«O grande princípio no que toca às vacinas é o de que devemos vacinar-nos contra as doenças que nos matam», resume o infecciologista Jorge Atouguia. É esse também o princípio do Plano Nacional de Vacinação, graças ao qual doenças como a poliomielite, o sarampo e a difteria foram erradicadas. No que toca aos adultos a única vacina que consta do plano oficial é a do tétano-difteria. A do tétano é, também, segundo Jorge Atouguia, a única vacina que é essencial  ser feita por toda a gente, sem exceção.

É que esta é uma doença que não pode ser nunca considerada erradicada, uma vez que o contágio não se faz de pessoa para pessoa mas, sim, do ambiente para as pessoas.  «As restantes vacinas podemos considerar acessórias, isto é, devem ser feitas apenas nalgumas circunstâncias ou por pessoas  que integrem os chamados  grupos de risco», elucida ainda o especialista. Estas são as vacinas que deve verificar se tem em dia:

- Vacina do tétano-difteria

O tétano é uma doença infecciosa causada pela bactéria Clostridium tetani que produz uma neurotoxina que pode ser fatal. É adquirida habitualmente por contaminação de ferimentos, sobretudo em contacto com ferro e ferrugem. Os sintomas (essencialmente neurológicos, problemas na marcha ou dores articulares) podem surgir até um mês depois, dificultando o diagnóstico. A difteria é uma doença infetocontagiosa provocada pela bactéria Corynebacterium diphteria.

«O número de casos em Portugal é residual ou mesmo inexistente, razão pela qual há quem considere que não se justificaria a vacina estar no PNV e ser administrada juntamente com a do tétano durante toda a vida», afirma Jorge Atouguia. «A favor da administração conjunta está o facto de se saber que quando são dadas em conjunto, as vacinas aumentam a resposta imune do organismo», justifica o especialista. Indicada para toda a gente, deve ser feita de 10 em 10 anos. É gratuita.

- Vacina sazonal da gripe

A gripe é uma das doenças mais antigas da humanidade. Há referências que remontam a cinco séculos antes de Cristo. É causada pelo vírus Influenza e tem maior prevalência entre outubro e março. Mata anualmente, entre 1.200 a 1.800 pessoas em Portugal. O vírus tem grande capacidade de adaptação, por isso a vacina é atualizada anualmente segundo dados epidemiológicos fornecidos pela Organização Mundial de Saúde. Está indicada para pessoas com algum grau de insuficiência respiratória, como a asma.

Também deve ser feita por pessoas com mais de 65 anos, por terem menor capacidade de resposta imunitária. Grávidas e profissionais de saúde também têm indicação para tomar esta vacina. Deve ser feita anualmente, por norma entre outubro e janeiro. É gratuita para pessoas acima dos 65 anos e para doentes integrados na rede de cuidados continuados. Na época gripal de 2014/2015, estiveram disponíveis no mercado quatro vacinas, todas comparticipadas, com preços entre os 2,77 € e os 6,05 €.

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- Vacina antipneumocócica

Em 2014, o pneumococo matou 8.424 pessoas nos hospitais públicos portugueses, uma média de 23 mortos por dia, segundo os dados da Direção-Geral de Saúde. Apesar de parcialmente prevenível através da vacinação, apenas 5,4% dos adultos estará vacinado, segundo um inquérito da Sociedade Portuguesa de Pneumonologia (SPP).  A vacinação é importante porque «o envelhecimento torna o ser humano mais vulnerável a bactérias como o pneumococo, o grande responsável pela pneumonia», explicou o presidente da SPP, Carlos Robalo Cordeiro em comunicado de imprensa.

Além da pneumonia, a vacina previne outras doenças causadas pelo pneumococo, como a meningite, a septicemia, a otite média aguda e a sinusite. Está indicada para pessoas com idade igual ou superior a 65 anos, doentes crónicos de diabetes, doenças respiratórias ou cardíacas e pessoas sem o baço. Grupos de risco, como fumadores e alcoólicos, também a devem tomar. Deve ser tomada de cinco em cinco anos ou de três em três.

A sua administração pode ser feita em qualquer altura do ano, uma vez que a pneumonia não é sazonal. No que toca a preços, a Prevenar custa 59,49 €. É gratuita para pessoas com doenças crónicas e grupos de risco. A Pneumo 23 custa 12,61 € ou entre 6,05 € e 7,94 € com comparticipação. É mais indicada para pessoas acima dos 65 anos.

- Vacina da zona (herpes zoster)

Protege contra a zona, uma doença causada pela reativação do vírus da varicela, que causa frequentemente o aparecimento de vesículas cutâneas, seguidas de crostas e que se pode prolongar no tempo com dor local intensa e incapacitante. Afeta adultos com o sistema imunitário enfraquecido, sobretudo pessoas com mais de 50 anos que tiveram varicela. Uma em cada quatro pessoas vão ter zona nalguma altura da vida, segundo um estudo da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e da Associação de Medicina Geral e Familiar divulgado o ano passado.

Esta vacina está indicada para pessoas a partir dos 50 anos que tenham tido varicela. Pessoas com debilidade imunológica, por exemplo, que tenham tido varicela e tenham cancro ou estejam a fazer tratamento com imunossupressores.  Pessoas que já tiveram zona também a devem levar. Esta vacina deve ser feita de 10 em 10 anos e tem um custo de 145,43 €. Não tem comparticipação.

As principais contraindicações das vacinas

São poucas as situações genéricas de total contraindicação das vacinas mas, ainda assim, podem manifestar-se. Estas são as mais comuns:

- Febre acima dos 38º C.

- Doença aguda atual ou muito recente.

- Reação alérgica conhecida a algum dos componentes da vacina.

- Estar constipado, a tomar antibióticos ou ter rinite ou asma não são contraindicações

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A vacina que previne o papiloma vírus humano (HPV)

É responsável por um dos cancros mais prevalentes nas mulheres, o do colo do útero, que é a segunda causa de morte por cancro nas mulheres com menos de 44 anos, segundo um relatório da Sociedade Portuguesa de Ginecologia. Mas também em ambos os sexos pelos cancros da cavidade oral, laringe e bexiga, e nos homens, pelo cancro do pénis ou anal. A transmissão é feita por via sexual. Pelo facto da sua vacina ser recente, a duração da sua eficácia não está totalmente demonstrada e as indicações têm sido alteradas nos últimos anos.

«Provavelmente, irá acabar por ter uma indicação genérica no futuro. Há duas vacinas. A que cobre os serótipos mais graves (16 e 18) e a que inclui os serótipos 6 e 11, menos prevalentes. Importante será fazer a primeira, mas pode e deve discutir a questão com o ginecologista, no caso das mulheres, e o urologista, no caso dos homens», afirma o especialista. Esta está indicada para mulheres entre os nove e os 45 anos ou com infeção prévia por HPV e para homens entre os nove e os 26 anos.

A sua administração é feita em duas doses, a segunda seis meses após  a primeira. É gratuita para adolescentes do sexo feminino entre os dez e os 13 anos. Fora do Plano Nacional de Vacinação, cada dose pode custar entre os 95 € (vacina contra os serótipos 6, 11, 16 e 18) e os 72,47 € (serótipos 16 e 18), mediante receita médica.

Texto: Bárbara Bettencourt com Jorge Atouguia (médico infecciologista) e Cristina Azevedo (farmacêutica)