«É rara a doença reumática que não causa dor e não há nenhuma que não a cause em qualquer período da sua evolução», sublinha Jaime Branco, ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia.

Mas parece ser a fibromialgia a patologia que provoca mais dor. «São os doentes fibromiálgicos que nas escalas visuais analógicas para a dor têm pontuações mais elevadas, mesmo mais do que a artrite reumatóide ou a artrose em grau avançado», refere.

«Existem, contudo, dores excruciantes como uma metástase óssea ou a fractura osteoporótica», explica ainda. Segundo o especialista, as tão comuns lombalgias têm uma particularidade. «A referência da dor na região lombar é, na maior parte dos casos, desconhecida. Claro que o aumento da tensão muscular, que tem que ver com algumas profissões, com a posição em que temos de estar no nosso dia a dia é capaz de ter interferência, assim como o estilo de vida», diz Jaime Branco.

«Sabemos hoje, por exemplo, que o consumo de tabaco aumenta a incidência de lombalgias», sublinha ainda o especialista. Isto sem esquecer a falta de exercício físico uma das mais importantes variáveis na saúde do sistema músculo-esquelético.

Atacar a doença

O sexo feminino é o que mais sofre com dores reumáticas que podem ter múltiplas localizações, desde dor generalizada, dores nas articulações, ossos, entre outras. «A generalidade das doenças reumáticas é mais frequente nas mulheres, quer a fibromialgia, a osteoporose ou as doenças articulares inflamatórias», destaca o especialista. E se é verdade que as dores reumáticas são mais comuns no fim da vida, é também certo que as patologias que estão na sua origem se arrastam ao longo de décadas. Por isso o ideal é preveni-las.

Como há doenças do sistema musculo-esquelético que não é possível evitar que apareçam, «a melhor prevenção das dores reumáticas é tratar a doença que está subjacente». Ou seja, uma vez surgida a patologia esta deve ser controlada de maneira a não favorecer complicações. Ir ao médico quando aparecem as primeiras queixas é regra de ouro pois «doença tratada é igual a menos dor ou nenhuma dor, apesar da doença existir», diz Jaime Branco.

Segundo o especialista, «todos os medicamentos que se utilizam nas doenças reumáticas têm como função ou tratar a dor ou tratar a própria doença em si. E debelando a essência da patologia podem também melhorar a dor».

Fatores que podem agravar as dores reumáticas

1. A importância de tratar a patologia

Deixar evoluir a doença de base ou não seguir a terapêutica, prescrita pelo médico, adiando a toma de medicamentos é um erro. «As doenças são para controlar. A dor é muito positiva quando é aguda, enquanto sinal de que algo está mal. Mas depois de identificada a patologia, a dor é para debelar. Não há nenhum interesse em  mantê-la. Deve-se controlar até porque sabemos que uma dor local pode regionalizar», alerta Jaime Branco.

2. Alimentação

As gorduras ómega 3, presentes nos peixes gordos, são uma ajuda na redução de inflamação e consequentemente da dor. Quem ingere pouco cálcio corre o risco de ter osteoporose. «Claro que a dieta com cálcio reduz a osteoporose, logo as fraturas e portanto também temos menos dor», elucida Jaime Branco. O ideal é cumprir uma alimentação equilibrada que nos torna mais saudáveis.

3. Postura

Tem mais risco de vir a ter dores reumáticas quem tem más posturas ou seja quem se senta por exemplo todo torto ou não usa mobiliário fisiológico. A palavra de ordem deve ser conforto. Como concretiza Jaime Branco, «devemos ter roupa, calçado, cadeiras, camas confortáveis, mantendo o posicionamento do corpo numa estática normal e as curvaturas da coluna sem alterações».

4. Stress

«O stress agrava todas as dores, as musculares não são exceção», diz o especialista. Quando estamos sob pressão ficamos tensos e essa tensão é um terreno fértil para a dor. De mãos dadas com o stress anda o tabaco que segundo os especialistas agrava as lombalgias.

5. Sono

«Sabe-se que quem é privado do sono tem dores. Os estudos estão feitos desde os anos 70 por Moldovsky», refere Jaime Branco.

Ele privou do sono estudantes universitários que reproduziram um quadro fibromialgico, dor generalizada, ao fim de cinco dias», afirma o especialista.

«A má qualidade do sono é uma das causas das dores
musculo-esqueléticas, mas também uma das consequências», elucida o reumatologista.

6. Exercício

«O descondicionamento físico aumenta a possibilidade de se fazer lesões. As pessoas fizeram-se para mexer. O exercício é bom para o osso, para o músculo, para tudo. O órgão ou se usa ou se perde», alerta o especialista. O ideal é fazer exercício três vezes por semana, 40 minutos no mínimo. Andar, bicicleta, dança, hidroginástica, ou mesmo subir as escadas do prédio são opções.

Texto: Nazaré Tocha com Jaime Branco (reumatologista)