Entre cada duas vértebras da coluna vertebral existe uma estrutura de fibrocartilagem em forma de disco, com um conteúdo fluido mantido sob pressão, que assegura mobilidade e suporte amortecido das cargas a que a coluna é sujeita.

Quando a sua parte periférica se degrada, o disco deforma-se, produzindo saliência do seu contorno e diminuição da sua espessura, podendo comprimir os nervos ou a espinal medula que percorrem toda a coluna vertebral.

A esta deformação do disco rasgado chamamos hérnia discal. «Este problema resulta de um processo degenerativo do disco cujas causas não são ainda bem conhecidas, embora seja consensual a sua origem numa predisposição genética», explica o ortopedista João Cannas. Existem, contudo, fatores desencadeantes e agravantes reconhecidos:

  • Traumatismos repetidos, sobretudo nas atividades laborais expostas a movimentos de suporte de cargas, alguns desportos radicais e a exposição a vibrações prolongadas (como nos aviões)
  • Sedentarismo
  • Deficiências da postura (por deformidades ou por desleixo postural)
  • Tabagismo
  • Diabetes, vários tipos de reumatismo e obesidade.

Sintomas

«Geralmente, manifesta-se de forma abrupta com uma dor severa e
incapacitante na região lombar», refere João Cannas.

«Esta dor irradia tipicamente para um membro
inferior e é acompanhada, a maior parte das vezes, de alterações da
sensibilidade», acrescenta o ortopedista. «Nos casos mais graves, pode diminuir a força muscular ou o
controlo dos esfíncteres urinário ou anal, o que requer tratamento
cirúrgico imediato», alerta ainda este especialista.

Como se previne

Os cuidados de higiene postural (ginástica suave frequente),
ergonomia no ambiente laboral e doméstico, o controlo do peso e o evitar
a exposição a situações de esforço ou traumáticas da coluna vertebral
são essenciais na sua prevenção.

Como se trata

«A deteção da hérnia discal implica sempre cuidados para o futuro,
nomeadamente, limitação de esforços, controlo do peso e plano de
reequilíbrio postural, de forma a evitar a progressão da doença que, não
tendo cura, tem várias alternativas terapêuticas, que devem de ser
avaliadas caso a caso com um especialista em patologia da coluna
vertebral», refere o ortopedista.

João Cannas acrescenta ainda que «a sua evolução é favorável em 70%
dos casos, independentemente do tratamento efetuado, que tem apenas
por objetivo o alívio da dor. Nos cerca de 30% dos casos em que há
indicação para tratamento cirúrgico, existe forte probabilidade de cura
com uma intervenção cirúrgica simples de remoção da hérnia, que deve ser
prudentemente considerada e, em casos selecionados, complementada com
outros procedimentos para evitar a instabilidade mecânica que se lhe
associa e que pode ser responsável pelo insucesso do tratamento».

Texto: Fernanda Soares com João Cannas (ortopedista e responsável pelo serviço de ortopedia, traumatologia e cirurgia da coluna do Hospital da Cuf Descoberta de
Lisboa)