A idade da menopausa está predeterminada à nascença e não é possível retardá-la, mas existem fatores de agressão externos que podem antecipar o seu aparecimento.

Se não está ao alcance da mulher alterar o código genético, é possível proteger-se de hábitos nocivos e preparar-se para viver esta nova fase da vida com total saúde e tranquilidade, atuando de forma preventiva e atempada.

Em média, a mulher portuguesa entra na menopausa entre os 51 e os 52 anos, uma idade similar à tendência mundial. Apenas uma em cada 100 tem a menopausa aos 40 anos. Não se sabe exatamente quando vai aparecer, mas existem primeiros sinais aos quais deve estar atenta.

Como explica Tereza Paula, ginecologista e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Menopausa, «é um diagnóstico que só se pode fazer a posteriori. Quando a mulher está um ano inteiro sem menstruar significa que entrou na menopausa e que os ovários deixaram de funcionar, tanto a nível hormonal como reprodutivo».

Os primeiros sinais

A fase em que começam a surgir indícios de alterações hormonais corresponde, na verdade, à perimenopausa. «É o período de tempo entre o início das irregularidades do ciclo menstrual até à menopausa. Durante este tempo, poderão aparecer alguns sintomas», esclarece a especialista. Os primeiros sinais de evidência são «alterações no ciclo menstrual. As menstruações começam a ficar irregulares e o fluxo, geralmente, torna-se mais abundante», sublinha.

Mudanças biológicas

A quebra da produção de estrogénios e progesterona vai provocar outras mudanças profundas a que convém estar alerta. «A falta de hormonas femininas vai justificar as queixas vasomotoras (como afrontamentos e suores noturnos), a instabilidade do humor e outras alterações em todos os órgãos que têm recetores de estrogénios, quase todos no corpo feminino, nomeadamente na pele, cabelo, unhas, ossos, boca, olhos, do cérebro aos tecidos do aparelho geniturinário, às mamas, entre outros. Com a baixa de estrogénios, todos estes órgãos passam a ressentir-se», adverte.

Fatores de risco

O tabaco é um dos factores externos que mais contribuem para acelerar o início da menopausa, ao interferir no metabolismo de estrogénios. «As mulheres que fumam podem ter a idade da menopausa antecipada um ano», alerta a ginecologista», alerta a ginecologista. Além do tabaco, «medicação agressiva, como a quimioterapia, também pode provocar o acelerar do processo, pelo que deve falar com o seu médico».

Algumas cirurgias, como do útero e dos ovários/ trompa, «também aumentam o risco de antecipar a menopausa, entre seis meses a um ano», sublinha a especialista. «Fatores como o estado de nutrição e hábitos alcoólicos também podem interferir», adverte ainda.

Preservar a saúde e beleza

A menopausa não é o fator mais relevante no envelhecimento da pele, cabelo e unhas, ao contrário do que geralmente se pensa. Segundo a vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Menopausa, «a perda de tonicidade e firmeza da derme tem mais a ver com fatores externos do que biológicos».

«O sol e o tabaco causam diminuição de colagénio, que assegura o enchimento da derme, levando à quebra das fibras elásticas e ao subsequente aparecimento de rugas e envelhecimento precoce. A menopausa tem alguma influência, mas não é a principal causa», acrescenta ainda.

O papel do stresse

Perante a falta de provas científicas de que o stresse possa antecipar a menopausa, Tereza Paula lembra, no entanto, que «está comprovado que interfere em todos os campos da vida. Quer seja muito intenso, grave ou ir atuando ao longo do tempo, o stresse leva à produção de diversas substâncias, entre as quais hormonas com ação a vários níveis do organismo, nomeadamente no sistema imunitário (diminuindo as defesas naturais), no sistema gastrointestinal, no sistema cardiovascular, na pele, na activação de substâncias com papel importante na inflamação. Todos estes factores podem levar ao aparecimento de doenças», aponta.

Atitude defensiva

Para garantir que a ordem natural do organismo feminino não é perturbada, Tereza Paula aconselha manter-se hábitos de vida saudável. «Deixar de fumar é muito importante. Praticar exercício físico promove a saúde, logo, estamos a atuar também ao nível dos ovários», explica a especialista.

«Chegar à menopausa é inevitável e é bom que aconteça, mas é melhor que seja de forma saudável e com capacidade para lidar com as alterações. A mulher deve apostar numa alimentação rica em cálcio, verduras, fruta e diminuir o consumo gorduras e hidratos de carbono, para prevenir a osteoporose e as doenças cardiovasculares», afirma ainda.

Preparada para as mudanças?

Tereza Paula, ginecologista, identifica as soluções da medicina para as alterações que a menopausa traz e que afetam a qualidade de vida de muitas mulheres:

- Afrontamentos

«Os calores súbitos, que aparecem, geralmente, na região do peito, da face, da cabeça e da nuca significam que os ovários ainda estão a funcionar, mas de forma irregular. Durante um mês, a mulher pode ter essa sintomatologia. Depois, o ovário volta a trabalhar e desaparece», esclarece a especialista.

«Há uma instabilidade na produção hormonal que leva às irregularidades menstruais, aos afrontamentos, à alteração de humor», realça. Usar roupas de algodão, ter um elástico e um leque na carteira para apanhar o cabelo, tomar banhos de água morna, antes de deitar, beber líquidos frios e procurar locais com temperaturas baixas pode ajudar.

- Sexualidade

A vida sexual «vai ser reflexo do que foi antes. As alterações hormonais vão provocar mudanças físicas e uma redistribuição da gordura corporal e, mesmo mantendo o peso, as formas do corpo mudam. Claro que a imagem interfere na sexualidade da mulher. Por outro lado, a possível alteração de humor leva a não estar tão disponível para o sexo» e a secura vaginal pode condicionar o prazer.

Para proteger a autoestima, é importante cuidar da beleza e praticar exercício físico. «Para prevenir a secura vaginal, dores nas relações sexuais, infecções vaginais e urinárias e alguns tipos de incontinencia urinária existem produtos farmacêuticos de aplicação local que devem ser usados durante toda a vida», sublinha a responsável.

- Saúde

«A terapêutica hormonal da menopausa é a que mais previve a osteoporose e ajuda a prevenir doenças cardiovasculares, como o enfarte agudo do miocardio. Os riscos devem ser individualizados e ponderados em relação aos benefícios que pode trazer. A terapêutica não aumenta o risco de cancro da mama nas mulheres com maior probabilidade de desenvolverem a doença, mas mulheres com cancro da mama não podem fazer terapêutica hormonal», elucida Tereza Paula.

Em que idade vou entrar na menopausa?

Uma vez que a idade da menopausa é muito influenciada pela herança genética, a idade em que a sua mãe entrou nesta etapa da vida pode ser um indicador. Segundo Tereza Paula, «geralmente, mães e filhas têm menopausas próximas de idade. Uma mulher cuja mãe teve uma menopausa aos 48/49 anos tenderá a ter uma menopausa por volta dessa altura. Ao contrário, se a mãe iniciou a menopausa aos 55 anos também irá ter mais tarde».

A melhor forma de encarar esta etapa

Os 3 conselhos fundamentais da ginecologista:

1. Quando a menopausa chegar, enfrente-a com otimismo. Em vez de se focar no que está a perder, pense no que irá ganhar. «Os filhos saíram de casa. Aproveite para participar na nova vida deles de uma forma mais relaxada. Já não tem a menstruação, mas poderá desfrutar do ato sexual com prazer sem ter medo de engravidar», exemplifica.

2. Descubra o que realmente gosta de fazer e invista em atividades que lhe dão prazer. «Lembre-se que, aos 50 anos, terá uma maturidade que não tinha anteriormente. Logo, poderá estar mais apta para assumir novos desafios», afirma.

3. Estimule a mente com leitura, viagens e outras oportunidades de descoberta. «O que é novo para o ser humano também o ajuda a sair do entorpecimento em que por vezes se cai», esclarece a especialista.

Menopausa antes dos 40 anos

Uma menopausa precoce, que aparece antes dos 40 anos, provocada por doenças genéticas ou oncológicas, não deve ser confundida com a que é antecipada por agressões externas, como o tabagismo. Nestes casos «nada se pode fazer para impedir o seu aparecimento antes da idade», explica Tereza Paula.

«Trata-se de uma doença e implica tratamentos hormonais de substituição. Tal como a diabetes precisa de insulina, uma mulher com menopausa precoce necessita de fazer tratamento hormonal para poder evitar uma série de doenças e manter uma vida normal», afirma ainda a especialista.

Texto: Fátima Lopes Cardoso com Tereza Paula (ginecologista e vice-presidente da Sociedade Portuguesa da Menopausa)