Carateriza-se pelo aparecimento de surtos recorrentes de inflamação da pele, que produzem um prurido intenso, associados a uma secura permanente da mesma. As áreas afetadas variam com a idade e a gravidade da doença, mas pode envolver a face, o tronco e os membros, sobretudo as dobras.

Esta situação, em particular nas formas moderadas a graves, tem um profundo impacto na qualidade de vida do doente e da sua família, pois a criança afetada, muitas vezes, não consegue dormir, baixa o seu rendimento escolar, arranha a pele e mancha a roupa de sangue, o que pode, inclusivamente, resultar em problemas de caráter social.

Para além dos elevados custos diretos com que a doença onera a família do doente, os custos indiretos são igualmente relevantes, representados em grande medida pelo absentismo profissional dos pais que têm de dedicar muito do seu tempo à criança doente. A DA parece ser mais incidente em países industrializados, sobretudo nas áreas urbanas, nos estratos socioeconómicos mais elevados e nas famílias menos numerosas e a sua incidência tem aumentado, sobretudo a partir da segunda metade do século passado.

Causas variadas

No seu aparecimento, interagem múltiplos fatores genéticos e ambientais. Por exemplo, sabe-se que uma história familiar, sobretudo do lado da mãe, de doenças atópicas, como a rinite, a asma e a própria DA, aumentam o risco. Não é em si uma alergia, mas as alterações características do sistema imunológico, associadas a uma barreira cutânea mais débil, facilitam o desenvolvimento de várias alergias no plano alimentar, respiratório (ex. asma e rinite alérgicas) e de contacto (ex: alergia a metais) que, muitas vezes, se associam, em momentos diferentes do desenvolvimento, à DA.

Entre outros aspetos, esta mesma debilidade da barreira cutânea explica a secura da pele, por esta ser incapaz de reter água, e o maior risco que estes doentes têm de se infetarem, infeções que muitas vezes agudizam a DA e podem ser graves. Mesmo quando a doença melhora, o que se observa em grande parte dos doentes ao fim de alguns anos, sobretudo a partir da adolescência, muitos deles continuam em risco de sofrerem de doenças da pele que podem ser debilitantes, como a urticária e a alergia de contacto no seu ambiente profissional.

Um melhor conhecimento da doença tem ajudado no desenvolvimento de diferentes abordagens terapêuticas. A presença de uma pele seca e de uma barreira cutânea débil, implicam cuidados ao nível do banho (evitar água muito quente, águas duras, períodos prolongados e não usar sabões como agentes lavantes), da roupa em contacto direto com a pele (preferir fibras naturais, como o algodão) e o uso regular de cremes hidratantes que sejam especialmente formulados para a pele da DA (e não necessariamente “qualquer” creme para a pele seca).

Não há nenhum alimento ou produto dietético que de uma forma geral possa ser recomendado aos doentes no sentido de melhorar a DA e o abuso de alguns, como o conhecido chá de ervas chinesas, pode ter consequências negativas na saúde. No sentido de controlar as crises inflamatórias, o tratamento orbita nos conhecidos corticosteroides de aplicação local.

Há que ter em conta que os “cremes de cortisona” não são todos iguais nos efeitos que produzem e requerem cuidados especiais na sua utilização, sobretudo na face, no pescoço, nas dobras e na área da fralda, pelo que se torna fundamental seguir as recomendações do seu médico.

Mais recentemente, dispomos de medicamentos de aplicação local que demonstram algumas vantagens em relação aos corticosteroides, como é o caso dos chamados inibidores da calcineurina (ex: tacrolimus). Para além do controlo eficaz da inflamação, que inclui áreas sensíveis como a face, a aplicação destes fármacos em determinado esquema demonstrou poder atrasar de forma significativa o aparecimento de uma nova crise, isto é, há a possibilidade de aumentar o período de tempo em que o doente se mantém livre de inflamação.

Em todos os casos, o tratamento deve ser sempre o mais precoce possível, ou seja nos primeiros sinais de inflamação da pele e não deixar que esta avance sem tratamento. Outras terapêuticas a que por vezes temos de recorrer em casos mais graves e refratários, incluem os imunossupressores e os imunomoduladores sistémicos.

Por Alberto Joaquim Vieira Mota, Professor de Dermatologia e Venereologia da Faculdade de Medicina do Porto