Se errar é humano não é de estranhar que o nosso sistema imunitário, por vezes, também se engane. Quando isto acontece, o organismo reage a substâncias inofensivas, como o leite de vaca ou o pólen, como se de uma ameaça se tratassem.

O sistema imunitário produz anticorpos, as imunoglobulinas E (IgE), para combater o «intruso» levando à libertação súbita de histamina, que desencadeia uma reacção alérgica.

Trata-se de um «erro» a que algumas pessoas são geneticamente mais susceptíveis e que provoca sintomas como nariz sempre a pingar, espirros, comichão e vermelhidão.

Com base no livro «Não Consigo Parar de Espirrar» (A Esfera dos Livros), de Cláudia Borges em co-autoria com a alergologista Filomena Falcão, e em informações divulgadas pela Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica, vamos ajudá-la a combater esta doença.

Identificar o problema

Se se assoa frequentemente, tem o nariz entupido, ressona, tem comichão no nariz, espirra muito e tem os olhos constantemente a chorar, com vermelhidão ou comichão, desconfie de rinite alérgica, a doença alérgica mais comum, e procure o seu médico de família.

Quando não tratada, a rinite pode contribuir para o aparecimento de sinusite e otite sendo também um factor de risco para o aparecimento de asma.

Diagnóstico

Em caso de suspeita de alergia, uma simples análise ao sangue permite fazer a contagem das imunoglobulinas E. No caso de os valores serem elevados, é reencaminhada para um médico especialista, o alergologista, que investiga as causas da alergia, através de testes cutâneos, e indica o tratamento adequado.

Suspeitos

Os principais responsáveis pela doença alérgica são os ácaros, as baratas, os fungos, os pêlos de animais domésticos e os pólenes e, menos frequentemente, os alimentos e medicamentos.

Se é alérgico a alguma destas substâncias deve manter-se atento, já que por vezes ocorrem alergias cruzadas a diferentes tipos de alergénios.

Ácaros e companhia

Os ácaros do pó da casa são os principais responsáveis pelas alergias respiratórias. Encontram-se nos colchões, almofadas, roupa da cama, cortinados, tapetes, sofás e peluches.

Quanto às baratas, gostam de zonas pouco limpas, nomeadamente cozinhas sujas, despensas e arrecadações mal arejadas. Já os fungos desenvolvem-se em locais húmidos e sem sol, nomeadamente nas casas-de-banho.

Lavar a roupa da cama (60ºC) e aspirar a casa semanalmente, bem como arejá-la frequentemente, é essencial para eliminar estas três ameaças.

Animais

As famílias alérgicas devem evitar os animais de estimação, no entanto, se tem uma mascote poderá mantê-la se ninguém da família se revelar alérgico ao pêlo do animal. O contacto da criança no primeiro ano de vida com animais de companhia parece ter um efeito protector contra o aparecimento de alergias, em todo o caso, dê banhos frequentes ao animal e elimine ao máximo os pêlos que se vão espalhando pela casa.

Pólenes

O pólen das plantas e também das árvores desloca-se com o vento, dentro e fora de casa, estando mais presente ao ar livre. A Primavera é a época com maior percentagem de pólenes no ar, cujo pico é atingido por volta do meio-dia. As plantas mais alergénicas têm antenas expostas e pétalas pequenas, especialmente as gramíneas, e apesar de ser difícil evitar esta ameaça é importante reduzir a actividade no exterior nos meses mais «perigosos», sobretudo em dias ventosos, quentes e secos.

Alimentos e medicamentos

As alergias provocadas por estes factores são menos frequentes, mas podem ser tão ou mais graves do que as restantes. A alergia alimentar é mais comum na infância, diminuindo ao longo da idade.

Para evitar as crises, é fundamental evitar os alimentos que a provocam (leite, ovo, peixe, marisco, frutos secos e fruta fresca) e ler os rótulos dos produtos, pois podem conter vestígios desses alergénios. Quanto aos medicamentos, os mais implicados são os antibióticos, como a penicilina. As alergias a insectos são geralmente provocadas pelas picadas de abelha.

Tratamento

O primeiro passo para prevenir as crises alérgicas é evitar a exposição às substâncias desencadeantes. Quando não é possível eliminar essas ameaças, nomeadamente os pólenes que circulam no ar, é preciso recorrer a medicamentos que previnem e tratam os sintomas, sendo os anti-histamínicos os mais utilizados.

Estão disponíveis em comprimidos, injecções, xarope, sprays nasais e gotas oculares, mas existem também corticóides locais em spray nasal e em fórmulas de aplicação tópica na pele. No caso de alergia ocular, a aplicação de compressas frias com soro fisiológico e de lágrimas artificiais pode acalmar os sintomas.

Vacina

A imunoterapia alérgica (vacina) é o único tratamento que modifica a história natural da doença. É eficaz em caso de rinite e conjuntivite alérgicas e na alergia à picada de insectos, não existindo vacina para o tratamento das alergias alimentares. De forma a criar tolerância ao alergénio, a vacina contém doses crescentes dessa substância que é administrada sob a forma de injectável ou gotas sublinguais, ao longo de três a cinco anos.

Prevenir desde a gravidez

Apesar de haver uma predisposição genética para as alergias, é possível reduzir ou, pelo menos, atrasar o seu aparecimento, adoptando algumas medidas:

- Não fume e evite a exposição ao fumo do tabaco durante a gravidez, pois aumenta o risco de ter um filho alérgico.

- Após o nascimento, o leite materno reforça o sistema imunitário do bebé e, em alternativa, o leite hipoalergénico evita reacções adversas.

- Nos bebés de risco, os novos alimentos só devem ser introduzidos a partir dos seis meses, em pequenas quantidades e um de cada vez, adiando a introdução dos alimentos mais alergénicos.

- Mantenha o quarto do bebé arejado, utilize mobiliário simples, evite alcatifas, tapetes, cortinados pesados e peluches.

Sites úteis

www.spaic.pt
É o site da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica, onde encontra resposta às dúvidas mais frequentes e novidades no campo da alergologia.

www.prevqualar.org
Aqui pode consultar as previsões do índice da qualidade do ar em todo o país.

www.rpaerobiologia.com
Obtenha neste site informações sobre a concentração de pólenes na atmosfera em todo o país.

www.knowyourairforhealth.eu
Este projecto europeu disponibiliza uma vasta informação sobre a importância da qualidade do ar na saúde.

Texto: Vanda Oliveira