Chama-se Programa de Vigilância em Saúde Infantil, foi desenvolvido pela Direção Geral da Saúde (DGS) para melhorar a prestação de cuidados de saúde primários a crianças e jovens até aos 18 anos e impõe novas regras.

Na prática, aprova alterações relacionadas com as consultas que implicam a adoção de novos boletins de saúde, também eles sujeitos a novas normas.

«Estamos a prever o lançamento para o próximo Dia Mundial da Criança (1 de junho de 2013), mas temos de garantir que as alterações são suportadas pelos sistemas informáticos em todo o Sistema Nacional de Saúde», revelou à Prevenir Bárbara Menezes, enfermeira e membro da equipa redatorial do programa. Enquanto aguarda a implementação, saiba o que vai mudar e porquê.

Consultas

Haverá alterações quanto às idades em que se realizam as consultas de vigilância nos centros de saúde efetuadas pelo médico de família e sua equipa. «Idealmente, estas questões também devem ser abordadas pelos pediatras nos consultórios», defende Leonor Sassetti, pediatra da equipa da DGS.

Até agora, ocorria uma consulta entre os 5 e os 6 anos, outra entre os 10 e os 13 anos, seguindo-se uma aos 15 anos e outra aos 18, mas, a partir de 1 de junho, serão realizadas as seguintes consultas:

- Consulta aos 5 anos

O objetivo é «verificar que estão reunidas as condições para a aprendizagem decorrer satisfatoriamente e, caso se identifique alguma questão, ir a tempo de a orientar antes do início da escolaridade. Pode ter a ver com aspetos tão básicos como a criança precisar de terapia da fala ou não ver ou ouvir bem», refere a especialista.

- Consulta entre os 6 e os 7 anos

«Esta consulta justifica-se pelo facto de haver a possibilidade de «só durante o primeiro ano de escolaridade se tornar manifesto um problema não identificado antes», adianta a pediatra.

- Consulta aos 10 anos

«No final do 4º ano é muito importante ajudar a organizar a vida da criança para ela se adaptar ao segundo ciclo, em que terá mais professores e responsabilidades, estará mais sozinha e numa escola maior com alunos de outras idades. É uma fase em que o bullying é mais frequente. Vacinas, alimentação, segurança e sono são outros temas a abordar», exclarece Leonor Sassetti.

- Consulta entre os 12 e os 13 anos

«Colocam-se questões relacionadas com a puberdade, o grupo e a autonomia. Aborda-se o aproveitamento escolar, saídas e a relação com os pais», acrescenta a especialista.

- Consulta entre os 15 e os 18 anos

«Sabendo que a adesão a estas consultas era baixa, optámos por uma única consulta neste intervalo. Os objetivos têm a ver com o crescimento, a autonomia, eventualmente escolhas profissionais, estilos de vida saudáveis e sexualidade, que deve ir sendo adequada às várias idades», acrescenta ainda.

Novas curvas de crescimento

Seguindo o exemplo de 150 países, Portugal vai adotar as curvas
publicadas pela Organização Mundial de Saúde em 2006.

«Refletem o
crescimento de crianças sem doenças de base e alimentadas segundo o
estado da arte. É com elas que a criança deve ser comparada», afirma a pediatra.

Por exemplo, o ritmo de crescimento dos bebés exclusivamente
amamentados é superior nos primeiros quatro a seis meses, mas depois
abranda.

Esta evolução saudável não estava prevista nas antigas curvas
de crescimento, o que favorecia a prescrição de suplementos alimentares
desnecessários.

Médicos mais atentos às emoções

Desenvolvimento infantil, perturbações emocionais e do
comportamento e proteção de crianças e jovens em risco ganham relevo.
«Tão importante como o exame físico, é o desenvolvimento global da
criança a cada idade, que inclui a sua relação com a família e a sua
inserção no meio escolar e social. O novo boletim frisa a importância da
esfera emocional especificando “desenvolvimento emocional e
comportamental”», revela Bárbara Menezes.

Texto: Rita Miguel com Bárbara Menezes (enfermeira na Divisão de Saúde Sexual, Reprodutiva, Infantil e Juvenil da Direção Geral de Saúde) e Leonor Sasseti (pediatra no Hospital D. Estefânia e na Direção Geral de Saúde)