Na dose certa, a exposição solar faz maravilhas pela saúde e bem-estar. Além de a pele ficar mais bonita e os ossos mais resistentes, alguns raios ultravioleta (UV) são suficientes para melhorar o humor e o desempenho sexual. Em algumas doenças, tem mesmo um poder curativo. Após meses de inverno prolongado, desfrute agora do impacto positivo que a luz solar pode exercer no seu organismo, mas sempre com proteção e moderação.

O tom bronzeado indica que os mecanismos de proteção da pele foram acionados contra os raios UV. Ainda assim, o sol pode beneficiar a saúde cutânea. Saiba quais são as doenças e os problemas que se dão bem com os raios solares. Fique também a par das patologias que reagem ao sol e ao calor.

Alivia os sintomas da psoríase

O efeito benéfico do sol na pele está, segundo David Serra, dermatologista, «relacionado com a capacidade de atenuar os sintomas de algumas doenças dermatológicas, como a psoríase ou outras doenças inflamatórias crónicas da pele, mais raras, como a pitiríase liquenóide crónica ou a parapsoríase». Como explica o especialista, «os raios UV têm um efeito imunossupressor que pode reduzir as placas avermelhadas da psoríase».

Aumenta a hidratação cutânea

Se tem a pele seca, já deve ter notado que, no verão, ela está mais hidratada. «Este tipo de pele melhora com o calor, devido ao aumento da secreção das glândulas sudoríparas e sebáceas. Pode notar-se uma melhoria significativa de doenças agravadas pela secura, como o eczema atópico. No entanto, este efeito não é consistente, já que há outros fatores a atuar em sentido contrário, como o excesso de transpiração associado ao calor, que pode agravar a situação.

Ossos e músculos mais fortes

Os benefícios da luz solar na saúde muscular e óssea variam de pessoa para pessoa, devido a condicionantes genéticos que determinam o metabolismo do cálcio. Mas não há dúvida de que são importantes. O sol promove a absorção do cálcio. Estar ao ar livre num dia de sol é fundamental para fazer a ativação da vitamina D no organismo, a qual tem um papel fundamental na saúde dos ossos.

«A primeira fase da síntese da vitamina D ocorre através da exposição da pele à luz solar e é essencial para que o cálcio dos alimentos que ingerimos se deposite nos ossos». Se não existir exposição solar, «a falta de vitamina D pode ameaçar o equilíbrio entre os depósitos ósseos de cálcio e a sua distribuição nas células do organismo que dele necessitam», elucida o reumatologista Augusto Faustino.

Menos dores

O sol previne ainda dores musculares. Como explica Augusto Faustino, «uma vez que a vitamina D interfere na estrutura óssea e no tónus muscular, pode também condicionar os sintomas de várias doenças, nomeadamente a dor». Os músculos agradecem a exposição regrada à luz solar. «Funciona como um relaxante, reforçando a atividade muscular e promovendo o equilíbrio postural», garante o especialista.

«Basta uma exposição reduzida para tirar partido dos benefícios do sol», garante Augusto Faustino. «Em regra, nos países mediterrânicos, que têm uma exposição solar relativamente constante, a exposição informal que ocorre diariamente quando saímos à rua é suficiente», acrescenta ainda.

O sol melhora o humor

O sol é essencial para preservar o bem-estar e ajuda a regular o ritmo biológico do organismo. Estimula as hormonas do bem-estar. Fernando Medeiros Paiva, psiquiatra, lembra que «a exposição ou a ausência de luz têm uma ligação direta aos estádios emocionais. Alteramos algumas estruturas a nível cerebral porque a luz penetra pelos nossos olhos, levando à libertação de substâncias essenciais, como as endorfinas e outros neurotransmissores, que nos conferem energia e bem-estar».

Uma pessoa bem-humorada sente-se mais feliz, o que «vai interferir obviamente no desejo e na qualidade de vida sexual», acrescenta o especialista. O sol tem ainda um efeito antidepressivo. O sol pode ser usado para combater a tendência para estados depressivos. «Mesmo que o paciente esteja a ser medicado é prioritário estimulá-lo a criar um estilo de vida saudável, que inclui deitar-se e levantar-se cedo», conta Fernando Medeiros Paiva.

Os doentes bipolares também podem sofrer com desequilíbrios no ritmo de sono-vigilância. «Em doentes já tratados, por vezes, basta uma mudança no estilo de vida, uma variação num fim de semana, em que o paciente se deita e levanta mais tarde, sem apanhar a luz do amanhecer, para ter uma episódio de depressão ou de euforia», revela o psiquiatra.

O sol também dá energia. A melhor forma de começar o dia revigorada é, na opinião de Fernando Medeiros Paiva, «expor-se à luz, em especial no princípio da manhã, que tem mais qualidade». Não é por acaso que «os nórdicos usam lâmpadas especiais de exposição para obter o efeito do nascer do sol e da luz da manhã», sublinha.

Situações em que o sol pode ser prejudicial:

- Acne
Apesar da aparente melhoria nos meses de verão, é frequente haver um aumento da intensidade da doença em setembro ou outubro, especialmente quando houve exposição solar excessiva.

- Melasma
As manchas acastanhadas que surgem no rosto, sobretudo em mulheres jovens, tendem a agravar-se com o sol. Qualquer exposição tem de ser moderada e altamente protegida.

- Rosácea
A exposição solar pode provocar lesões vasculares (couperose) e inflamatórias (pápulas vermelhas com ou sem pus) nesta doença caracterizada por vermelhidão da pele.

- Herpes labial
O efeito imunossupressor dos raios UV facilita a atividade do vírus, pelo que a infeção acontece frequentemente após uma exposição solar intensa.

- Lúpus
A fotossensibilidade elevada é uma das principais fragilidades desta doença. Basta uma exposição relativamente ligeira para surgir uma reação inflamatória.

Os benefícios da lua

Não é só a luz do sol que é importante, mas também a sua ausência. A escuridão potencia a produção de melatonina, imprescindível ao sono. Só dormimos se esta hormona for produzida, o que apenas acontece no escuro. É também durante o sono que as crianças produzem a hormona do crescimento. Logo, se não dormem, não crescem.

A falta ou excesso de luz pode potenciar estados depressivos. Há depressões muito ligadas à ausência de luz ou de escuridão porque não são libertadas substâncias a nível cerebral, como o cortisol, para dar energia durante o dia, ou a melatonina, durante a noite.

Texto: Fátima Lopes Cardoso com Augusto Faustino (reumatologista), David Serra (dermatologista) e Fernando Medeiros Paiva (psiquiatra)