Todos ambicionamos um sorriso perfeito, com dentes alinhados, brancos e sem falhas. Mas porque a estética nunca deve ser dissociada da função principal da dentição, a mastigação dos alimentos, a reabilitação protética sobre implantes tem constituído um significativo avanço para a melhoria da qualidade de vida das pessoas que perderam um ou mais dentes. Permite-lhes readquirir, não só uma boa imagem, como também uma boa função mastigatória, que favorece a absorção de nutrientes.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma elevadíssima percentagem de portugueses já perderam uma ou mais peças dentárias e dados da Ordem dos Médicos Dentistas indicam que mais de 40% dos nossos idosos com mais de 65 anos são desdentados totais. As causas para a perda de dentes podem ser diversas, desde cárie dentária, traumatismos, doença periodontal (dos tecidos circundantes ao dente), doenças sistémicas e também a idade.

Mas o problema vai muito além da simples perda de dentes. "Nas zonas edêntulas [desdentadas] vai existir reabsorção óssea e,  consequentemente, perda de volume facial na zona, conferindo ao rosto um aspeto mais envelhecido", refere Margarida Caeiro, médica dentista. A colocação de implantes é a melhor solução para este problema, mas ainda suscita algumas dúvidas. A especialista ajuda-nos a esclarecê-las.

1. O que são os implantes dentários e para que servem?

Os implantes dentários são estruturas metálicas em titânio, um material com elevada biocompatibilidade, que se colocam cirurgicamente nas arcadas dentárias e que vão servir de pilar ou suporte para coroas unitárias ou suporte de próteses dentárias com vários dentes, no caso de reabilitações orais extensas. No fundo, o implante assume a função da raiz de um dente. Pode ser usado para substituir um ou mais dentes, sempre que a técnica o permita e de acordo com os critérios para a sua colocação.

2. Em que consiste o tratamento?

Depois de um bom diagnóstico e planeamento, o tratamento decorre em duas fases distintas. A primeira fase é a cirúrgica e a segunda define-se de protética, a colocação das coroas. Considera-se como elementos habituais de diagnóstico a radiografia panorâmica e uma tomografia axial computorizada (TAC) para avaliação da altura e largura óssea, bem como para a identificação de estruturas anatómicas relevantes para o ato cirúrgico.

3. Como decorre o tratamento?

A fase cirúrgica consiste na colocação do implante no osso, um procedimento relativamente simples (salvo algumas exceções) e indolor efetuado com anestesia local. A segunda fase, protética, ocorre mais tarde, após a osteointegração que, em média, acontece seis meses depois no maxilar superior e quatro meses depois no caso da mandíbula.

A osteointegração define a conexão direta entre o osso vivo e o implante endo-ósseo e, para ser bem sucedida, o material usado tem de ser biocompatível. O implante deve ficar perfeitamente adaptado no leito ósseo preparado, a cirurgia deve ser realizada de forma a minimizar os danos nos tecidos e a fase de cicatrização deverá decorrer sem distúrbios.

4. As coroas podem ser colocadas no próprio dia da cirurgia, uma vez que são implantes com carga imediata?

Apesar de existirem alguns médicos a efetuar a técnica de colocação com função imediata, a maioria dos implantes colocados atualmente ficam sem carga durante o período de cicatrização. Claro que ao tratar-se de dentes no sector anterior, onde a estética é um factor preponderante, são executadas próteses removíveis com carácter provisório a fim de restabelecer-se a componente estética de imediato.

5. O que sucede quando o paciente tem pouco osso na zona desdentada?

Hoje em dia, esse condicionalismo é mais fácil de ultrapassar porque nos últimos anos surgiram no mercado novos sistemas de implantes com múltiplos tamanhos, o que dá ao profissional maior capacidade de escolha em função da altura versus a largura do osso disponível. Existe também a possibilidade de recorrer aos enxertos ósseos autólogos, com osso do próprio doente.

6. Existe a possibilidade de rejeição?

Esse não é o termo mais adequado mas o tratamento poderá apresentar insucessos se algum dos procedimentos do diagnóstico e a sua execução não forem cumpridos. Além disso, o doente deve cumprir as recomendações pós-cirúrgicas, como a  moderação de hábitos tabágicos. Se for caso disso, deve contribuir para uma boa higienização da zona e cumprir as consultas de revisão necessárias.

7. Existe alguma contraindicação relativamente à colocação de implantes?

Existem patologias sistémicas que contraindicam a colocação de implantes, tais como, história recente (menos de um ano) de acidente vascular cerebral (AVC) ou enfarte agudo do miocárdio, imunossupressão acentuada, alterações graves da  coagulação, neoplasias em tratamento, toxicodependência, perturbações psíquicas graves ou medicação com bifosfonatos.

8. É possível colocar implantes em idosos e crianças?

Nos idosos, grupo etário com mais ausências dentárias, sim. A idade por si só não afeta a osteointegração nem a sobrevivência dos implantes. Nas crianças, uma vez que os implantes não cumprem a regra da erupção natural, a sua colocação deverá ser adiada para uma fase em que já não haja crescimento.

9. Os fumadores e os doentes diabéticos podem colocar implantes?

Em duas revisões sistemáticas recentemente publicadas, concluiu-se que os fumadores apresentam um risco 2,25 vezes superior de insucesso. Quanto aos diabéticos, apenas poderão colocar-se objeções à sua colocação quando a doença não está controlada.

10. É possível colocar implantes em doentes com osteoporose?

Não é uma contraindicação. Só pode sê-lo se o paciente estiver a tomar algum medicamento de bifosfonatos. Para que o implante possa chegar a bom porto, deverá suspender-se o tratamento, pelo menos, três meses antes da intervenção. Todavia, o facto de os implantes se realizarem sobre os ossos moles, pode desaconselhar a função imediata.

11. Para que servem os fatores de crescimento, os concentrados de plaquetas ou o plasma rico em plaquetas nos implantes dentários?

São técnicas ou produtos utilizados para acelerar a regeneração óssea mas a sua  eficácia tem sido discutida e a sua utilização tem caído em desuso.

12. Qual o preço aproximado do procedimento?

O preço poderá variar de acordo com os vários sistemas existentes no mercado e de acordo também com a necessidade ou não de enxerto ósseo.

13. O que fazer no caso de se perder um implante?

Deverá recorrer com urgência ao médico que o operou a fim de solucionar a questão. É possível que possa ser colocado um outro no mesmo local ou, eventualmente, escolhida uma nova localização para o fazer.

Os primeiros implantes dentários

Os primeiros implantes dentários foram colocados em meados do século XX mas apenas em 1982, na Conferência de Toronto, no Canadá, foi apresentado o conceito da osteointegração e, em 1988, uma segunda conferência do National Institutes of Health (NIH), nos EUA, avaliou a efetividade a longo prazo dos implantes dentários, estabelecendo indicações e contraindicações para a sua colocação.

Texto: Cláudia Pinto com Margarida Caeiro (médica dentista)