A esclerose múltipla, uma doença que se estima que afecta cerca de cerca de cinco mil portugueses, já pode ser tratada com uma cápsula diária.

Até agora, todas as opções terapêuticas disponíveis no mercado eram injectáveis.

A primeira terapêutica oral de toma única diária para o tratamento da esclerose múltipla acaba de ser aprovada em Portugal.

O fingolimod da Novartis aposta numa formulação oral para doentes que, até agora, apenas tinham opções terapêuticas injectáveis para tratar esta doença inflamatória, que afecta cerca de 2.5 milhões de pessoas em todo o mundo. A esclerose múltipla é uma doença inflamatória crónica do sistema nervoso central que se manifesta em jovens adultos entre os 20 e os 40 anos de idade e interfere com a capacidade do doente em controlar funções como a visão, a locomoção e o equilíbrio.

As mulheres têm, segundo vários estudos internacionais, duas vezes mais probabilidades de a desenvolver do que os homens. Como noutras doenças auto-imunes, o corpo torna-se inimigo de si próprio e confunde as células normais com intrusos. No caso da esclerose múltipla, ataca a mielina, a camada de gordura que envolve e isola as fibras nervosas do sistema nervoso central que permite uma comunicação mais rápida entre o cérebro e as outras partes do organismo.

Se a mielina é destruída ou alterada, os impulsos nervosos demoram mais ou não são transmitidos de todo. Quando isso acontece, pode haver perda em funções como a visão e a mobilidade. A esclerose múltipla por surto-remissão é a forma mais comum da doença, afectando aproximadamente 85% das pessoas que padecem desta patologia.

As pessoas com este tipo de doença experimentam ataques bem definidos resultantes da alteração da função neurológica. Estes ataques, frequentemente chamados surtos ou exacerbações, são seguidos por períodos de recuperação parcial ou total (remissão), durante os quais a doença permanece clinicamente estável. A nova terapêutica oral agora apresentada está indicada para o tratamento de doentes com esclerose múltipla surto-remissão ou em doentes com um diagnóstico de esclerose múltipla surto-remissão com elevada actividade, as formas mais graves da doença.

No seu programa de estudos, o fingolimod revelou, segundo a empresa que o comercializa, superioridade no controlo da doença quando comparado com uma das terapêuticas standard. «Esta nova solução terapêutica para os doentes com esclerose múltipla representa um novo paradigma no tratamento desta doença. O fingolimod vem dar resposta a uma necessidade de comodidade há muito sentida pelos doentes. Esta formulação inovadora permite aos clínicos um controle da doença com superior eficácia e com um perfil de tolerabilidade e segurança adequados confirmados pelos ensaios já realizados», assegura mesmo João de Sá, médico neurologista, responsável pela
consulta de Esclerose Múltipla do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

«Será assim expectável para o doente com esclerose múltipla ver a médio prazo as injecções substituídas por um comprimido diário», sublinha ainda este especialista. A esclerose múltipla tem um impacto significativo na qualidade de vida dos doentes e das suas famílias. Cerca de 85% das pessoas com esclerose múltipla queixam-se de fadiga constante, independentemente do seu grau de incapacidade provocado pela doença, o que interfere com a sua qualidade de vida e produtividade.