Anualmente, são realizadas cerca de 108 milhões de doações de sangue, de acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, o número de dadores tem vindo a diminuir ao longo dos últimos anos, estimando-se que em 2050, o número de unidades de sangue disponíveis seja inferior à procura. A necessidade de encontrar alternativas que permitam colmatar as futuras carências torna-se, por isso, cada vez mais urgente.

Atualmente, decorrem inúmeras investigações que procuram utilizar a produção in vitro de glóbulos vermelhos a partir de células estaminais, como forma de solucionar a escassez de reservas de sangue, fundamentais para garantir transfusões de sangue e de componentes sanguíneos, indicadas para o tratamento de pacientes com anemia grave, hemorragia grave, hemoglobinopatias ou complicações resultantes de qualquer cirurgia.

Neste sentido, um grupo de investigadores desenvolveu um método que permite multiplicar as células do sangue do cordão umbilical e diferenciá-las em glóbulos vermelhos.

O método consiste em isolar as células do sangue do cordão umbilical e colocá-las num meio de cultura específico, adicionando fatores que potenciam o seu crescimento e a sua posterior conversão em glóbulos vermelhos. As células são mantidas numa incubadora rotativa especial, durante um período de 21 dias.

Após a otimização do processo de produção, os investigadores verificaram que as características das células obtidas, por exemplo, no que diz respeito ao conteúdo de hemoglobina e à capacidade de transporte de oxigénio, eram semelhantes às dos glóbulos vermelhos produzidos naturalmente no organismo.

Posteriormente, foram testadas, em modelo animal, a segurança e a funcionalidade dos glóbulos vermelhos produzidos, que demonstraram ser seguros, sem a ocorrência de quaisquer efeitos adversos. Num modelo de anemia hemorrágica em primatas não humanos, os glóbulos vermelhos produzidos in vitro demonstraram capacidade para transportar oxigénio e para acelerar a recuperação hematológica.

Este estudo fornece, por isso, evidências muito positivas de que o problema da escassez de unidades para transfusão possa vir a ser ultrapassado através da utilização de componentes sanguíneos produzidos in vitro. Com o desenvolvimento de metodologias que permitam a produção em larga-escala e do desenvolvimento de ensaios clínicos em humanos, é possível antever a entrada deste tipo de produtos na prática clínica, com potencial para beneficiar muitos doentes.

As explicações são de Bruna Moreira, especialista em Células Estaminais e Investigadora da Crioestaminal