O CPAP, ou o auto-CPAP, está indicado no tratamento da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS). Consiste num pequeno dispositivo que administra um fluxo de ar constante (CPAP) ou variável (auto-CPAP), através de um tubo e de uma máscara.

O ínicio do tratamento pode ser frustrante em alguns casos e pode até sentir-se desmotivado e pensar em desistir do tratamento. Muitas vezes, esses sentimentos advêm dos principais problemas já commumente identificados que podem surgir da normal utilização do CPAP ou auto-CPAP: fugas na máscara, boca ou nariz seco e dificuldade em adormecer.

As boas notícias para si, são que estes problemas são passíveis de serem resolvidos, na maior parte dos casos e deixamos 9 dicas para a sua resolução:

1. Tamanho da máscara errado ou modelo da máscara inadequado para si.

É importante, para uma boa eficácia do seu tratamento, que utilize a máscara com o tamanho correto para a sua face. Existem diferentes conformações de “narizes”, o seu nariz não é igual ao do seu vizinho e, como tal, têm necessidades distintas relativamente às máscaras – quer no seu tamanho, quer no seu estilo. Existem dezenas de modelos de máscaras diferentes, desde as somente nasais às faciais (que cobrem o nariz e a boca), ou então as almofadas nasais que se colocam diretamente nas narinas.

Fale com o seu médico ou com o seu prestador de cuidados no domicílio (PCD) relativamente a este assunto, de forma a chegarem à solução mais indicada para si.
É importante referir que um modelo inadequado, ou apenas um mau ajuste da máscara, pode condicionar a utilização do CPAP/auto-CPAP. Se tiver dúvidas na colocação da máscara, contacte o seu PCD para que lhe disponibilizem um treino adequado.

2. Intolerância à pressão

De forma a melhor tolerar a pressão do dispositivo, pode (nos modelos onde está disponível) ativar a “rampa” do dispositivo. Este modo de conforto dos dispositivos permite começar com uma pressão mais baixa que vai aumentando gradualmente para a pressão prescrita pelo seu médico. O seu médico poderá ajudá-lo neste aspeto.

Como alternativa, alguns dispositivos mais recentes possuem formas de funcionamento mais confortáveis que podem ser ativadas pelo seu médico, por exemplo, existe a possibilidade de ativar um modo em que a pressão diminui ligeiramente durante a expiração. Informe-se com o seu PCD.

3. Nariz entupido ou seco

Através humidificador acoplado ao seu dispositivo pode melhorar as suas queixas. A maior parte dos dispositivos têm um regulador do nível de humidificação, podendo ajustar de acordo com as suas necessidades. Em alguns casos, a higiene nasal com uma solução salina, commumente conhecida como “água do mar”, antes de se deitar, ou então um corticosteroíde nasal prescrito pelo seu médico, quando a utilização do humidificador não resolve as suas queixas, pode ser uma alternativa.

Se tem um humidificador, mas sente que não tem melhoria, pode haver algum problema no ajuste do mesmo ou até pode estar avariado – entre em contacto com o seu PCD se esse for o caso. Uma máscara mal ajustada, com fugas pelos seus bordos, também pode ser uma causa de secura do seu nariz: verifique sempre o ajuste da sua máscara.

4. Claustrofobia

Pode experimentar, acordado, aplicar a máscara na sua face sem colocar o arnês e respirar normalmente. Se estiver confortável, passe para o próximo nível: coloque a máscara (sem o arnês) conectada ao tubo (sem estar ligado ao CPAP) e respire normalmente. Por fim, como último passo, coloque o arnês, ligue o CPAP e respire com calma. Se fez estes passos e sente-se confortável, tente dormir com o CPAP. Se, mesmo assim, se sentir claustrofóbico, fale com o seu médico. Existem máscaras que, para o seu caso, podem ser mais confortáveis e o seu médico em conjunto com o seu PCD podem ajudar.

5. Boca seca

Durante o sono, se respirar pela boca ou dormir de boca aberta, o fluxo de ar pode secar as mucosas da sua boca. Um apoio de queixo, que consiste numa fita colocada no seu queixo, pode ajudar a manter a boca fechada. A máscara facial também pode ser uma solução, porque permite respirar pelo nariz, mas também pela boca. O humidificador pode também ser uma opção. A escolha da melhor solução compete ao seu médico.

6. Dificuldade em adormecer e/ou usar o CPAP durante a noite

Na maior parte dos casos, assume-se como um problema temporário. Experimente utilizar apenas a máscara, por pequenos períodos durante o dia, acordado, por exemplo, a ver um programa de televisão. Depois, experimente o mesmo modo, mas com o CPAP conectado e a funcionar. Quando estiver acostumado, use-o quando for dormir ou nas suas sestas. Nesta fase deverá usar o CPAP todos as noites, mesmo que não consiga dormir com o mesmo colocado durante toda noite. É importante ser consistente para poder avaliar a máscara, a pressão e eventuais problemas que possam surgir.

7. Fugas na máscara, irritação da pele e úlceras de pressão

Estes três problemas apresentam uma causa comum: Mau ajuste da máscara. Uma máscara com fuga provoca uma diminuição da pressão de CPAP, o que pode condicionar o seu tratamento. Alguns dispositivos de CPAP conseguem compensar essas fugas, mas apenas até a um determinado limite. O ar que se escapa pelas margens da máscara pode ir para os seus olhos, secando-os ou até provocando uma inflamação. Ajuste melhor a máscara de forma a ficar sem fugas – o ideal é ajustá-la com o CPAP ligado. Se sentir dificuldades, contacte o seu PCD. O aparecimento de úlceras de pressão ou outras alterações na sua pele devem ser comunicadas ao seu médico.

8. Acordar sem máscara a meio do sono

Algumas pessoas referem que acordam sem a máscara colocada. É uma situação normal, principalmente quando são pessoas com um sono agitado. Pode experimentar a máscara facial. Por vezes, a remoção inconsciente da máscara deve-se a um nariz congestionado - neste caso, reveja a dica 3. Se dormir acompanhado/a, peça para o/a avisarem se estiver sem a máscara na face - é importante dormir a noite toda com o CPAP. Em qualquer um dos casos, aborde este assunto na próxima consulta com o seu médico.

9. Ruído

Os dispositivos atuais são muito silenciosos… uma mosca no quarto pode ser mais barulhenta! Normalmente o ruído, quando existe, provém da máscara e de alguma fuga que lá possa existir. Reveja as dicas 1 e 7. Mesmo assim, no caso de ruído, recomendo a inspeção visual do filtro de entrada de ar do CPAP a fim de verificar se não está sujo ou obstruído. Se não encontrar o filtro, entre em contacto com o seu PCD.

Pode ser complicado habituar-se ao CPAP, mas na SAOS é essencial usá-lo de forma consistente, porque só assim conseguirá uma melhoria no seu bem-estar e na qualidade de vida. Envolva o seu médico e o PCD na personalização do seu tratamento. Pode levar algumas semanas até conseguir, mas será, sem dúvida, benéfico para si.

Por João Pereira, Cardiopneumologista