O portador de halitose, vulgo mau hálito, sofre grandes transformações no seu dia-a-dia. Consequências que se repercutem não só ao nível social e profissional, como também a nível afetivo e familiar. O estigma social associado ao mau hálito faz com se torne uma pessoa preocupada e tensa com a reação dos que o rodeiam, ficando cada vez mais uma pessoa retraída e menos espontânea.

Mais frequente e incómoda do que se possa pensar, a halitose é um problema que afeta diariamente homens e mulheres de todas as idades. Halitose é o termo utilizado para designar um hálito menos fresco, um odor menos agradável que é exalado da cavidade bucal, e quando isso acontece significa que existe algum desequilíbrio no organismo.

Vergonha de falar em público

Quem sofre de mau hálito pode sentir-se envergonhado e inibido de falar em público, podendo este problema tornar-se numa limitação social e afetiva. Muitas vezes é difícil a própria pessoa ter a perceção de que essa alteração no hálito existe, pois o olfato tende a habituar-se aos odores corporais constantes. Este é um tema ainda tabu na sociedade, sendo por isso mais fácil pedir ajuda a uma pessoa que lhe seja mais próxima, da sua confiança, que lhe poderá dizer se o seu hálito é ou não fresco. Mas há formas de tratar este problema e muito simples como uma ida ao seu dentista em que o mesmo fará o diagnóstico, apresentando as soluções mais eficazes para a situação.

O aparecimento da halitose pode envolver causas orais e/ou não-orais, contudo mais de 75% dos casos têm origem na cavidade oral. As causas mais frequentes são: má higiene, língua saburrosa, patologia periodontal (gengivite, periodontite) e hiposalivação. As causas não orais da halitose incluem maioritariamente patologias do aparelho respiratório superior e inferior, patologias do aparelho gastrointestinal, doenças metabólicas (diabetes mellitus), hábitos alimentares (jejum prolongado, ingestão de alimentos ricos em odor) e alguma terapêutica farmacológica com compostos ricos em enxofre.

Pode surgir também a chamada halitose temporária que resulta da ingestão de alimentos como alho, cebola ou bebidas alcoólicas, por exemplo. Uma eficaz limpeza da língua, além da escovagem dos dentes após cada refeição (sem esquecer de utilizar também o fio dentário), é o primeiro passo para prevenir problemas de halitose.

Quando acordamos e sentimos um hálito desagradável este poderá ser considerado fisiológico, devendo ser distinguido da halitose propriamente dita. Após a realização da higiene dos dentes e da língua e da primeira refeição, a halitose matinal deve desaparecer. Caso isso não ocorra, pode considerar-se o indivíduo como possível portador de halitose real, problema a ser investigado e tratado.

A halitose no entanto pode ser um sinal clínico para doenças sistémicas importantes como: patologias do aparelho gastrointestinal (doença do refluxo gastro-esofágico, diverticulose faringo-esofágica, úlcera péptica), doenças metabólicas (trimetilaminúria, diabetes mellitus), patologias do aparelho respiratório superior e inferior (amigdalite, rinosinusite e bronquiectasias), terapêutica farmacológica com compostos ricos em enxofre (dissulfiram) e hábitos alimentares (jejum prolongado, ingestão de alimentos ricos em odor).

Se a causa for extra-oral, o médico de medicina geral é o especialista mais capacitado para acompanhar o doente. A prevenção e tratamento do mau hálito de origem oral passa pela correta escovagem dentária associada à higiene da língua, utilização do fio dentário, e colutórios orais, depois de tratadas todas as causas possíveis de mau hálito de origem intraoral (cáries, gengivites, periodontites, e outras causas orais).

Os colutórios, contendo agentes antibacterianos como clorohexidina e cetilpiriíinio ou contendo agentes como acetato de zinco, parecem ter os melhores resultados na redução do mau hálito. O tratamento da halitose de origem não oral deve ser efetuado simultaneamente com o tratamento da sua causa ou doença sistémica.

A halitose em si não é uma doença mas pode ser um sinal clínico de outras doenças quer intra-orais quer extra-orais, tornando-se assim importante estar alerta e fazer um diagnóstico de modo a combater a/as possíveis causas.

Na sociedade atual observa-se a atribuição de uma importância crescente à imagem pessoal e às relações interpessoais. A halitose pode conduzir à diminuição da autoestima e ser inclusivamente um fator perturbador das atividades sociais.

Siga estes seis conselhos para combater o mau hálito.

Por Rodrigo Avelãs Cavaco, médico dentista e diretor clínico na DentalConcept