O Papilomavírus Humano (HPV) é um vírus silencioso, que não dá sinais. Afecta 300 milhões de mulheres em todo o mundo e pode levar ao desenvolvimento de cancro do colo do útero, um tumor que mata uma mulher por dia. Saiba como escapar a esta estatística!

Em Portugal, uma em cada cinco mulheres, dos 18 aos 64 anos, tem infecção por HPV (Papilomavírus Humano).

Esta é a principal conclusão do Cleopatre, o primeiro estudo epidemiológico de prevalência da infeção por HPV nas mulheres portuguesas, fruto de uma parceria com o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge e a Sanofi Pasteur MSD.

Com uma amostra de 2326 mulheres, distribuídas nas cinco regiões de Saúde de Portugal Continental, o Cleoptare concluiu também que, entre as mulheres HPV positivas, foi identificado, em 68% dos casos, um tipo de HPV de alto risco (o HPV 16), ou seja, aquele que tem mais possibilidade de causar cancro. Observou-se ainda que as mulheres entre os 20 e os 24 anos são as mais afetadas pelas infeções por HPV (28,8%), apesar do vírus infetar mulheres de todas as idades, mesmo as de grupos etários mais elevados.

De acordo com Carlos de Oliveira, coordenador científico do Cleopatre, este estudo é «de extrema importância porque, até ao momento, não existiam dados de prevalência das infeções por HPV em Portugal. A partir de agora, e tendo um melhor conhecimento da realidade em termos da prevalência do HPV, será mais fácil de compreender o modo como a vacinação pode alterar este cenário no nosso país».

O HPV é um vírus com mais de «200 tipos diferentes, dos quais, cerca de 30 afetam os genitais», explica Daniel Pereira da Silva, ginecologista. Alguns dos vírus são responsáveis por «lesões benignas, nomeadamente o 6 e o 11, que provocam cerca de 90% dos condilomas ou verrugas genitais». Por sua vez, os vírus de alto risco são capazes de provocar lesões pré-cancerosas e cancerosas da vulva, vagina, colo do útero e ânus». A transmissão do HPV é essencialmente sexual. Basta um simples contacto, não sendo necessário haver penetração.

Um dos grandes problemas prende-se com o facto das infeções serem assintomáticas (sem sintomas). «A infeção passa despercebida. O mesmo acontece com as lesões, que não dão qualquer sinal, salvo os condilomas, que se revelam pelas verrugas que se espalham por toda a área genital».

O cancro apenas confere sinais quando está avançado, provocando dor, corrimento ou perda de sangue. É importante ter a noção de que «nenhuma mulher está a salvo, todas as mulheres correm riscos», como defende Carlos de Oliveira. O ginecologista Daniel Pereira da Silva concorda, «a infecção por
HPV não poupa ninguém».

É mais frequente nas mulheres mais jovens, mas
todas são suscetíveis de a contrair».A probabilidade de infeção por HPV durante a vida de uma mulher ronda
os cerca de 80%. No entanto, também é importante ressalvar que «o facto
de uma mulher ter uma infeção por HPV não significa que irá desenvolver
cancro», defende Carlos de Oliveira. Segundo este especialista, «a
prevalência mundial de infeção por HPV é de 300 milhões e existe meio
milhão de casos de cancro do colo do útero».

Embora o vírus desapareça espontaneamente em 95% dos casos, a
infeção, uma vez contraída, não tem tratamento, pode apenas ser
prevenida. Como? Através da vigilância médica e da vacinação. «O importante é saber se há ou não lesão, em particular lesão
pré-cancerosa, e, para isso, a mulher deve fazer uma citologia, pelo
menos, de três em três anos», aconselha Daniel Pereira da Silva.

Por outro lado, a vacina demonstrou uma eficácia de quase 100% até
aos 26 anos de idade e de 90% até aos 45 anos, na prevenção de lesões do
colo do útero, vulva e vagina, além das verrugas genitais, causadas
pelos tipos de HPV 6, 11, 16 e 18, o que é notável e muito importante»,
daí o recente alargamento da vacinação (com Gardasil) até aos 45 anos
de idade. «A associação da vacina e do rastreio regular confere uma proteção individual de quase 100%», garante Daniel Pereira da Silva.

A Food and Drug Administration (FDA) aprovou recentemente a vacina contra as infeções por HPV também nos homens.

Os países começam então a atualizar-se e a preocuparem-se também com o sexo masculino. «Na Austrália, um estudo demonstrou que houve eficácia da imunidade na população em geral e diminuição do risco de aquisição de verrugas genitais também nos homens. A vacinação é também muito importante para evitar a contaminação dessas lesões às parceiras», explica Luísa Lina Villa, virologista do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Cancro, em São Paulo.

Texto: Cláudia Pinto
Revisão científica: Carlos Frei de Oliveira (professor da
Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra), Daniel Pereira
da Silva (director de Serviço de Ginecologia do IPO de Coimbra) e Luísa Lina Villa (virologista do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o
Cancro, em São Paulo)