Se tem mais de 50 anos este texto é para si. Porque não só tem a obrigação de zelar pela sua saúde, como pela da sua família. Mexa-se, mude a sua vida e reescreva a dos que lhe são próximos, alterando hábitos e não dando tréguas à prevenção cardiovascular. Mais de 50% de pessoas com mais de 75 anos morre de AVC, mas se não se fizer nada quando os seus netos estiverem nessa faixa etária, os números serão mais negros.

Numa época de notícias difíceis aqui fica mais uma, que nem é nova: o risco de doença cardiovascular aumenta com a idade. Mas há mais: o tipo de doença cardiovascular difere consoante a data de nascimento, sendo que “nas pessoas mais novas vê-se mais doença das artérias coronárias, que pode originar o enfarte do miocárdio e nas pessoas de mais idade é mais frequente o acidente vascular cerebral (AVC). E o que é que isto quer dizer, ao certo? “As consequências são piores para o AVC numa pessoa idosa do que para a doença coronária”, esclarece o secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. “È mais vezes fatal um internamento por AVC do que por enfarte do miocárdio”, alerta ainda Carlos Aguiar, que dá conta dos números: mais de 50% das mortes em pessoas com mais de 75 anos deve-se ao AVC, um número que desce para 35% na restante população, o que é grave.

Quando não é fatal, a doença que é a principal causa de morte no país, “deixa na sua grande maioria dos casos incapacidade, o que para pessoas com idade avançada, que muitas vezes já tem limitações, é ainda mais complicado”, avisou à margem do XXXII Congresso Português de Cardiologia, que se realizou em Lisboa.

Boas notícias

Mas não é caso para parar a leitura agora. Há boas notícias e luz ao fundo do túnel. É que se é verdade que devia ter começado a se preocupar com a sua saúde cardiovascular há muitos anos - “35/40 anos já é tarde demais” – não é menos verdade que, se já passou o meio século de vida, provavelmente teve na sua juventude hábitos mais saudáveis que os das gerações seguintes. E por isso, tranquiliza o médico, “é possível que as artérias não estejam em tão mau estado”.

O segredo é não ficar à espera que apareçam sintomas, já que em muitos casos, “eles nem aparecem”. “Ter história familiar é razão suficiente para procurar mais precocemente e mais activamente um médico para fazer avaliação de risco cardiovascular ou identificar alguma doença já existente”, defende Carlos Aguiar. E prossegue: “Se acumulamos vários factores de risco: a tensão arterial um bocadinho alta, o colesterol um bocadinho alto, o nosso peso um bocadinho acima, estes vários bocadinhos transformam-se porque os factores têm um efeito multiplicativo uns sobre os outros”. Por isso o especialista é taxativo: “quem tem vários factores de risco deve preocupar-se”. Com o avançar da idade é urgente que vigie com particular atenção “o açúcar no sangue e a tensão arterial, porque com a idade tudo aparece mais depressa”, elucida ainda o médico.

Prevenir primeiro

Em muitos casos, as pessoas não se livram de fazer prevenção com medicamentos. “Começa a fazer-se cada vez mais e mais cedo”, explica Carlos Aguiar, mas isto é só em quando há factores de risco assinaláveis. “O caminho passa em primeiro lugar pelas medidas não farmacológicas e pela correcção do estilo de vida, depois vai sobrar um conjunto de pessoas para as quais o risco cardiovascular vai continuar a ser alto”, aclara. “Conseguimos mudar a alimentação, o sedentarismo, a obesidade, mas não conseguimos alterar a história familiar ou uma doença genética que cause valores altos de colesterol logo à nascença”, enaltece. Mas reforça: “As medidas de estilo de vida têm de estar à frente de tudo”. O primeiro passo da mudança de vida é, portanto, seu.

No caso de o risco permanecer elevado e precisar de medicação, consciencialize-se de que será para o resto da vida. Nos seniores, que normalmente já tomam medicação para outras patologias, aumenta o risco de esquecimento da toma, recorda o secretário-geral da SPC. “A falta de um comprimido pode levar a internamento por descompensação das suas múltiplas doenças”, avisa.

“Por outro lado, com tantos medicamentos há mais efeitos secundários”, sublinha. Carlos Aguiar defende que o “trabalho de perto com o médico de família é fundamental, já que é preciso monitorizar se a medicação está a ser correctamente administrada”. “Há pessoas mais velhas completamente isoladas”, recorda.

Todos podem ajudar

Se chegou até aqui na leitura, não é tempo de se deprimir. Porque a verdade é que muito destes problemas só existem porque vivemos em média mais oito anos. O que “se deve em muito aos avanços da medicina cardiovascular”, defende o cardiologista. Que no entanto, avisa: “a guerra no terminou”. “O que conseguimos de resultados fantásticos nos últimos anos ou décadas em melhoria da esperança média de vida, ainda não conseguimos na diminuição daquela que é ainda a primeira causa de morte no Mundo e em Portugal”, afirmou.

O médico está confiante, contudo, de que se está no bom caminho e fala em boas novas a vários níveis. No que toca à prevenção, salienta uma campanha que foi desencadeada pela Federação Mundial do Coração, para alertar os políticos de todo o Mundo, sobretudo os que têm responsabilidades na área da saúde, para colocar a questão no topo das prioridades.

Quanto aos tratamentos também há novidades. “Estão a aparecer formas mais seguras de tratar os mais velhos, já que muitas das intervenções foram pensadas para pessoas jovens e que não têm tanto risco de complicações”, explica. E acrescenta: “Está-se a trabalhar em medicamentos mais seguros, a avaliar novos mecanismos de diagnóstico não invasivo, nomeadamente um exame que permite detectar a doença coronária que antes só seria possível com um cateterismo”. Carlos Aguiar assegura que a medicina está a fazer a sua parte e com resultados. Mas para vencer a guerra é preciso que cada um se torne soldado desta batalha. Aliste-se, por si e pelos seus.

Sinais de Alarme do AVC

• Entorpecimento, formigueiro ou fraqueza na cara, braço ou perna (especialmente num dos lados do corpo)
• Sensação de confusão: dificuldade em falar e compreender.
• Dificuldades de visão (em apenas um olho ou em ambos).
• Dificuldade em andar, equilibrar-se ou coordenar os movimentos.
• Dor de cabeça forte, sem causa aparente.

*se sentir estes sintomas ligue de imediato para o 112. A intervenção precoce é fundamental.

Outras doenças cardiovasculares

• Hipertensão – pressão arterial elevada.
• Aterosclerose – presença de certos depósitos na parede das artérias, incluindo substâncias gordas, como o colesterol e outros elementos que são transportados pela corrente sanguínea.
• Doença das Artérias Coronárias – provocada pela aterosclerose pode iniciar-se ainda durante a infância, manifestando-se depois dos 50.
• Cardiopatia Isquémica – termo utilizado para descrever as doenças cardíacas provocadas por depósitos arterioscleróticos que conduzem à redução do Iúmen das artérias coronárias. O estreitamento pode causar angina de peito ou enfarte de miocárdio, se em vez de redução do Iúmen arterial se verificar obstrução total do vaso.
• Doença Arterial Coronária – situação clínica em que existe estreitamento do calibre das artérias coronárias, provocando uma redução do fluxo sanguíneo no músculo cardíaco.

Fonte: Alto Comissariado da Saúde

Texto: Sandra Cardoso

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