A doença de Alzheimer e a doença de Parkinson são as mais conhecidas porque estão directamente relacionadas com o envelhecimento. A má notícia é que não existem tratamentos capazes de as curar. A boa nova é que existem cada vez mais opções para melhorar a qualidade de vida do paciente.

Nas doenças relacionadas com o envelhecimento a nível neuronal, como a de Alzheimer e a de Parkinson, os neurónios cerebrais deixam de exercer as suas funções e acabam por morrer.

Está provado que existem factores genéticos, ambientais e outros relacionados com os hábitos de vida que incidem no seu aparecimento, mas ainda não se conhece a relação causa-efeito, o que, por sua vez, impede a obtenção de terapias mais eficazes.

DOENÇA DE PARKINSON

De acordo com os dados disponibilizados no Dia Mundial da Doença de Parkinson (11 de Abril), esta doença afecta um total de seis milhões e meio de pessoas em todo o mundo.

É crónica, neurológica e degenerativa, e costuma afectar idosos (geralmente, a partir dos 70 anos), apesar de, segundo os especialistas, nos últimos tempos este limite de idade ter reduzido consideravelmente, sendo que pelo menos uma em cada 10 pessoas afectadas tem menos de 50 anos.

Ocorre quando um grupo de neurónios situados na região cerebral, chamados gânglios da base, sofre de perda neuronal grave. Em condições normais, estes neurónios produzem dopamina, um mensageiro que transmite sinais nervosos relacionados com os movimentos voluntários.

Quando cerca de 60 a 80% destas células estão afectadas, surgem os sintomas da doença. Esta morte celular é determinada, pelo menos em parte, pela existência de genes predisponentes e pela exposição ambiental a determinadas toxinas.

Como se manifesta

Os sintomas da doença de Parkinson não afectam nem evoluem da mesma forma em todos os doentes.

«Em geral, manifestam-se primeiro de um lado do corpo e depois, atingem também o hemicorpo contralateral», explica Cristina Costa, neurologista.

Existem quatro sinais cardinais desta doença:

1. O tremor Costuma afectar a mão, o pé ou queixo, estendendo-se a outras zonas. É mais intenso em repouso e em situações de stress.

2. A rigidez:
Consiste na resistência ao movimento provocado por um desequilíbrio entre os músculos que facilitam um determinado movimento e seus opostos. Provoca uma sensação de se ter os membros presos, de dificuldade nos movimentos.

3. A lentidão (bradicinesia): É o abrandamento nos movimentos espontâneos e automáticos, o que faz com que tarefas tão simples como vestir-se ou tomar banho demorem muito tempo.

4. A instabilidade postural:
Trata-se de uma alteração do equilíbrio que predispõe a quedas e consequentes traumatismos.

Para além disso, existe uma extensa lista de sintomas menos importantes, como a fadiga e perda de energia, depressão, alterações da fala, insónias, alterações emocionais, dificuldades em mastigar e engolir, prisão de ventre, hipotensão, dores musculares, demência e alterações da memória.

Como evitar que esta doença progrida

Fármacos com boas perspectivas

O tratamento farmacológico administrado actualmente permite aliviar a maioria dos sintomas, apesar de não incidir sobre a causa da doença. Assim, por exemplo, é eficaz no controlo dos tremores e da rigidez, e reduz a produção de saliva.

Os benefícios do café

Um estudo recente levado a cabo por uma equipa de investigadores do Centro Médico da Universidade de Duke, em Durham, Carolina do Norte, o consumo de café tem uma relação inversamente proporcional à incidência da doença de Parkinson.

«Aumentar a dose e a intensidade da ingestão total de cafeína reduz significativamente as possibilidades de desenvolver Parkinson», revelam os autores da investigação.

Controlar a diabetes

Especialistas do Instituto Nacional de Saúde Pública de Helsínquia revelaram que os pacientes com diabetes tipo 2 têm mais propensão para desenvolver a doença de Parkinson devido, em parte, ao excesso de peso corporal que costumam ter.

Cuidado com os pesticidas

As pessoas expostas de forma regular a pesticidas aumentam o seu risco de padecer desta doença. Vários trabalhos relacionaram estas substâncias com um aumento do risco de a desenvolver; o último é da Universidade de Aberdeen, na Escócia, no qual se demonstrou que, por exemplo, os agricultores com níveis altos de exposição a pesticidas têm 43% mais probabilidades de padecer da doença.

Os especialistas recomendam que os jardineiros profissionais e os agricultores usem máscara e vistam roupa protectora adequada.

As opções do futuro

Inúmeros progressos científicos têm sido desenvolvidos nos últimos anos, no sentido de encontrar tratamentos mais eficazes para a doença de Parkinson.

De acordo com Cristina Costa, «estes desenvolvimentos incluem o aperfeiçoar de técnicas que envolvem cirurgia cerebral, nomeadamente a estimulação cerebral profunda».

Como melhorar o seu dia-a-dia

Para além da medicação, existem técnicas e terapias destinadas a controlar os sintomas, como a fisioterapia ou a hidroginástica, que podem ajudar a melhorar e manter a força muscular e articular de todo o corpo. Dependendo da fase da doença, a terapia ocupacional e da fala, também podem estar indicadas.

É de realçar a importância da realização de um programa de exercício físico adequado, se possível orientado por um especialista, que permita a estes pacientes reduzir os seus níveis de dependência e melhorar a sua qualidade de vida.

DOENÇA DE ALZHEIMER

De acordo com dados da Alzheimer Europe (www.alzheimer-europe.org ), uma associação europeia sem fins lucrativos, cerca de 70% das pessoas com demência padecem de Alzheimer.

Em Portugal, não existem dados conclusivos sobre a prevalência desta doença, mas estima-se que existam cerca de 60.000 pessoas afectadas.

A sua origem é multifactorial e a sua evolução irreversível, sendo importante detectar precocemente os sintomas para conseguir enfrentá-la quanto antes e abrandar a sua evolução.

«Sabe-se que o desencadeante está em grande parte na produção exagerada de tranças neurofibrilhares numa determinada zona do cérebro, bem como no depósito exagerado duma substância amilóide tóxica, na inactivação das terminações sinápticas dos neurónios, na redução de determinados neurotransmissores cerebrais e no contributo negativo de factores genéticos, vasculares, traumáticos, auto-imunes, tóxicos, infecciosos ou até pelo facto de padecer de outras patologias como a diabetes», explica Olívia Robusto, consultora de Psiquiatria no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

Como se manifesta

O guia da Clínica Mayo sobre Alzheimer, editado por esta prestigiada entidade norte-americana, estabelece dez grandes sinais de advertência que podem permitir detectar a doença nos seus estadios mais precoces: perda de memória, dificuldade para realizar tarefas habituais, problemas com a linguagem, desorientação a nível de tempo e lugar, pouca ou nenhuma capacidade de discernimento, problemas com o raciocínio abstracto, extravio das coisas, mudanças de ânimo ou de comportamento, alterações de personalidade, perda de iniciativa.

Todos estes sintomas vão aparecendo e evoluindo de forma progressiva.

Como evitar que progrida

Fármacos: os quatro magníficos

Actualmente não existe cura para esta doença; todos os esforços estão reunidos para travar a progressão dos sintomas. Em Portugal, comercializam-se quatro fármacos: donepezil, rivastigmina, galantamina e memantina, com os quais se consegue melhorar a qualidade de vida dos pacientes, podendo ser utilizados juntamente com outras terapias, como a reabilitação cognitiva.

Uma dieta equilibrada

É um passo importante e ao nosso alcance para evitar que a doença possa ser desencadeada por alguns dos factores de risco.

De acordo com Olívia Robusto, «deve-se evitar, sobretudo, o excesso de gorduras, de açúcar e de sal, o tabaco e o álcool, a obesidade e produtos tóxicos (especula-se por exemplo sobre o perigo do alumínio e do cobre na alimentação, mas não se conhecem estudos fidedignos que provem com certeza)».

Mobilidade física e mental

Investigadores de diversas universidades norte-americanas e de centros de investigação credenciados europeus (França, Inglaterra e Suécia) têm vindo a insistir, segundo Olívia Robusto, «na importância da aprendizagem e de manter uma mente activa a fim de incrementar a neuroplasticidade cerebral, estimulando assim as zonas sãs do cérebro e, eventualmente, reabilitar algumas já afectadas, bem como na importância de se efectuar regularmente exercício físico».

Peixe

Sempre na ementa. De acordo com os resultados de um novo estudo da Universidade da Califórnia, um dos ácidos gordos presentes nos peixes ricos em ómega-3 (atum, salmão, sardinhas e anchovas), o ácido docosahexaenóico, pode aumentar a capacidade de aprendizagem no rato velho, contrariando assim o defeito de memória relacionado com o envelhecimento.

A nova vacina

Um prestigiado grupo de cientistas japoneses desenvolveu recentemente uma vacina oral contra a doença de Alzheimer cujos resultados lançaram expectativas esperançosas, já que demonstrou ser eficaz em ratinhos.

Esta terapia está destinada a atacar um dos possíveis desencadeantes da doença: a acumulação de placas de amilóide no cérebro, uma circunstância frequente em pessoas com mais idade.

Como melhorar o seu dia-a-dia

Ter hábitos de vida saudáveis e, sobretudo, manter a mente activa. Quando se trata de fazer ginástica cerebral vale tudo: jogar às cartas, ler, fazer passatempos e, acima de tudo, procurar actividades que potenciem a criatividade...e o gosto pela vida. O objectivo é impedir que os neurónios atrofiem.

Células estaminais: a grande esperança

A sua experimentação e uso estão envoltos em polémica em muitos países. Contudo, são perfiladas como a linha de investigação mais promissora, num futuro não muito distante, para um bom número de doenças, em geral, e para as doenças degenerativas, em particular.

As células estaminais têm a capacidade de se transformarem em células de múltiplos tecidos diferentes.

Podem ser encontradas no embrião durante o seu desenvolvimento, mas existem muitos problemas éticos para que sejam feitas investigações com elas, pelo que, actualmente, se utilizam outras células estaminais menos abundantes mas presentes nos diferentes órgãos e tecidos do adulto, por exemplo no sangue periférico ou na medula óssea.

Cuidando do cuidador

Grande parte da assistência e dos cuidados dos doentes de Parkinson e Alzheimer recaem sobre os familiares, o que implica dedicação acrescida e sacrifício da vida social, podendo resultar na chamada síndrome do cuidador ou síndrome de burn out, que prejudica a sua saúde física e mental, limitando a sua vida de uma forma geral.

O mesmo acontece com as restantes doenças neurodegenerativas, nas quais o paciente desenvolve níveis elevadíssimos de dependência.

Para prevenir esta síndrome, os especialistas recomendam aos cuidadores tentar ter acesso à informação necessária e adequada (O Manual do Cuidador, da Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer, pode ser uma ajuda preciosa; bem como sessões de ensino e os grupos de suporte), contar com o apoio familiar (para delegar e repartir tarefas) e não descuidar o lado emocional nem o bem-estar físico.

Eis alguns contactos que se podem tornar muito úteis:

Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer (APFADA)
Telefone: 213 610 460/8
Internet: www.alzheimerportugal.org

Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson
Telefone: 213 850 042
Internet: www.parkinson.pt

Texto: Madalena Alçada Baptista com Dra. Cristina Costa (neurologista) e Dra. Olívia Robusto-Leitão (consultora de Psiquiatria no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e membro da Comissão Científica da APFADA)

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