Embora fatores como a embriaguez, a velocidade, as condições do piso, do tempo, a carga do carro, o tipo de pneus e vários outros possam ser determinantes no momento do acidente, há comportamentos que todos podemos adotar de forma a tentar minimizar, ao máximo, os riscos.

Tome nota

  1. Sentar de forma correta: conduzir só com um braço leva a que haja uma maior tendência para inclinar o corpo. Por outro lado, os outros passageiros, que tentam encontrar uma posição mais confortável, por exemplo para dormir, acabam por fazer o mesmo. Estar com a cabeça deitada e o corpo contorcido no momento do embate é grave.
  2. Postura correta: a coluna deve estar totalmente apoiada no banco, com as pernas e braços levemente flexionados. Deve segurar o volante com as duas mãos.
  3. A parte superior do corpo deve estar inclinada para trás até formar, aproximadamente, 110° em relação à parte inferior do corpo uma vez que se o banco do condutor estiver muito deitado, ele ficará mais vulnerável caso exista uma colisão. "O condutor deve estar na posição correta para que o encosto de cabeça absorva o impacto causado pelo efeito chicote." destaca Luís Teixeira.
  4. Fazer pausas a cada duas horas e alongar o corpo: válido para todas as viagens longas mas também para quem trabalha sentado o dia todo – a possibilidade de hérnia discal é maior, pela sobrecarga lombar.

Durante o ano de 2014, mais de 39 mil portugueses ficaram feridos na sequência de acidentes de viação, de acordo com dados recolhidos pela PORDATA. Os números, que incluem pessoas impactadas pelo veículo, e não apenas aquelas que nele viajam, multiplicam-se. Em época de festas, a tendência acentua-se mas o que muita gente não sabe é que o número de feridos ligeiros esconde muitas vezes problemas sérios para a coluna vertebral.

Já ouviu falar de chicote cervical? É, muitas vezes, associado a colisões de menor importância e aos chamados “feridos ligeiros”, podendo chegar a atingir quase 30% dos sinistrados. “O nome é dado ao processo mecânico de hiperflexão e hiperextensão bifásicas. O que acontece é uma compressão dos músculos do pescoço de um lado, enquanto se distendem do oposto, voltando de imediato à sua posição inicial, tal como quando agitamos um chicote”, explica o cirurgião ortopédico Luís Teixeira

Frases como “senti um embate na parte de trás do carro”, “travei de repente” ou “foi só o susto” estão geralmente associadas a este mesmo quadro. “Quando o pescoço volta ao normal, a pessoa tem a sensação de que nada aconteceu. Sentiu o impacto, pode até ficar dorida, mas a consequência julga-se sempre passageira. É exatamente aqui que ocorre o erro”, continua o especialista.

O “chicote cervical” é frequente não só em quem conduz, mas também nas restantes pessoas dentro do veículo, causado por qualquer embate. Mais uma vez, os mais novos estão sujeitos a maiores consequências. “Nas crianças, a desproporção entre cabeça e tronco é mais forte, pelo que os danos nas estruturas que compõem o pescoço, tanto na musculatura como em alguma vértebra que pode fraturar por esmagamento, podem passar com maior facilidade da simples entorse a quadros clínicos mais graves”, refere luis Teixeira.

No entanto, e mesmo quando falamos de entorse, a recuperação é lenta pela imobilização que exige. “Nos quadros clínicos mais simples, falamos de dor muscular e de alguma rigidez na zona afetada, explicada pelo nosso próprio organismo que tenta mantê-la o mais imóvel possível, de forma a controlar os danos. Mas não devemos, nem podemos minimizar este tipo de consequências, até porque a sua deteção nem sempre é fácil – a própria pessoa afetada desvaloriza e deixa o tempo passar”. Explica o também presidente da associação Spine Matters – Proteja a sua coluna.

Dores de cabeça, tonturas, desequilíbrio, náuseas, formigueiro nos braços e mesmo mudanças de humor face à frustração da permanência dos sintomas, aparentemente sem explicação, são outros dos resultados a esperar, chegando a permanecer meses e com impacto direto nas esferas laboral e social.

Por Luís Teixeira, Médico e Cirurgião Ortopédico