior depois da menopausa, ela por si só não é a sua causa.

Estes quadros são, em grande parte, o resultado final de uma série de comportamentos ao nível do estilo de vida que se manifestam na meia-idade.

Depois, há também a ideia errada de que, dadas as alterações hormonais que ocorrem na menopausa, as mulheres podem tornar-se mentalmente perturbadas.Uma mulher que até à entrada da menopausa tenha sido equilibrada tem todas as possibilidades de vir a ser ainda mais feliz depois.

Quais são as vantagens e desvantagens da terapia hormonal de substituição?

Sabe-se que a terapia hormonal de substituição tem várias vantagens, nomeadamente diminui o risco de osteoporose, de cancro do intestino, o enrugamento da pele e contribui para espessamento da mucosa vaginal, facilitando as relações sexuais.

Os riscos desta terapia também são conhecidos, como o aumento do risco de cancro da mama com receptores hormonais positivos e do risco de acidente vascular cerebral e de ataque cardíaco em mulheres que estão na menopausa há mais de uma década.

No seu livro «A Sabedoria da Menopausa» aponta um plano alimentar que pode ajudar a mulher a reequilibrar os seus níveis hormonais. Pode-nos contar algumas das suas regras essenciais?

Uma das principais regras passa pela limitação do consumo de «alimentos brancos», como o arroz branco, produtos com açúcar, processados, batatas, massa. Todos estes alimentos possuem um elevado índice glicémico, ou seja podem disparar os níveis de açúcar no sangue muito rapidamente, o que vai resultar no aumento de insulina que, por seu turno, interfere no metabolismo do estrogénio e causa inflamação ao nível dos tecidos e danifica-os.

O consumo de hidratos de carbono com elevado índice glicémico é o factor que está na base da obesidade que promove a diabetes, doenças cardiovasculares, cansaço, insónia e até cancro.

Então que alimentos se devem privilegiar?

Frutas frescas e vegetais (excluindo as batatas), cereais integrais, carnes magras, peixe, gorduras saudáveis como azeite, óleo de linhaça, avelãs, óleo de peixe... É uma boa ideia tomarem suplementos vitamínicos e minerais de forma a compensar os níveis de nutrientes.

Não há problema em comer ocasionalmente uma sobremesa, o chocolate negro é um dos verdadeiros elixires da vida, e pode-se beber um copo de vinho diariamente.

A qualidade da pele é uma das maiores preocupações que as mulheres têm nesta fase. Que conselhos pode dar?

O principal segredo para uma pele atraente e saudável é, antes de mais, a dieta que a mulher segue. Mas, para além disso, é importante que use um protector solar diariamente, beba pelo menos oito copos de água por dia e use cosméticos ricos em antioxidantes.

Aconselho que se opte pelos que contêm na sua fórmula extracto de chá verde, coenzima Q10, vitamina C, A, polifenóis, tocotrienol, óleos essenciais, ácido alfa-lipóico ou DMAE, entre outros. O ideal é procurar fórmulas sem parabenos ou outros conservantes.

A PERIMENOPAUSA
Saiba se a menopausa está a chegar

Oficialmente a menopausa, que geralmente ocorre entre os 45 e os 55 anos, é apontada como sendo a altura em que os ciclos menstruais cessam definitivamente (um quadro que é determinado pelo facto de ter passado um ano desde a última menstruação).

Acontece, contudo, que nos anos que antecedem a menopausa registam-se alterações hormonais (níveis de progesterona, testosterona e estrogénio), ocasionando uma série de sintomas, nomeadamente a diminuição do apetite sexual, períodos irregulares ou anormais, retenção de líquidos, sensibilidade e tumefacção dos seios, aumento de peso, alterações de humor, dores de cabeça, especialmente no período prémenstrual. São mudanças que ocorrem durante uma etapa de transição a que se chama perimenopausa e que costuma ter lugar por volta dos 40 anos.

Segundo Christiane Northrup, «a perimenopausa é como um renascimento, mas tal como o momento em que nascemos, também passamos por um de “trabalho de parto” que pode ser desconfortável e associado a sintomas que não terão de implicar necessariamente a utilização de medicamentos. Mas, por outro lado, as mulheres nunca devem sofrer em silêncio quando se pode fazer muito para as ajudar e sem qualquer risco».

Texto: Nazaré Tocha com Christiane Northrup (ginecologista-obstetra e professora assistente de Ginecologia-Obstetrícia no College of Medicine na Universidade de Vermont)