Marcar uma consulta, tomar qualquer coisa ou esperar que passe. É um dilema frequente, tão frequente como as situações que encontrará neste artigo. Mas a resposta pode ser surpreendente.

Os sintomas que lhe apresentamos podem ser inofensivos, refletir hábitos nocivos para a saúde ou, até, esconder patologias graves e, muitas vezes, são as decisões que tomamos que pioram a situação.

Confuso?

Saiba que não tem razões para isso. Colocámos todas as dúvidas a um painel de especialistas para que ao próximo sinal saiba se há (ou não) razão para alarme.

«Tenho dor de dentes»

O mais provável é que tenha alguma cárie, «a causa mais comum para a dor de dentes, embora também possa ser causada por problemas gengivais, tártaro ou periodontite», refere Conceição Matias, médica dentista. Se, apesar de ser exemplar nas idas ao dentista, sentir uma dor aguda «pode dever-se a fratura». O problema pode, ainda, ter origem numa «disfunção temporo-mandibular, que provoca uma dor irradiada a partir da articulação, muito comum hoje em dia devido ao stresse», descreve.

Nestes casos, pode recorrer a medicamentos de venda livre, como o paracetamol ou o ácido acetilsalicílico e, num curto período de tempo, consultar o médico. «A toma de analgésicos não deve ultrapassar os três dias», diz a médica, sublinhando que «se a dor inicia com inchaço na cara deve ser vista com urgência pois pode evoluir para asfixia ou comprometer estruturas anatómicas importantes da face e do pescoço».

«O hábito de bochechar com bebidas com álcool é prejudicial porque queima as mucosas», alerta a médica. Usar água e sal como elixir também não é indicado, sobretudo se tem hipertensão arterial.

«Dói-me a cabeça»

A dor de cabeça (cefaleia) é o problema neurológico mais frequente. «A enxaqueca é um tipo específico de cefaleia muito comum nos jovens adultos e, em especial, nas mulheres. Estados de ansiedade, depressão, patologia osteoarticular e doenças infeciosas podem também acompanhar-se de dores de cabeça», descreve Belina Nunes, neurologista. Se a dor é pontual e surge após um dia cansativo, por exemplo, «pode recorrer a um analgésico», diz a neurologista. «Se for persistente, deve ser avaliada por um médico para ser feito um diagnóstico e um plano de tratamento», aconselha.

«Uma dor de cabeça súbita, muito intensa e persistente, acompanhada, ou não, de outros sintomas poderá tratar-se de uma hemorragia cerebral. A dor de cabeça diária acompanhada de vómitos, entorpecimento cognitivo, crises epiléticas e/ou falta de força nos membros exige investigação médica urgente para despiste de tumor cerebral», alerta a especialista

Evite medicar-se em excesso se tem crises de enxaqueca frequentes. «Poderá agravar a intensidade da dor e a sua frequência», alerta a especialista.

«Tenho dores de estômago»

É uma queixa frequente, geralmente, «condicionada pela dispepsia funcional ou não ulcerosa, que engloba a dor, enfartamento e desconforto. Trata-se de uma situação benigna, que se deve a uma alteração do funcionamento ou da sensibilidade do estômago e pode ser agravada por stresse ou excessos alimentares», explica Ricardo Freire, secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia.

Se a dor for esporádica ou surgir após excessos alimentares, «pode recorrer a antiácidos de venda livre ou aos inibidores da bomba de protões», indica.

Vá ao médico se «a dor surge pela primeira vez aos 40 anos ou associada a outros sintomas (náuseas e vómitos, perdas de peso e sangue nas fezes ou nos vómitos). Também deve ir para fazer o despiste de úlcera gástrica ou duodenal e de situações graves como o cancro gástrico, uma patologia que, em Portugal, tem uma das mais elevadas prevalências mundiais», alerta o médico.

«Tenho tosse»

Segundo Rui Nogueira e Telma Ormonde,
médicos de família na Unidade de Saúde Familiar BRIOSA, a «tosse
consiste num mecanismo de limpeza dos brônquios, que pode ter múltiplas
causas, nomeadamente, infeções ou alergias». Embora seja, muitas vezes,
passageira, pode surgir associada a outras patologias mais graves como a
infeção pulmonar.

Perante estes casos, aumente a ingestão de líquidos (água,
infusões) pasta garantir uma boa hidratação. Vá ao médico se a tosse for
persistente, «com mais de três ou quatro semanas, acompanhada de falta
de ar, pieira ou dor no peito, em especial se é fumadora ou sofre de
doença respiratória ou crónica», referem. Evite tomar xaropes sem
indicação médica. O uso indevido pode, «em algumas situações, agravar a
tosse», alertam.

«Tenho dificuldade em adormecer»

«A insónia é um sintoma muito comum em casos de depressão e estados de ansiedade, mas também se pode dever a trabalho por turnos
ou doenças degenerativas do sistema nervoso», explica Belina Nunes,
neurologista, apontando a apneia do sono e a síndrome de pernas
irrequietas como outras causas.

Nestes casos, afaste as preocupações: reserve um momento diário
para relaxar e «anote as tarefas do dia seguinte, evitando sobrecarregar
o sono com preocupações», aconselha. Vá ao médico se a insónia for
persistente, pois é sinal de desregulação do ciclo vigília-sono. Evite
automedicar-se. «É fundamental determinar se existe uma doença
subjacente que exija tratamento específico» alerta Belina Nunes.

«Doem-me as costas»

Esta dor pode ter vários significados. Se a impede de dormir, é mais intensa quando está imobilizada e melhora ao longo do dia, à medida que se movimenta trata-se de uma dor inflamatória.

Se resulta de esforços ou má postura e tende a passar com algum repouso, é uma dor mecânica.

«As dores mecânicas cedem, em regra, ao repouso e a analgésicos, ao fim de dias», diz o reumatologista.

Intervenções complementares que melhorem a dor como termas, pilates, hidroginástica ou osteopatia são igualmente válidas. A dor inflamatória «reage bem à medicação com anti-inflamatórios». Vá ao médico se «tem uma dor inflamatória persistente ou nota alguma alteração numa dor mecânica como tornar-se mais resistente a terapêutica ou associar-se a sintomas como febre ou falta de apetite», aconselha.

Embora estejam habitualmente associadas a situações benignas, existem algumas patologias graves que podem estar na sua origem, tais como osteoporose associada a fraturas, infeção nas vértebras ou tumor. Evite o uso prolongado de analgésicos sem, ao mesmo tempo, identificar a causa da dor. Pode camuflar um problema grave e retardar o diagnóstico.

«Tenho um treçolho»

Como explica Luís Gouveia Andrade, médico oftalmologista, «o treçolho corresponde a uma infeção de uma das glândulas das pálpebras, responsáveis pela produção dos constituintes da lágrima. Existe uma perturbação semelhante, denominado chalázio, que se manifesta de modo idêntico, mas que corresponde a um processo inflamatório. Ambos são mais comuns em pessoas com alergias ou alterações da pele».

Embora não seja grave, o treçolho «pode evoluir para a formação de um quisto que requer cirurgia», afirma o médico oftalmologista. O tratamento engloba a «aplicação de compressas de água quente e a aplicação de gotas e/ou pomada com antibióticos e ou anti-inflamatórios», refere o médico oftalmologista.

«Tenho febre»

A febre trata-se de uma reação natural do corpo na defesa contra vírus ou bactérias. Se a temperatura axilar for superior a 38º C pode tomar, até três dias, antipiréticos como o paracetamol, respeitando a dose adequada à idade e peso e os intervalos recomendados. Se o problema persistir vá ao médico. Sintomas associados como prostração, dificuldade respiratória, manchas no corpo, vómitos ou diarreia que não cedem ou mau estado geral exigem cuidados médicos imediatos.

Texto: Manuela Vasconcelos com Augusto Faustino (médico reumatologista), Belina Nunes (médica neurologista), Conceição Matias (médica dentista), Luís Gouveia Andrade (médico oftalmologista), Telma Ormonde (interna de medicina familiar), Ricardo Freire (médico gastroentrologistas) e Rui Nogueira (médico de família)