Dei entrada no Hospital Fernando da Fonseca, mais conhecido como Hospital Amadora-Sintra, localizado na Amadora, no início da manhã. A cirurgia estava marcada para as 11h00 e eu ia entrar no bloco operatório. Mas não era médica nem paciente. Foi-me dada a oportunidade de assistir à implantação de um pacemaker, uma cirurgia repleta de mitos, conforme a equipa médica me explicou posteriormente.

O aparelho é indicado em caso de bradiarritmia, uma perturbação do ritmo dos batimentos cardíacos (arritmia), caracterizada por um ritmo cardíaco lento, que pode levar à morte súbita quando não tratada. Palpitações, fadiga, vertigens, tonturas, transpiração irregular, falta de ar, dor de peito e ansiedade são alguns dos sinais que alertam para o problema, que afeta milhares de pessoas em todo o mundo.

O diagnóstico

A síncope, mais conhecida por desmaio, é o sintoma mais aparatoso e o que leva mais frequentemente os pacientes ao hospital. A arritmia pode ser detetada através de electrocardiograma, no entanto, para um diagnóstico mais preciso é necessário recorrer a exames complementares.

"Um eletrocardiograma fora da crise pode ser normal, pelo que pode haver necessidade de recorrer a outros exames, como a ecocardiografia ou o holter, um eletrocardiograma de longa duração, que regista a atividade elétrica do coração durante 24 horas", explica Carlos Morais, cardiologista.

O aparelho

O pacemaker é um pequeno dispositivo anatómico constituído por um gerador de impulsos (pacemaker) e por um ou dois fios flexíveis e finos (elétrocateter) que ligam o aparelho ao coração. O pacemaker regista continuamente informações sobre o ritmo cardíaco, verificando em particular se o coração está a bater de forma regular ou demasiado lenta.

Se o ritmo cardíaco for insuficiente, o aparelho gera os estímulos necessários para que o coração se contraia com a frequência mais adequada. Em Portugal, já foi implantado, na década de 2000, um pacemaker de segunda geração, o primeiro dispositivo cardíaco compatível com a ressonância magnética, desenvolvido pela Medtronic, empresa líder mundial em dispositivos electrónicos.

A cirurgia

A implantação de um pacemaker cardíaco é feita durante uma pequena cirurgia, realizada com anestesia local. Após uma incisão na pele, abaixo da clavícula, o médico introduz um eletrocateter, através de uma veia até ao coração. Segue-se o mesmo procedimento, controlado por raio-X, para um segundo eletrocateter, se necessário.

Estes são então ligados ao pacemaker, o qual é alojado numa pequena bolsa de pele, na área do músculo peitoral, que depois é fechada com uma sutura. O processo demora, por norma, cerca de 30 minutos. Muitos pacientes podem levantar-se no mesmo dia.

O pós-operatório

Durante os primeiros dias após a cirurgia, o paciente deve evitar mover o ombro do lado que foi operado, para não interferir com o processo de cicatrização. "Como qualquer acto cirúrgico, até haver uma cicatrização completa, o paciente deve manter a zona da cicatriz desinfectada e substituir o penso regularmente, pelo risco de infeção. Ao fim de uma semana, o fio da sutura é absorvido pelo organismo, não sendo necessário retirar pontos", explica o especialista.

Viver com um pacemaker

Logo que a ferida cicatrize o paciente pode retomar a sua actividade e levar uma vida perfeitamente normal. Os portadores de pacemaker têm apenas de trazer sempre consigo o cartão de identificação do aparelho e comparecer às consultas de revisão, de seis em seis em meses.

É nesses encontros de acompanhamento posteriores que o médico verifica o estado do pacemaker, nomeadamente o nível da carga da pilha, analisa as informações nele contidas, faz ajustes no modo de programação se necessário e responde a todas as dúvidas do paciente.

Cirurgia de substituição

Por ter uma fonte de energia, o pacemaker precisa de ser substituído ao fim de algum tempo. "A duração da bateria varia entre seis a 12 anos, consoante a atividade do aparelho. Há casos em que o pacemaker está permanentemente a emitir estímulos ao coração e outros em que o dispositivo apenas atua esporadicamente, uma vez por dia, de três em três meses", diz.

"Há casos em que só o faz uma vez por ano", explica o cardiologista. A substituição é feita através de uma cirurgia semelhante à da implantação, mas é ainda mais simples, uma vez que não é necessário trocar as sondas.

Segurança máxima

Apesar dos mitos e receios em torno do uso do pacemaker, Carlos Morais, assegura que "o pacemaker é um dispositivo eletrónico extremamente sofisticado e um dos mais seguros do mundo".

"Está protegido contra a influência de campos eletromagnéticos externos e passa por inúmeros testes de controlo de qualidade para eliminar praticamente qualquer possibilidade de falha", assegura ainda o especialista português. Sendo revestido a titânio, é indestrutível, sublinha ainda.

Implantação de um pacemaker. O relato de uma jornalista que assistiu a uma cirurgia

Texto: Vanda Oliveira com Carlos Morais (cardiologista)