A Diabetes Mellitus (DM) vem descrita nos textos mais antigos da Medicina. Dos Egípcios a Hipócrates e Galeno, todos se preocuparam com a doença, em que a carne se desfazia em água. Ou seja, uma maleita na qual o doente (jovem) comia muito (polifagia), bebia constantemente água (polidipsia), urinava muito (poliúria), a urina era doce (daí o nome Mellitus), emagrecia a olhos vistos (caquexia), o hálito cheirava a maçãs (hálito cetónico) e morria em pouco tempo.

Se os médicos da antiguidade sabiam reconhecer esta doença, que corresponde à atual DM Tipo I, não sabiam tratá-la nem suspeitavam de outra DM (do Tipo II), frequente nos obesos de meia-idade que não se comporta tão dramaticamente como o Tipo I mas que, se não tratada, de forma insidiosa encurta consideravelmente a vida, leva ao enfarto de miocárdio, à cegueira, à gangrena dos membros inferiores, à insuficiência renal e a lesões dos nervos (neuropatias).

Outras espécies de DM foram ainda identificadas, merecendo referência a da gravidez. Na DM I, de causa imunológica, o organismo ataca e destrói as células do pâncreas que produzem insulina, levando à ausência desta hormona no sangue. Na DM II, por razões genéticas e de obesidade, a produção de insulina ou não é suficiente ou há uma resistência à sua ação.

A ausência ou incapacidade de utilização da insulina leva ao aumento do açúcar no sangue (glicémia é o nível de açúcar no sangue que quando ultrapassa o normal se diz hiperglicémia).

Na DM, a hiperglicémia é uma constante e como tal é o médico patologista clínico que, no laboratório, diagnostica a doença e contribui para o esclarecimento das suas consequências. Assim, a DM define-se pela concentração sanguínea da glicémia. Existe doença quando em dois dias se obtém, em jejum, um valor superior a 125 mg/dl ou superior a 199 mg/dl, duas horas após a ingestão de 75 mg de glicose dissolvida em água.

Valores em jejum de 105 a 125 mg/dl poderão prenunciar uma futura diabetes. O açúcar elevado nos diabéticos une-se às proteínas e altera a sua função. Glicação é o nome desse fenómeno que é responsável pelas lesões renais, cegueira e neuropatias. O açúcar une-se também à hemoglobina e o doseamento da fração desta proteína que é glicada (Hemoglobina Glicada – HbA1c) informa sobre os níveis de glicémia no passado recente do diabético. Níveis elevados indicam que houve uma taxa alta de hiperglicémia.

Atualmente é utilizada não apenas na monitorização mas também no diagnóstico: HbA1c inferior a 5,7% - normal; entre 5,7 e 6,4% - pre-diabetes; se 6,5% ou mais – diabetes.

Por sua vez, a existência de quantidades mínimas de albumina (microalbumina) indicam lesões renais. No tipo I, a insulina é o único tratamento. No Tipo II, o tratamento passa pela dieta (sem açúcar e pobre em outros hidratos de carbono) e estimulantes da produção de insulina. A DM I não é evitável. Já a DM II pode ser evitada ou minorada se a obesidade for evitada, desde a infância.

Por Germano de Sousa