Segundo o National Center for Complementary and Alternative Medicine (NCCAM ), as medicinas complementar e alternativa traduzem-se no conjunto de terapias que envolvem meios de diagnóstico e tratamentos distintos da medicina convencional.

A primeira é aplicada em associação à medicina convencional, enquanto a segunda utiliza-se em sua substituição.

Actualmente, segundo David Eisenberg, director da Harvard Medical School, a tendência passa pela medicina integrada, ou seja, pela combinação dos métodos convencionais e alternativos, «desde que existam dados científicos que garantam a eficácia e inocuidade dos últimos».

Medicina integrada e visão holística

«O conceito de medicina integrada passa por uma abordagem bio-psico-social, o que significa que cada pessoa não é só avaliada do ponto de vista físico, tendo-se em consideração a sua forma de estar e de reagir ao ambiente em que vive», explicam António Paulo Encarnação, Helena Pinto Ferreira e Hugo Silva Pinto, médicos com competência em Acupunctura, pela Ordem dos Médicos, e coordenadores do curso de Acupunctura Médica Contemporânea.

Esta disciplina foi recentemente iniciada na Faculdade de Ciências Médicas, da Universidade de Nova de Lisboa, e, tal como o curso de Hipnose Clínica da Faculdade de Medicina de Lisboa, é um dos primeiros e mais significativos sinais de abertura da classe médica nacional a este universo.

Para estes especialistas, as vantagens de uma abordagem holística para os pacientes são notórias: «Uma avaliação mais cuidada e personalizada, permitindo escolher para cada um o método terapêutico mais adequado à sua situação, aliando a maior eficácia ao menor risco.»

Preparar os médicos

Actualmente, «a formação médica nem sempre incentiva uma intervenção mais global, insistindo muito na farmacoterapia», revelam António Paulo Encarnação, Helena Pinto Ferreira e Hugo Silva Pinto.

António Pais de Lacerda, chefe do Serviço de Medicina Interna do Hospital de Santa Maria e presidente da Imaginal – Associação de Hipnose Clínica e Experimental, sublinha a importância da «integração no ensino de técnica e saberes próprios das medicinas complementares que tenham já demonstrado critérios de utilidade clínica. Deste modo, os estudantes de Medicina terão a cultura e a compreensão necessárias para, mais tarde, tratar o doente na sua globalidade bio-psicosocial.»

Sinais de mudança

«Apesar de alguns hábitos não serem fáceis de modificar, por estarem muito instalados, não só nos médicos mas também nos doentes, há já sinais de abertura», contam os responsáveis pelo curso de Acupunctura Médica Contemporânea.

Augusto Faustino, reumatologista, faz parte do grupo de médicos que não fecha portas à medicina complementar. «Em certos casos, aconselho alguns dos meus doentes a procurarem a acupunctura e a osteopatia, sobretudo quando a causa não está ainda evidente, como acontece na fibromialgia. Contudo, deve-se apostar primeiro num diagnóstico que confirme ou não casos graves que apenas podem ser tratados pela medicina convencional. Isto é essencial para se evitar o agravamento do estado de saúde.»

Ajudar os pacientes

Também Manuel Carrageta, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, se mostra receptivo ao recurso a algumas terapias não convencionais, como o ioga e o tai-chi.

Para o cardiologista, os médicos têm de reconhecer que muitas pessoas já aderiram a essas terapias, «pelo que a melhor estratégia é orientar os pacientes, em vez de recusar os benefícios comprovados por estudos.Como médicos, a nossa obrigação é recorrer a todos os meios disponíveis para melhorar a vida dos doentes. Em Portugal ainda estamos no início, mas se olharmos para países com Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha observamos uma ligação mais estreita entre a medicina convencional e as restantes.»

O futuro

«É imperioso que os doentes possam dizer aos médicos o que desejam tomar em paralelo e que esses médicos estejam aptos a compreender as terapêuticas e a aconselhar, de modo a evitar efeitos medicamentosos adversos», adverte António Pais de Lacerda. «E, claro, procurar bons profissionais», acrescenta Augusto Faustino.

Disso também depende «uma regulamentação urgente das terapias complementares em Portugal. Só assim teremos apenas os melhores a praticá-las», alerta Pedro Cruz, especialista em Medicina Tradicional Chinesa, do Gabinete de Saúde, uma clínica de medicina integrada que resulta da parceira entre o Hospital da Cruz Vermelha e a Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa.

Num futuro «não muito distante», defende António Pais de Lacerda, «este movimento de tratamento holístico terá grande aceitação, opondo-se à medicina desumanizada e tecnológica do século XX.»

Texto: Rita Caetano com António Pais de Lacerda (chefe do Serviço de Medicina Interna do Hospital de Santa Maria), António Paulo Encarnação (médico de Medicina Física e Reabilitação), Augusto Faustino (reumatologista), Helena Pinto Ferreira (médica de Medicina Geral e Familiar), Hugo Silva Pinto Médico de Medicina Desportiva, Manuel Carrageta (presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia), Pedro Cruz (especialista em Medicina Tradicional Chinesa).

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