Diz o prestigiado cardiologista Valentín Fuster que «é necessário reservar um momento todos os dias para nós mesmos, somente para pensar. Parar uns minutos é bom para o coração».

Também diz que, apesar das pressas da sociedade atual, foram poucos os doentes com doenças coronárias que se queixavam apenas de stresse. «Quase sempre há por trás outros fatores de risco, como o colesterol alto, o tabagismo, a hipertensão… O stresse pode desencadear um enfarte, mas nunca é a sua causa», refere ainda.

Sem dúvida que para ter um coração saudável não há uma fórmula mágica, há que atuar em muitas frentes, nomeadamente estando atento aos fatores de risco que se seguem.

TENSÃO ARTERIAL

Para que o sangue circule, o coração deve bombeá-lo a uma determinada pressão, que é a adequada quando permite que os tecidos recebam o sangue de que necessitam em cada momento. Se a tensão está abaixo desse nível óptimo, falamos de hipotensão, se está acima é conhecida por hipertensão. A última é muito mais frequente e castiga as artérias, que se tornam rígidas e mais estreitas, dificultando a irrigação sanguínea, levando a que o coração tenha de fazer muito mais esforço para fazer o sangue circular.

O que pode fazer?

Medir a tensão com regularidade. Se os valores foram iguais ou superiores a 140 (máxima) e 90 (mínima) – ou 14/9, como normalmente dizemos – vá ao médico, é sinal de hipertensão. Para prevenir este problema, faça exercício físico, controle o peso, não fume e siga uma dieta saudável, equilibrada, com pouco sal e muitos frutos e legumes crus.

Há tratamento?

Sim, existem vários medicamentos seguros e eficazes, mas é essencial ter uma alimentação saudável, com pouco sal e fazer exercício físico regular. Não se automedique, nem abandone os tratamentos prescritos pelo médico.

COLESTEROL

É uma gordura que existe no sangue e, quando o seu valor é muito elevado, vai-se depositando pouco a pouco nas paredes das artérias. Em alguns casos, pode mesmo chegar a obstruí-las, impedindo a passagem do sangue e do oxigénio, provocando enfartes, tromboses, entre outras doenças cardiovasculares.

As causas do colesterol aumentado podem ser genéticas (presume-se que 20 mil pessoas padeçam de hipercolesterolomia familiar em Portugal) mas na maior parte dos casos são ambientais, ou seja, derivam de um estilo de vida e uma alimentação incorreta.

Há tratamento?

Sim existem vários medicamentos seguros e eficazes, como as estatinas, os fibratos e os fitoesteróis (estes últimos integram alguns alimentos funcionais, como as margarinas e bebidas lácteas), mas é essencial ter uma alimentação saudável, com baixo teor de gorduras, especialmente de origem animal.

DIABETES

É uma doença crónica que resulta do aumento dos níveis de glicose no sangue, devido ao pâncreas não segregar insulina suficiente ou por esta não funcionar bem.

Há dois tipos de diabetes. Existe a diabetes tipo 1, no qual a pessoa não produz insulina e tem de administrá-la. A outra é a do tipo 2, também conhecida por diabetes do adulto e que não requer administração de insulina.

A diabetes lesiona os vasos sanguíneos e dá origem a complicações cardiovasculares, renais, oftalmológicas e cerebrais.

O que pode fazer?

Meça os níveis de açúcar no sangue, pelo menos, uma vez por ano. Se o médico suspeitar que tem diabetes, terá de medir os níveis de glicose várias vezes ao dia. Dieta e exercício ajudam a manter os níveis dentro dos parâmetros normais.

Há tratamento?

Sim, os hipoglucemiantes orais (um tipo de medicamentos que reduz o nível de glicose de maneira eficaz) e a insulina, mas, uma vez mais, não podemos esquecer uma dieta adequada.

OBESIDADE

É o excesso de peso devido ao aumento da gordura corporal. Pode ter origens genéticas, mas, na maior parte das vezes, é provocada pelos maus hábitos alimentares e falta de exercício físico.

É perigosa, sobretudo se a gordura estiver acumulada no abdómen, porque origina uma resistência à ação da insulina e aumenta o risco cardíaco. O ideal é que o perímetro da cintura não supere os 102 cm no homem e os 88 cm nas mulheres.

O que pode fazer?

Mexer-se, fazer exercício de forma regular e controlar as calorias que ingere diariamente. Adote uma alimentação pobre em gorduras saturadas e rica em produtos que compõem a dieta mediterrânica. Vigie o seu peso e o índice de massa gorda, que não deve ser superior a 25.

Há tratamento?

Existem alguns fármacos e, para os casos mais graves, algumas formas de cirurgia, mas é fundamental alterar o estilo de vida.

SEDENTARISMO

Traduz um estilo de vida com falta de exercício físico e que se caracteriza por passar horas sem fim sentada, quer nos momentos de ócio, quer nos de trabalho e andar de carro para todo o lado.

O que pode fazer?

Aumentar a atividade física. Em casa, faça as tarefas com energia. No trabalho, aproveite todas as oportunidades para se mover e faça pequenos exercícios mesmo sentada. No seu tempo livre, caminhe muito e faça desporto.

Há tratamento?

O fundamental é mexer-se e fazer exercício físico. Se esteve muito tempo parada e quer voltar a fazer desporto ou apresenta algum fator de risco, fale com o seu médico sobre as atividades mais adequadas à sua idade e saúde. Tão prejudicial é não fazer exercício como lançar-se a uma prática intensa e não controlada.

TABACO

Fumar é um hábito nocivo que provoca todo o tipo de doenças respiratórias e cardiovasculares. O risco é proporcional ao número de cigarros fumados por dia e ao número de anos há que se fuma.

A nicotina danifica as paredes internas das artérias, altera a coagulação e aumenta o colesterol; o monóxido de carbono diminui o aporte de oxigénio e aumenta o risco da formação de coágulos e de colesterol.

O que pode fazer?

Deixe de fumar. Fixe uma data. Faça uma lista com os motivos que tem para o fazer e aponte quantos cigarros fuma por dia e em que circunstâncias. No dia antes, deite fora todo o tabaco que tem em casa e no trabalho, faça o mesmo com os cinzeiros. Faça exercício e acalme a ansiedade com água, fruta, sumos naturais e pastilhas sem açúcar.

Há tratamento?

Sim, deixar de fumar! Se necessitar, existem terapias de apoio e fármacos que a vão ajudar a superar a ansiedade e irritabilidade comuns aos dependentes de nicotina. Para saber mais, clique aqui.

STRESSE

O stresse é uma reação natural que nos permite enfrentar situações de alarme. O problema surge quando esse stresse se mantém no tempo, quando o corpo não é capaz de recuperar o equilíbrio e essa ativação fisiológica é excessiva e crónica, o que afeta a saúde. Faz subir a tensão arterial e a frequência cardíaca, o que por sua vez aumenta as necessidades de oxigénio no miocárdio e causa um esforço demasiado grande ao coração. Também cria problemas respiratórios e digestivos, além de alterações no colesterol e na coagulação do sangue.

O que pode fazer?

Em primeiro lugar, descobrir o que o desencadeia. Depois, coma bem (diga adeus à fast food e não esteja muitas horas sem comer), faça exercício, não fume, nem consuma drogas, não abuse do álcool e relaxe com uma actividade que lhe dê prazer ou alguns minutos de descanso todos os dias.

Há tratamentos?

Para controlar o stresse, é mais importante mudar o estilo de vida do que tomar medicamentos.

Texto: Rita Caetano