Uma das principais causas de morbilidade e morte nas sociedades ocidentais, a doença coronária, está associada a concentrações elevadas de colesterol das lipoproteinas de alta densidade (C-LDL), sendo a atitude terapêutica determinada pelos níveis dessas concentrações, tal como dispõe o Update de 2004 do ATP III do NCEP em que em doentes de alto risco deve ser atingido, mediante terapêutica, o objectivo de C-LDL< 70 mg/ dL.

Este grupo de doentes em que predominam a DM II e o sindroma metabólico os parâmetros laboratoriais clássicos não são suficientes, por si só, para controlar com eficácia o processo.

Como fazê-lo?

A resposta passa pela utilização da heterogeneidade das lipoproteinas relativamente a diferenças entre a sua dimensão e densidade e composição química, diferenças essas que por ultra-centrifugação ou por espectroscopia por ressonância nuclear magnética foram postas em evidência e permitiram identificar de dois distintos fenotipos: fenotipo A, associado a partículas LDL grandes e flutuantes e o fenotipo B, em que predominam partículas pequenas e densas, partículas estas que ao contrário das anteriores estão relacionados com alterações oxidativas e formação da placa aterotrombótica e risco aumentado de doença coronária.

Com a generalização das estatinas, caíram em desuso a classificação de Fredrickson e a sua identificação eletroforética. Porém a verificação do risco residual já referido, bem como a importância da heterogeneidade das lipoproteinas, estiveram na base do aperfeiçoamento da Eletroforese das Lipoproteínas em Gel de Poliacrilamida (ELGP) e de uma melhor separação das partículas lipoproteicas.

Esta técnica, a ELGP que agora utilizo no meu laboratório, é a única que permite isolar e dosear o colesterol das seguintes fracções e sub-fracções: VLDL; 3 bandas médias C, B e A: IDL, Lipoproteínas Remanescentes e Lipoproteina (a); 7 sub-fracções da LDL: As grandes não aterogénicas (LDL 1 e 2) e as pequenas e densas aterogénicas (LDL 3, 4, 5, 6 e 7); HDL.

A elevação do colesterol das VLDL está associada com hipertrigliceridémia; a elevação do colesterol das IDL e das remanescentes aumenta o risco vascular; um colesterol aumentado nas sub-fracções LDL 3, 4, 5, 6 e 7 aumenta 3 vezes o risco de doença cardiovascular.

Corresponde ao fenotipo Não A, (fenotipo aterogénico que tanto designa o quadro anterior como quando a aterogenicidade é devida às IDL) e que está fortemente relacionado com a extensão da doença coronária e sindromas coronários agudos. É um factor de risco independente dos riscos coronários tradicionais e não tradicionais e desempenha um importante papel no desencadear da doença coronária bem como na sua progressão.

Por outro lado a ELGP demonstrou que, embora a hipertrigliceridémia se acompanhe muitas vezes de partículas altamente aterogénicas, estas são comuns também em um grande número doentes normotrigliceridémicos (< 150 mg/ dl) ao contrário do que chegou a ser sugerido pela American Association of Clinical Endocrinologists. Acontece ainda que, na nossa experiencia, é frequente encontrar doentes com parâmetros lipídicos clássicos aparentemente normais mas com fenotipos não A (ou B) acentuados.

O método de Eletroforese das Lipoproteínas em gel de poliacrilamida que utilizamos para o fraccionamento lipoproteico é um exame que mede o colesterol existente em cada sub-fracção até 1 mg/ dL o que permite a identificação inequívoca das partículas altamente aterogénicas de LDL e das subespécies IDL (doença dos remanescentes) deve ser utilizado e valorizado no estudo das dislipémias da diabetes, do sindroma metabólico, na doença coronária, nos doentes com história familiar de dislipémia, doentes com “score” de cálcio coronário imagiológico elevado, bem como no controlo da terapêutica antilipemiante, designadamente avaliar a eficácia da terapêutica com estatinas e a junção ou não de fibratos

É um método preciso, facilmente utilizado em rotina. Não é porém comparticipado pelo SNS, ADSE, e SSAD-PSP. É porém comparticipado pelas companhias de seguros, se pedido como Electroforese das Lipoproteínas. Tal não inclui os parâmetros lipídicos (CT, C-LDL; C-HDL e triglicéridos que devem ser pedidos à parte.

Por Germano de Sousa