O ano 2007 ficará marcado na história da medicina nacional como aquele em que, pela primeira vez, uma criança portuguesa recebeu um transplante de células estaminais de sangue do cordão umbilical, criopreservadas num banco privado.

A intervenção ocorreu, no Instituto Português de Oncologia do Porto e permitiu que Frederico Manuel, na altura com 14 meses, fosse salvo graças às células do seu irmão mais velho de uma síndrome congénita do sistema imunitário que o tornava alvo de infecções.

Esta história de sucesso, passada no nosso país, tem nos seus bastidores anos de investigação sobre o potencial destas super células, capazes de se diferenciar em vários tipos celulares, de se renovar e dividir indefinidamente.

O que são as células estaminais?

«Idealmente as células estaminais têm a capacidade de poder vir a substituir qualquer célula doente que tenhamos no corpo e, se utilizadas adequadamente em terapias celulares ou engenharia de tecidos, podem regenerar qualquer tipo de tecido ou órgão danificado», explica a Sociedade Portuguesa de Células Estaminais e Terapia Celular (SPCE-TC), fundada em 2004 por 70 investigadores portugueses.

Segundo o Lusocord, o Banco Público de Células Estaminais do Cordão Umbilical, criado oficialmente o ano passado, «as aplicações futuras das células estaminais encontram-se ainda em fase de estudo. A reconstrução do tecido cardíaco, osso e cartilagem, a diabetes, a esclerose múltipla ou doenças do foro neurológico são exemplos. Os estudos noticiados carecem de replicação e de validações científicas.» 

As células estaminais do cordão umbilical

Segundo o Lusocord, «o transplante com células estaminais do sangue do cordão umbilical tem sido usado no tratamento de uma variedade de doenças genéticas, hematológicas, imunológicas e oncológicas».

Actualmente existem diversos bancos privados em Portugal que possibilitam a criopreservação de células estaminais do cordão umbilical, mas também foi criada recentemente uma entidade pública para o efeito, o já referenciado Lusocord.

O processo de colheita das células estaminais do sangue do cordão umbilical ocorre no momento do parto com recurso a um kit. O processo é realizado por um elemento da equipa médica que faz o parto e o transporte do material efectuado pelo  banco de criopreservação, onde fica armazenado entre 15 a 20 anos.

De acordo com dados divulgados pela revista saber viver, «as células estaminais hematopoiéticas têm vantagens em relação às da medula óssea dos adultos: são mais jovens, mais resistentes, têm maior capacidade de regeneração, de multiplicação (dez vezes superior às da medula óssea), apresentam índices mais elevados de compatibilidade entre dador e receptor e uma menor incidência de rejeição do transplante, quando usadas no repovoamento de medula óssea de doentes após quimioterapia e/ou radioterapia.»

Transplantes autólogos

A impossibilidade de se realizarem transplantes autólogos de células estaminais do sangue do cordão umbilical (transplantes em que estas células são da própria pessoa) é um dos pontos de controvérsia neste domínio.

A Future Health, um banco privado de criopreservação de células estaminais, sublinha que «os transplantes autólogos de células estaminais têm sido prática comum em todo o mundo para o tratamento de distúrbios hematológicos e vários tumores sólidos.»

Este banco privado acrescenta ainda no seu site que «é expectável que as células estaminais do sangue do cordão umbilical sejam normais e livres de qualquer doença, o que lhes confere uma vantagem potencial em relação às células autólogas recolhidas durante remissão hematológica de um paciente com essa doença». Para além disso, acrescenta, «o sangue do cordão umbilical pode também ser usado pelos irmãos ou parentes directos, quando a compatibilidade é suficiente.»

O caso da leucemia

As células estaminais encontram-se, contudo, não só no cordão umbilical mas também na medula óssea, sendo possível, por exemplo no caso de uma leucemia, recorrer-se ao banco mundial de medula óssea.

O Lusocord esclarece que «o facto de haver células congeladas de um bebé que vem a ser mais tarde um doente, não significa que elas sejam as células de que necessita para ser transplantado. A maioria das células de pessoas que vêm a ter uma leucemia tm à nascença um defeito genético que impede a sua utilização. O mesmo acontece com doenças congénitas.»

Assim, acrescenta este organismo, «se o bebé vier a necessitar, o mais provável é que sejam as outras células saudáveis do Banco Público a solução para o seu problema e não as suas.»

Texto: Fabiana Bravo