Aproximadamente uma em cada cinco crianças com idades compreendidas entre os 5 e os 15 anos necessitam de algum tipo de correção visual, e este número tem vindo a crescer tanto em Portugal como no resto do mundo. O excesso de exposição em tarefas de visão próxima, o grande número de horas em frente a aparelhos tecnológicos e a exposição intensa a luzes artificiais são alguns dos vários fatores que podem ter contribuído para esta tendência.

Nos problemas visuais infantis mais recorrentes, poderão ser encontradas a miopia, o astigmatismo e a hipermetropia, sendo que a maioria das crianças com défice de visão manifesta problemas refrativos, ou seja, suscetíveis de serem corrigidos com o uso de lentes de contacto ou óculos.

Apesar de ainda existir, entre os pais portugueses, uma grande resistência ao uso de lentes de contacto em crianças pré-adolescentes, a verdade é que vários estudos indicam que o uso de lentes de contacto em idades infantis traz todos os benefícios que o uso de lentes de contacto garante nos adultos e, para além disso, contribui para melhorar o seu sentido de responsabilidade e a sua auto-estima.

Falta de consenso entre especialistas

Apesar de as crianças terem capacidade para utilizar lentes de contacto com autonomia a partir dos 8 anos de idade, não existe, entre os especialistas, um consenso sobre uma idade mínima para usar lentes de contacto.

Estes concordam que as crianças que demonstrem o desejo de usar lentes de contacto podem usá-las a partir do momento em que também revelem um certo nível de responsabilidade e maturidade, assim como hábitos de higiene pessoal independente.

Esta é também a experiência de Sofia Matos, coordenadora de ensaios clínicos no laboratório de investigação em optometria clínica e experimental da Universidade do Minho, e que desde há 4 anos adapta lentes de contacto a crianças a partir dos 8 anos.

Segundo esta optometrista, “é muito interessante ver como crianças de tão curta idade evoluem desde as primeiras consultas em que existem alguns receios, até uma utilização independente, embora sob vigilância atenta dos pais, passadas algumas semanas. Surpreende também ver como são conscientes da importância de ter cuidados com a sua higiene para manusear as lentes, sobretudo quando comparados com jovens adultos de 18 ou mais anos. Talvez seja por isto que num estudo recente realizado pela Dra. Robin Chalmers nos Estados Unidos, se observou que a faixa etária entre os 8 e os 12 anos era aquela que apresentava um menor índice de complicações.”

Os benefícios do uso de lentes de contacto em idade pré-adolescente e adolescente são facilmente quantificáveis:

  • Melhoria da autoestima. Uma vez que é nesta fase pré-adolescente e adolescente que iniciam os problemas com a identidade e aparência e o uso de lentes de contacto em vez de óculos melhora substancialmente a forma como as crianças se vêm a si mesmas.
  • Ausência das restrições impostas pelo uso de óculos, pois as lentes de contacto não são passíveis de serem partidas em atividades físicas como os óculos.
  • Melhoria do sentido de responsabilidade. Segundo o estudo “Vision specific quality of life of pediatric contact lens wearers” as crianças que demonstram o desejo de usar lentes de contacto em vez de óculos tendem a ser cuidadosas com a limpeza das mesmas e demonstram facilidade no seu manuseamento.

O uso de lentes de contacto pode beneficiar em grande escala a vida de uma criança pré-adolescente e adolescente e libertá-la de certas restrições impostas pelo uso de óculos para a correção visual.

Neste sentido, o uso de lentes de contacto descartáveis diárias está altamente recomendada pela simplicidade e facilidade de utilização.

Por vezes a dificuldade de aceitação das lentes de contacto como um método prático para corrigir problemas de visão pode estar relacionada com mitos, ou neste caso, com a subestimação das capacidades infantis. No entanto, já foi demonstrado que cerca de nove em dez crianças pré-adolescentes consideraram a limpeza e a manipulação de lentes de contacto fácil, assim como também está provado que as crianças apresentam níveis de higiene e de cuidados com as lentes de contacto iguais ou superiores aos adultos.