Gostava de dar sangue e não sabe por onde começar?

Tem dúvidas sobre a sua importância, contraindicações ou o processo de recolha de sangue? Se respondeu afirmativamente à maioria das questões, este artigo é para si. O acto é simples mas grandioso.

Sabia que bastam cerca de 30 minutos para que a sua dádiva possa salvar uma vida?

Comecemos então pelo princípio. Para dar sangue, não precisa de se inscrever previamente, basta aparecer num dos locais onde se realizam recolhas de sangue. Aceda à página www.ipsangue.org e fique a conhecer todos os sítios, datas e horários das inúmeras brigadas de sangue que percorrem o país. 

Existem também alguns hospitais em Lisboa com este serviço à disposição, como por exemplo, o Instituto Português de Oncologia e o Hospital de São José. Para quem prefere um local mais comum, todos os anos a Mundicenter promove a Campanha de Recolha do Sangue nos seus shoppings (Amoreiras, Arena Shopping, Braga Parque, Odivelas Parque, Oeiras Parque e Spacio Shopping), na altura do verão.

Dirija-se ao local que lhe for mais conveniente, leve um documento identificativo e disponha-se a «arregaçar as mangas». Ser-lhe-á pedida alguma informação pessoal. «Tomamos nota dos dados pessoais do candidato para a eventualidade de ser necessário contactá-lo mais tarde», explica Leonilde Outerelo, responsável pelo Serviço de Promoção e Colheita do Centro Regional de Sangue de Lisboa do IPS (CRS L/IPS).

No momento, é dado ao candidato um questionário «que deverá responder
com total veracidade, assumindo o compromisso de fornecer declarações
verdadeiras» e um conjunto de informações sobre as condições exigidas
para a dádiva.

«A partir desse momento, o dador entra para um gabinete médico onde
vai ser avaliada a sua história clínica e os comportamentos de risco. É
também aqui que o médico vai saber se o potencial dador tem glóbulos
suficientes para poder dar sangue sem ficar prejudicado», explica
Leonilde Outerelo. Mede-se a tensão  arterial e a frequência cardíaca e, se
o dador reunir todas as condições, ficará apto.

«O exame objetivo tem duas vertentes. Por um lado, pretende-se avaliar o estado de saúde do dador para que possa dar sangue em segurança. Por outro, há que avaliar o seu estilo de vida para que o doente que venha a receber esse sangue  também não fique prejudicado», acrescenta a responsável.

A entrevista médica é então crucial para que o potencial dador esclareça todas as  questões e para que se excluam, à partida, pessoas que não estejam em  condições para dar sangue, ainda que demonstrem muita vontade de o fazer.

Posso (ou não) dar sangue?

Existem indicações claras para se poder dar sangue. No entanto, poderá sempre esclarecer as suas dúvidas durante a consulta médica que antecede a fase da colheita propriamente dita. No que respeita às mulheres, existe a dúvida se podem dar sangue durante a menstruação. «Não é contraindicação absoluta mas se a mulher
sentir mal-estar, apresentar um fluxo muito abundante ou uma hemoglobina
no limite, pedimos-lhe para não dar naquele momento e para se
candidatar mais tarde. Mas se estiver bem, sem dores e com a hemoglobina
em níveis adequados, pode dar sangue em segurança», salienta a
responsável da colheita do CRS L/IPS.

Depois do candidato ser aprovado, se tiver comido há pouco tempo, passa imediatamente para a sala de colheita. «Se já tiver comido há algumas horas, tem uma sala à disposição
onde lhe pedimos para comer uma bolacha ou beber um sumo. Não queremos
que o dador dê sangue completamente em jejum.»

Critérios gerais para dar sangue

- Ser saudável e ter hábitos de vida saudáveis

- Ter entre 18 e 65 anos. «Aos 60 anos, se for a primeira vez, o médico vai avaliar se a pessoa está em condições para dar sangue. Se for dador regular poderá continuar a dar sangue até aos 65», refere Leonilde Outerelo, responsável pelo Serviço de Promoção e Colheita do Centro Regional de Sangue de Lisboa do IPS.

- Ter peso igual ou superior a 50 quilos.

- Respeitar os períodos de repouso. «As mulheres podem dar sangue de quatro em quatro meses e os homens de três em três sem que essa dádiva prejudique a sua saúde», assegura a responsável.

«Esta diferença está relacionada com a proteção individual no que respeita aos parâmetros de hemoglobina. As mulheres passam pelo parto e pela menstruação, pelo que ficam mais protegidas com este faseamento», salienta ainda.

Fase da colheita

É esta a fase que, habitualmente, levanta maiores receios. Mas não adie a sua vontade ou a decisão de dar sangue com medo do que lhe poderá acontecer. Por norma, os mitos existentes são falsos e não têm qualquer fundamente científico.

«Existem muitos receios acerca dos sacos de colheita mas é garantido que todo o material é estéril e usado uma única vez no dador. São completamente infundadas e descabidas as ideias de que se podem apanhar contaminações a partir destes sacos», tranquiliza Leonilde Outerelo.

«É recolhido um pouco menos de meio litro de sangue, o que é perfeitamente compatível com uma pessoa com um peso de 50 quilos (corresponde a menos de 10% do volume total de sangue do seu organismo). Dar sangue é um processo simples e não custa nada», explica a responsável das colheitas.

Caso tenha fobia a agulhas ou ao sangue, tente ultrapassá-las. Respire fundo e pense que não é possível salvar pessoas sem passar por este processo. Vai ver que não dói nada! «A colheita em si dura cerca de 10 minutos se a veia do dador tiver um bom débito. O kit é aberto na altura para esse dador», o que garante a qualidade e segurança do processo.

Se está preocupado com o facto do sangue doado lhe vir a fazer falta, saiba que, num adulto normal, existem cinco a seis litros de sangue. Uma pessoa saudável pode dar sangue regularmente, sem que esse facto prejudique a sua saúde. No final da dádiva, as proteínas e as células sanguíneas existentes vão ser rapidamente repostas em circulação no organismo, o que é absolutamente vantajoso para a renovação do sangue.

Depois da colheita

Após a dádiva, o dador pode fazer a sua vida normal, sem fazer esforços no próprio dia, mas pode conduzir.

«Não deve ir à praia nem expor-se ao sol. Se for fumador, não é conveniente que fume na primeira hora após a dádiva.

Normalmente, é oferecida uma pequena refeição após a colheita para que o dador fique mais uns minutos connosco e nos certifiquemos de que está tudo bem com ele», diz-nos Leonilde Outerelo.

Atualmente, são cerca de 60 dadores diários nas instalações do CRS L/IPS. «Em 2008 e em 2009, Portugal atingiu o patamar da autosuficiência, preconizado pela Organização Mundial de Saúde, registando 40 unidades por 1000 habitantes. Portanto, colhemos um pouco mais das 400 mil unidades», revela.

«Em 2010, verificou-se um aumento perto dos 4%, o que significa que iremos manter essa autosuficiência mas há sempre períodos em que temos dificuldade, como é o caso do verão e do Natal», conclui a responsável. Todos os tipos de sangue são necessários, mesmo aqueles que são menos comuns. Lembre-se que você mesmo pode precisar de sangue!

Texto: Cláudia Pinto com Leonilde Outerelo (responsável pelo Serviço de Promoção e Colheita do Centro Regional de Sangue de Lisboa do IPS)