Calcula-se que 1,5% e 7,7% da população sofra de dor neuropática, um tipo de dor crónica causada por uma lesão ou doença do sistema nervoso que, frequentemente, é descrita como sensações dolorosas de queimadura, formigueiro ou choque eléctrico.

A dor com origem nos nervos é, muitas vezes, confusa e frustrante, quer para os doentes quer para os médicos, pois não responde muito bem aos tratamentos habituais para a dor, e pode incapacitar significativamente o doente. Pode durar indefinidamente e, pode mesmo, agravar-se ao longo do tempo.

A dor crónica, como a dor neuropática, pode ter um grande impacto na vida dos doentes, dificultando a marcha, provocando perturbações do sono e dificuldades de concentração. De acordo com a Pain in Europe, o maior inquérito sobre dor crónica, uma em cada cinco pessoas com dor crónica não trabalha devido à dor. Na Europa, por exemplo, perdem-se 500 mil dias de trabalho devido à dor crónica.

Adicionalmente, estes doentes apresentam, com frequência, outras comorbilidades, como depressão e doenças cardiovasculares, recorrendo mais aos serviços de saúde. Na mesma pesquisa europeia, 20% dos doentes com dor crónica relataram ter diagnóstico de depressão.

Quais são os sintomas?

Os sintomas da dor neuropática são frequentemente descritos como picada, queimadura ou choques eléctricos. Estes sintomas agravam-se, muitas vezes, durante a noite. Outros sintomas comuns da dor neuropática são:

1. Alodínia

Sensação dolorosa causada por estímulos que habitualmente não causam dor, como um leve toque.

2. Hiperestesias

Respostas exageradas aos estímulos tácteis, como aos lençóis de cama.

3. Hiperalgesia 

Sensibilidade exagerada a estímulos dolorosos.

4. Hiperpatia

Persistência da dor mesmo após a remoção do estímulo dolorosos.

5. Parestesias e disestesias

Sensações anormais e desagradáveis descritas como formigueiro ou, picadas.

Que impacto tem a dor neuropática nos doentes?

A dor neuropática pode ter impacto muito significativo no funcionamento diário e na qualidade de vida das pessoas afectadas. Em muitos doentes a dor interfere, de forma relevante, no sono e associa-se a falta de energia e dificuldades de concentração.

Devido à dor, que é de natureza crónica, alguns doentes não conseguem trabalhar, ou mesmo tolerar as roupas em contacto com o corpo, pois o simples contacto com estas pode desencadear dores insuportáveis, muitas vezes descritas como sensação de queimadura ou lancinantes.

As lesões nervosas dolorosas constituem um fardo económico importante para os doentes que procuram cuidados para o alívio da dor. Por outro lado, estes doentes sofrem habitualmente de outras doenças, o que os torna maiores consumidores de cuidados de saúde. A depressão, ansiedade e diabetes são perturbações frequentes nestes doentes.

Estima-se que, nos doentes com dor neuropática, os custos totais com a saúde sejam cerca de três vezes superiores aos da população em geral.

Existem diversos tipos de dor neuropática segundo a doença associada:

Neuropatia Diabética Periférica (NDP)

Uma complicação frequente da diabetes. Tende a atingir doentes com diabetes há mais de 10 anos e é frequente que os doentes se queixem de dor intensa e contínua nos membros inferiores, com agravamento nocturno.

Nevralgia Pós-Herpética (NPH)

Complicação mais frequente da infecção aguda por herpes zoster, também conhecida por «zona», sobretudo em doentes idosos e imunodeprimidos. Os doentes referem dor recorrente ou persistente e cerca 90% apresenta alodínia (dor a estímulos inócuos como o contacto com a roupa) e os sintomas podem mesmo persistir até ao fim da vida.

Nevralgia do trigémio

Caracterizada por períodos de dor aguda, em choque eléctrico, lancinante, na face, intervalados por períodos livres de dor. A dor localiza-se na área do nariz, olhos, lábios e orelhas, é frequentemente desencadeada por pequenos estímulos como uma corrente de ar, a fala ou a mastigação, e assim, com impacto muito negativo nas actividades da vida diária.

Neuropatia periférica associada à infecção pelo VIH

É constituída por um largo espectro de perturbações. Cerca de 50 % das pessoas infectadas pelo VIH sofrem ou sofrerão de neuropatia periférica durante a sua vida.

Dor neuropática associada ao cancro 

Devida ao tumor ou à quimioterapia.

Dor do Membro Fantasma

Surge frequente após uma amputação - é uma dor referida ao membro desaparecido, caracterizada por sensação de queimadura, ardor, formigueiro, cãibras, torção, compressão e/ou latejamento.

Radiculopatia

Dor originada nas raízes nervosas que saem da coluna vertebral, mais frequentemente na região lombar ou cervical, habitualmente causada por compressão e/ou processos inflamatórios. Numa considerável proporção de doentes, a dor é do tipo neuropático, correspondente a uma lesão da raiz nervosa.

Neuropatias por compressão

Como a Síndrome do Túnel Cárpico, com dor na mão e pulso.

Síndromes de dor neuropática de origem no sistema nervoso central

Compreendem situações como a esclerose múltipla, a dor pós-AVC, a dor pós-lesão vertebromedular.

Como tratar a dor neuropática?

O tratamento farmacológico pode incluir muitos fármacos como os antidepressivos, opióides, anti-inflamatórios e anticonvulsivantes, embora sejam poucos os que estão formalmente aprovados para o tratamento da dor neuropática.

De acordo com a situação clínica podem estar indicadas outras medidas: fisioterapia, bloqueio de nervos, procedimentos neurocirúrgicos ou estimulação eléctrica.

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