Na última década, a ICD emergiu como uma das principias infeções associadas à prestação de cuidados de saúde no mundo ocidental, representando um enorme fardo económico para os sistemas de saúde. O aumento de infeções por esta bactéria deveu-se sobretudo à emergência de estirpes epidémicas que reúnem uma maior virulência e resistência aos antibióticos, contribuindo não só para a sua rápida disseminação, bem como para a severidade e mortalidade do quadro clínico associado.

Também o envelhecimento da população, com exposição frequente a antibióticos de largo espetro, presença de comorbilidades e hospitalizações prévias, tem contribuído para o aumento de casos de ICD.

Apesar da crescente relevância da ICD, dados recentes (2008) relativos à vigilância epidemiológica desta infeção na Europa mostraram uma enorme variação nas taxas de incidência em diferentes países (0, 0 a 36,3 casos por 10 000 dias de internamento), sendo a taxa média de 4,1.

Estas discrepâncias gritantes motivaram a realização do maior estudo europeu de prevalência da infeção hospitalar pela bactéria C. difficile, o estudo EUCLID (EUropean, multi-centre, prospective bi-annual point prevalence study of CLostridium difficile Infection in hospitalised patients with Diarrhoea). Este estudo inovador teve a participação de 20 países, num total de 482 hospitais, incluindo 11 de Portugal Continental.

Este estudo inovador teve várias conclusões muito importantes, que sem dúvida produziram impacto no modo como a ICD é atualmente abordada. O primeiro dado que o estudo mostrou é que a incidência de ICD aumentou na Europa, de uma média de 4,1 casos para 7,0 casos por 10 000 dias de internamento.

Mostrou também uma grande heterogeneidade que no respeita ao reconhecimento e correto diagnóstico desta infeção, entre os diferentes países participantes, sendo a ausência de suspeita clínica e a pouca sensibilidade dos métodos laboratoriais utilizados os fatores que contribuíram para que num único dia, na Europa, uma média de 74 doentes internados não fossem testados para ICD nos hospitais, e 34 doentes recebessem um diagnóstico falso negativo. Estes números equivalem a aproximadamente 40,000 casos de ICD não diagnosticados corretamente, por ano, na Europa.

Com estes dados o estudo EUCLID veio alertar para a necessidade de harmonização dos métodos de diagnóstico, bem como para um maior reconhecimento dos profissionais
de saúde relativamente à ICD.

Outro importante contributo do estudo EUCLID foi evidenciar a verdadeira carga da ICD, sendo a taxa de infeção em média cerca de 3 vezes superior à taxa reportada por cada país, Portugal incluído. Tendo em conta as amostras submetidas para o estudo EUCLID, a taxa de positividade em Portugal foi de 19.3 casos/10 mil dias de internamento, valor, ainda assim, dentro da média europeia, contra uma média de 2.9 casos por 10 mil dias de internamento, reportada pelos hospitais participantes.

Finalmente, e diria notavelmente, o estudo mostrou que os hospitais com mais altas taxas de pesquisa de ICD, são os que têm mais baixas taxas de prevalência de infeção pela estirpe epidémica 027, sugerindo que o reconhecimento da infeção e a utilização de métodos de diagnóstico otimizados pode reduzir a disseminação de estirpes epidémicas.

Em conclusão, o estudo EUCLID espelha bem a necessidade de reconhecer a ICD como uma causa importante de infeção a nível hospitalar e de melhorar o seu diagnóstico da ICD. Portugal está a trabalhar nesse sentido, havendo neste momento um esforço de harmonização do diagnóstico e um maior investimento em conhecimento dos profissionais de saúde para esta infeção.

Por Mónica Oleastro, Responsável do Laboratório Nacional de Referência das Infeções Gastrintestinais do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge